OS PAÍSES E SUAS RESERVAS ESTRATÉGICAS
DAS ROTAS QUINHENTISTAS DAS ESPECIARIAS E DA PEDRARIA ÀS ROTAS ATUAIS DOS COMBUSTÍVEIS E DOS MINERAIS DE ALTA TECNOLOGIA
São Paulo, dezembro de 2003 (Revisado em 18/02/2024)
As Reservas Estratégicas dos Países do Terceiro Mundo, Reservas Minerais versus Reservas Monetárias. Matérias-Primas - Importações e Exportações - Balanço de Pagamentos. Fontes de Energia Elétrica - Eólica, Hidrelétrica, Solar, Combustíveis Fósseis - Petróleo, Gás Natural, Carvão Mineral (Hulha), Carvão Vegetal. Minérios.
Por Américo G Parada Fº - Contador - Coordenador deste COSIFE
1. RESERVAS MINERAIS VERSUS RESERVAS MONETÁRIAS
1.1. AS VERDADEIRAS RESERVAS ESTRATÉGICAS DO TERCEIRO MUNDO
As verdadeiras reservas estratégicas dos países não estão representadas por Reservas Monetárias; são as Reservas de Minerais de alto consumo, as diversas fontes de energia exportáveis e a capacidade de produção agropecuária.
Obviamente, as exportações dos minérios e dos demais produtos serão transformadas em Reservas Monetárias (em dólares, euros e outras moedas estrangeiras nos casos de negociação direta com outros países). Por isso, é mais importante ter o que exportar. Esse é problema enfrentado pelos países desenvolvidos. Eles não têm o que exportar a preços competitivos nesse mercado globalizado criado pelos neoliberais a serviço dos controladores das multinacionais.
Voltando-se no tempo, podemos verificar que desde os descobrimentos marítimos o Terceiro Mundo (o colonizado) tornou-se o esteio do Primeiro Mundo. Com as matérias-primas obtidas nas Rotas Quinhentistas descobertas por Portugal, alguns países europeus fizeram a sua revolução industrial a partir do século XVIII.
Acomodados, os monarcas de Portugal e Espanha deixaram que outros países fizessem a revolução industrial com a utilização dos produtos primários obtidos em suas colônias. A mentalidade dos ibéricos daquela época era a mesma que se observa atualmente nos grandes empresários brasileiros que, tal como os antigos faziam, ainda preferem exportar matérias-primas e importar os produtos industrializados diante da premissa de que o produzido por estrangeiros é sempre melhor que o produzido por brasileiros. Trata-se de enorme demonstração de preconceito e discriminação (segregação racial e social).
Depois de conseguidas as suas respectivas independências, as antigas colônias tornaram-se vítimas do Neocolonialismo, que tinha como representante no Brasil os principais membros da nossa elite econômica e intelectual. O mesmo aconteceu nos demais países colonizados, razão pela qual o Terceiro Mundo continuou sustentando o Primeiro Mundo e, depois,os Estados Unidos e o Japão até o final do Século XX.
Até ali, os países do Terceiro Mundo viviam atolados em dívidas. Porém, neste novo século os endividados são os antigos industrializados e os demais países do Primeiro Mundo.
Tal como fizeram Portugal e Espanha no século XVIII, que se acomodaram, a partir da década de 1970 os Países Industrializados também se acomodaram. Seus governantes deixaram o desenvolvimento das Nações por conta dos controlados das grandes empresas, agora chamadas de multinacionais ou transnacionais. Aproveitando-se da inércia governamental, essas grandes empresas deixaram de pagar tributos porque transferiram suas fábricas para paraísos fiscais industriais asiáticos e as sedes virtuais das empresas para paraísos fiscais cartoriais, que registram somente as empresas Offshore.
1.2. AS RESERVAS MONETÁRIAS NO BALANÇO DE PAGAMENTOS
Informações complementares sobre as reservas monetárias, veja o texto denominado Balanço de Pagamentos que é oriundo da Contabilidade Nacional.
Porém, é importante destacar que:
Os minérios exportados pelo Brasil, especialmente o ferro, viajam por ferrovias do interior até os nossos portos e dali, embarcados em navios, cruzam os oceanos para serem industrializados na Inglaterra, no Japão, nos Estados Unidos, entre outros países.
Depois, um milésimo do minério exportado, volta ao Brasil industrializado em pagamento de nossas exportações. Desse jeito o Brasil tem gerado empregos no exterior e vem pagando elevados preços pelos fretes marítimos geralmente abocanhado por empresas estrangeiras. Em suma, pouco sobra para nós. Por isso, nosso país sofre de crônica Acumulação Entravada ou Estagnação Econômica, seu PIB - Produto Interno Bruto não cresce porque continua gerando empregos no exterior e os lucros das empresas estrangeiras também são exportados. Aqui ficam somente as sucatas para cá remetidas como bens de produção que se tornaram obsoletos no exterior.
Era exatamente desse modo que acontecia o neocolonialismo, visto que, por mais que o Brasil exportasse produtos primários, nunca conseguia pagar a sua Dívida Externa periodicamente renovada desde a nossa falsa Independência. Falsa porque a Inglaterra substituiu Portugal como país colonizador. Depois, os Estados Unidos desbancaram a falida Inglaterra.
Antes de 2003, as nossas parcas reservas monetárias eram oriundas de empréstimos concedidos pelo FMI - Fundo Monetário Internacional.
Embora o Brasil sempre tenha sido grande exportador, com suas exportações em volume bem maiores que as importações, não existiam reservas monetárias porque eram imensas as remessas de lucros por intermédio do subfaturamento das exportações efetuadas por empresas estrangeiras. Essa era outra forma de nos aplicar aquele novo tipo de sistema colonialista que foi denominado como neocolonialismo (colonialismo econômico).
1.3. OS SUPERÁVITS NO BALANÇO DE PAGAMENTOS E AS RESERVAS MONETÁRIAS
Neste século XXI as coisas melhoraram para o nosso lado.
Com a implantação da Globalização dos Mercados, os governantes enganados pelos neoliberais esperavam que o neocolonialismo perdurasse por mais 500 anos. Porém, a partir da década de 1970 os mais espertos controladores das grandes empresas as transferiram para paraísos fiscais, assim decretando a Falência do Sistema Tributário Mundial.
Principalmente neste século XXI, em razão da baixíssima arrecadação tributária, oriunda da recessão causada da falta de produção e de exportação, geradora de desemprego em massa (com assustador o aumento da inadimplência), que na Europa foi chamada de AUSTERIDADE, os países tidos como ricos e desenvolvidos chegaram à bancarrota. A Especulação Imobiliária nos STATES (e o SUBPRIME = garantia super-avaliada) provocou a Crise Mundial de 2008, o que fortaleceu os países do Terceiro Mundo (colonizados e depois neocolonizados), visto que têm as reservas minerais e os alimentos que os países do Hemisfério Norte Ocidental (falidos membros da OTAN) mais necessitam para sobreviver.
Em razão desses fatos, em 2011 o Brasil estava colocado como 6º país em Reservas Monetárias acumuladas, somente atrás de China, Japão, Soma das Reservas dos Países da Zona do Euro, Rússia, Arábia Saudita e Taiwan. Ainda em 2011, atrás do Brasil estavam Índia, Coreia do Sul, Hong Kong, todos os países europeus (individualmente) e os Estados Unidos da América.
O sucesso brasileiro foi motivado pela desvalorização da nossa moeda de pois da criação do REAL,que assim aumentou as nossas exportações de produtos industrializados e reduziu bastante as nossas importações de produtos supérfluos, geralmente consumidos pelas famílias mais ricas.
1.4. A PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA E AS RESERVAS MONETÁRIAS
No caso da agricultura e pecuária, conforme descreveu Pero Vaz de Caminha em sua carta para a monarquia portuguesa, o Brasil sempre foi o país com melhores condições climáticas e com maior extensão territorial cultivável, bastante apropriada para a prática da pecuária, ambas exploráveis com custos reduzidos.
Na área agrícola o Brasil também possui importantes projetos de substituição de combustíveis fósseis como o do álcool da cana-de-açúcar (etanol) e o do chamado biodiesel produzido a partir de óleos vegetais para ser utilizado como combustível em caminhões e locomotivas (motores a Diesel) .
A pecuária brasileira tem o menor custo de produção em razão da imensas áreas usadas como pasto (pastagem).
Veja em Oportunidades no Comércio Exterior - Cenário Econômico Mundial - O Brasil como Celeiro do Mundo
1.5. A PRODUÇÃO DE MINÉRIOS E AS RESERVAS MONETÁRIAS
Entre os minérios estratégicos de alto consumo de uso mundial estão principalmente o ferro associado a outros metais e o carvão (hulha), necessários para produção do aço. Por sua vez, o cobre é importante na transmissão de energia elétrica.
O carvão mineral brasileiro não é dos melhores, mas pode ser substituído pelo carvão vegetal e pela pelotização de restos de vegetais como a serragem das madeireiras, os resíduos de florestas e o bagaço da cana-de-açúcar.
O carvão mineral e o petróleo extraído do xisto betuminoso são altamente poluentes, porque têm grande quantidade de outros minerais em sua composição. Por isso a queima do carvão mineral, por exemplo, gera grande quantidade de fumaça, tal como geraram recentemente as erupções de vulcões no Chile e na Islândia.
É importante salientar que a partir de 2003 as exportações brasileiras de minérios, especialmente de Carajás (no Pará), associadas às exportações de produtos agrícolas e pecuários (agronegócio) alavancaram as Reservas Monetárias brasileiras. A grande vantagem do Complexo de Carajás é que possui uma grande hidrelétrica cuja energia pode ser utilizada no fabrico do alumínio, que no Brasil tem o menor Custo de Produção de todo o mundo. A ampla região também é propícia ao reflorestamento para produção de carvão para produção de ferro gusa nas siderúrgicas próximas. Assim, Carajás também transforma-se em imenso complexo industrial.
Sobre a exploração dos minérios no Brasil, veja o texto sobre a Privatização da Companhia Vale do Rio Doce, que está entre as principais empresas mineradoras existentes na face do planeta Terra.
Veja ainda o texto intitulado Amazônia, Cobiça e Ingenuidade e o denominado Governando Contra o Brasil - Incentivo Fiscal à Exaustão das Reservas Minerais Brasileiras, em que se fala sobre as medidas tomadas pelo Governo Militar iniciado em 1964 para aumentar a exportação de minérios.
Veja também o texto sobre A Atuação das Multinacionais Mineradoras e a exploração do trabalho em regime de semiescravidão.
1.6. PRODUÇÃO BRASILEIRA DE MANGANÊS
O Brasil é um dos maiores produtores de ferro e já foi de manganês, sendo que o da Serra do Navio no Amapá foi totalmente exportado para os Estados Unidos.
Sobre o Manganês como reserva estratégica brasileira, veja o texto Quando um recurso estratégico não é tão estratégico
1.7. COLTAN = COLUMBITA + TANTALITA
Veja o texto denominado O Retorno do Colonialismo em que se discorre sobre o minério denominado coltan (uma mistura de columbita [nióbio] e tantalita [tântalo]) usado na informática, que é extraído no Zaire, atual República Democrática do Congo, antigo Congo Francês, que tem fronteiras ao norte com a República do Congo, antigo Congo Belga, e ao sul com Angola (ex-colônia de Portugal).
1.8. NIÓBIO, O OURO AZUL
No Brasil, as campanhas de ambientalistas e de órgãos governamentais consideram a água como o verdadeiro Ouro Azul. Porém, pelo mundo afora o Ouro Azul é o Nióbio citado no tópico anterior. Na África o Nióbio é extraído do COLTAN.
Em razão de sua importância, o NIÓBIO alcançou elevado preço no mercado internacional a ponto de ser considerado como "OURO AZUL".
Atualmente o Brasil possui 68% das reservas mundiais de nióbio, que é essencial na produção do aço inoxidável. Outros dizem que as reservas de nióbio no Brasil podem alcançar a 90% das conhecidas em todo o mundo.
A página do Wikipédia, acima endereçada, explica quais são as demais aplicações do Nióbio.
1.9. PRINCIPAIS FONTES DE ENERGIA
No que se refere às fontes de energia estão os:
1.10. O PETRÓLEO E A ECONOMIA DE RESERVAS MONETÁRIAS
É importante salientar que o Brasil tem economizado elevadas reservas monetárias depois que se tornou autossuficiente na exploração e no refino de petróleo. E tem exportado o petróleo industrializado na forma de gasolina e também o etanol extraído da cana-de-açúcar.
Depois da descoberta do Pré-Sal, em 2006, brevemente o Brasil pode se tornar o maior exportador de petróleo. Em 2015 já extraía 700 mil por dia na área do Pré-Sal.
A Petrobras detém a mais avançada tecnologia para obtenção de petróleo em águas profundas. Por isso, tornou-se importante a aquisição de refinarias de petróleo no exterior (como a de Pasadena, para refino do petróleo extraído pela Petrobras no Golfo do México) e a construção de pólos petroquímicos para que o Brasil deixe de exportar apenas matérias-primas, passando a exportar produtos industrializados.
Relativamente ao preço pago pela Refinaria de Pasadena, veja o texto intitulado A Avaliação Patrimonial e o Fundo de Comércio. Veja também O Que os Oposicionistas Mercenários da Mídia Não Publicam - sobre a Refinaria de Pasadena.
1.11. ENERGIA EÓLICA E SOLAR
Veja no site da CRESESB os tutorias sobre Energia Eólica e Energia Solar. Assista vídeos do Youtube sobre a Energia Eólica.
Veja também a matéria de 07/10/2011 sobre a GE General Eletric que fabrica geradores de energia eólica em Contagem - MG, que estão sendo instalados em João Câmara - RN; as hastes e as pás das hélices são fabricadas pela empresa Tecsis (Sorocaba - SP) há mais de duas décadas e exportadas pelo porto de Santos - SP para vários países (como a Tecsis só produzia para exportação, o site é em inglês).
1.12. O PROBLEMA CAUSADO PELA CORRUPÇÃO DE DOENTES MENTAIS
Como sempre acontece, desde o nosso Grito de Independência, os nossos oligarcas e os grandes empresários que atualmente participam de licitações públicas tendem a gerar desordem interna mediante a corrupção de servidores públicos e políticos megalomaníacos (verdadeiros doentes mentais porque a megalomania é uma psicopatia).
Para incremento da desordem política e institucional, esse tipo de empresário inescrupuloso utiliza-se de importantes lobistas corruptores, que muitas vezes foram ex-dirigentes públicos que colocaram em seus órgãos de atuação uma importante hierarquia de apadrinhados, que assumem aquela indesejável e impatriótica função, geralmente desempenhada pelos corruptos.
Dessa forma os mencionados escravocratas, que são os verdadeiros inimigos do povo brasileiro, tentam eternizar os nossos trabalhadores como meros serviçais dos interesses imperialistas e colonizadores dos países desenvolvidos. Por isso, os defensores desses interesses escusos estão querendo denotar a Petrobras, assim como fizeram com as demais empresas estatais privatizadas.
1.13. OS IMPASSES ECONÔMICOS BRASILEIROS
Além dos problemas já mencionados, o Brasil ainda apresenta problemas crônicos que precisam ser resolvidos. Uma velha discussão desses problemas econômicos está no texto intitulado Os Impasses Econômicos Brasileiros.
Como pode ser observado no texto endereçado, infelizmente as teorias econômicas condenam o Brasil e os demais países do Terceiro Mundo a serem os eternos colonizados.
Se as Teorias Econômicas fossem impingidas por meio de leis, poderíamos dizer que os países hegemônicos legislaram em causa própria.
Isto é, os Países Hegemônicos fizeram as Teorias Econômicas em proveito de si mesmos.
2. AS ROTAS MARÍTIMAS DESCOBERTAS POR PORTUGAL E O NEOCOLONIALISMO
Por Américo G Parada Fº - Contador - Coordenador do COSIFE
2.1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
O que realmente se quer mostrar aqui é o interessante texto escrito por Luís Aires-Barros - Professor Catedrático do Instituto Superior Técnico - Lisboa - Portugal (com NOTAS DO COSIFE), em que ele mostra a importância das quinhentistas rotas marítimas descobertas por Portugal e a capacidade de produção de minérios de muitas das antigas feitorias portuguesas.
No citado texto o autor menciona que no cenário dos produtores de minérios não energéticos, o Brasil figurava em oitavo lugar, numa relação em que não aparecem o Japão e nem os países da Europa.
Observe-se que o texto foi escrito em dezembro de 1989 e que em dezembro de 2003, quando esta página foi originalmente escrita, completou 14 anos. Porém, o escrito por aquele professor não pode ser considerado desatualizado, tendo em vista que as mudanças foram poucas, exceto no que se relaciona à produção agropecuária, sobre a qual não se manifesta e também não, sobre os recursos hídricos, eólios e solares.
No Brasil, de 1989 para cá, aconteceram mudanças significativas porque entrou em operação o complexo minerador de Carajás e neste século XXI tornou-se possível a exploração do petróleo do Pré-Sal.
É importe destacar que os portugueses atualmente buscam o reconhecimento da importância do seu país naqueles áureos tempos, o que é inegável.
A grande verdade é que Dom João VI tentou eternizar o poderio econômico do Portugal daquela época. Mas, a sua intenção de transformar o Brasil como sede do Reino Unido a Portugal não foi plenamente aceita pelos lusitanos.
A Corte portuguesa preferia manter o Brasil como mera colônia, o que gerou o movimento separatista que levou Dom Pedro I a bradar o Grito de Independência em 7 de setembro de 1822.
Com a separação política e econômica dos dois países, Portugal foi perdendo seu prestígio e também sua riqueza. Hoje em dia a economia portuguesa é insignificante quando comparada à brasileira. Já era assim quando foi bradado o Grito do Ipiranga. Naquela época Portugal era totalmente dependente das mercadorias e dos tributos obtidos no Brasil.
O mesmo aconteceu com os demais países europeus proprietários de colônias na América, na África e na Ásia.
2.2. O TEXTO DO PROFESSOR LUÍS AYRES BARROS
Vejamos o que diz o texto do Professor Luís Ayres Barros
No mundo dos nossos dias (ano de 1989), o abastecimento dos países industrializados, quer a CEE - Comunidade Econômica Europeia (ainda não existia a União Europeia), quer a América do Norte, quer ainda o Japão, para só falar nas potências marítimas, depende fortemente das regiões da África (ao sul do Equador) e das regiões limítrofes do Golfo Pérsico para o seu aprovisionamento em recursos naturais minerais e energéticos. Sendo assim, é curioso verificar como vários pontos nodais planetários, antes explorados pelos portugueses e depois apossados pelos britânicos.
NOTA DO COSIFE:
NEOCOLONIALISMO
As colônias inglesas e de outros países europeus ainda existentes depois da segunda guerra mundial, com a interferência dos Estados Unidos, conseguiram suas respectivas "independências" a partir da década de 1950.
Porém, estas antigas colônias continuaram a manter as suas características básicas de fornecedores das materiais-primas essenciais às chamadas grandes potências capitalistas e tiveram vários governos ditatoriais financiados por tais potências. Daí fica uma pergunta no ar:
Por que os países totalmente dependentes dos principais minérios continuam a ser grandes potências mundiais?
A resposta é simples: o colonialismo não acabou, apenas mudou de forma. Passou a ser chamado de neocolonialismo. Este não se destaca pelo domínio político outrora existente, mas sim pelo domínio econômico.
Extrapolando o simples domínio econômico, tem-se destacado a supremacia bélica dos Estados Unidos com a invasão do Iraque em 2003. As demonstrações de poderio militar também aconteceram em suas ações anteriores na Coreia, no Vietnam, no Irã e direta ou indiretamente em outros países. A independência dos países do Terceiro Mundo foi somente uma forma de fazer o colonialismo mudar de mãos.
Observe que o contido no parágrafo anterior foi escrito em 2003. A partir de 2008, diante da Crise Mundial provocada pela bancarrota (falência econômica) dos Estados Unidos e em 2011 de vários países europeus, ficou claro que somente os países que tenham reservas minerais podem ser considerados ricos.
Outros países, principalmente os asiáticos, se destacaram por oferecerem mão de obra barata, que trabalha em regime de semiescravidão. Os países asiáticos também são enormemente dependentes dos minérios vindos dos tradicionais produtores situados no Oriente Médio, Oceania, Cone Sul Africano e América do Sul.
Observe ainda que os principais países fornecedores de minérios estão no Hemisfério Sul, exceto os do Oriente Médio.
Os países do Hemisfério Norte, considerados desenvolvidos ou com o muito elevado IDH - Índice de Desenvolvimento Humano, a partir de 2011 estão falidos, com raras exceções.
Voltando ao texto principal, o catedrático português escreveu:
Para enfatizar adequadamente a sensibilidade daquilo que na nomenclatura anglo-saxônica se designa hoje por pontos de estrangulamento da veia jugular que alimenta o dipolo USA/CEE e da sua derivante que flui até às ilhas nipônicas, apresentam-se alguns quadros de produção de recursos naturais minerais e energéticos que falam por si (veja os Quadros I a IV a seguir).
2.3. PRODUÇÃO MINERAL NÃO ENERGÉTICA
Comecemos por analisar a geografia da produção mineral não energética (Quadro I).
NOTA DO COSIFE:
Veja que no Quadro I não figura nenhum país da Comunidade Econômica Europeia (CEE), nem o Japão, países estes que também são altamente dependentes da produção de minerais energéticos e que são considerados potências mundiais.
O Chile aparece antes do Brasil em razão da sua concentração na produção de cobre.
Observe também que estes dez países detêm 70% da produção mundial de minérios não energéticos.
Como esses dados são da década de 1980, não constam as importantes jazidas de minérios descobertas no Brasil desde aquela época.
Além dos dois primeiros gigantes (um deles a antiga URSS, autossuficiente em dilatado número de minérios), salientam-se os novos países, aos quais o século XXI assegura futuro promissor: a RAS (República da África do Sul), o Canadá e a Austrália. Em seguida estão cinco países tropicais com 12% da produção mundial.
2.4. RECURSOS MINERAIS ENERGÉTICOS
Analisando agora a produção dos recursos minerais energéticos de que a CEE e o Japão são particularmente carentes, verificamos como os países do Médio e Extremo Oriente se apresentam como fontes privilegiadas para os hidrocarbonetos, sendo relevantes as posições da China (na hulha = carvão mineral e no gás natural) e da África Austral (Cone Sul Africano) para urânio e o carvão (Quadro II).
NOTA DO COSIFE:
Veja que no caso do PETRÓLEO BRUTO a antiga URSS figurava como primeiro produtor mundial com 19% do total, que os três primeiros colocados (URSS, USA e Arábia) tinham 47% do total e que os cincos primeiros, onde também estavam o Irã e o Iraque, produziam 60% do total.
O Brasil só se tornou autossuficiente em Petróleo neste século XXI, quando também começaram produzir jazidas descobertas no Pré-Sal.
A Europa aparece como grande produtor apenas de carvão mineral com 12% da produção, a metade do que produzia a China.
2.5. OUTROS MINERAIS NÃO ENERGÉTICOS
Vamos completar os elementos do Quadro II com um quadro similar, englobando um conjunto de produtos minerais não energéticos em que, ao lado dos sete principais metais essenciais à nossa civilização tecnológica (Al - alumínio, Cu - cobre, Sn - estanho, Fe - Ferro , Ni - Níquel, Pb - chumbo e Zn - Zinco), se adiciona o Cr - cromo (crómio em português de Portugal) e o W - tungstênio, bem como o Au - ouro, a Pt - platina e os diamantes.
NOTA DO COSIFE:
Para que se possa entender a tabela acima, no caso dos DIAMANTES, o Zaire (atual República Democrática do Congo - ex-Congo Francês - ao lado de Angola) é o 1º produtor mundial com 34% da produção total.
Os três primeiros colocados, que são o Zaire, a URSS e a RAS - África do Sul, produzem 88% da produção total, sendo a Botsuana a 4ª colocada e a Namíbia a 5ª.
2.6. PRINCIPAIS PAÍSES TOTALMENTE DEPENDENTES DE MINÉRIOS IMPORTADOS
É interessante averiguar qual a dependência das grandes zonas econômicas e geopolíticas em relação a minérios importantes. Os dados correspondentes estão reunidos no QUADRO IV.
Estes valores mostram, de modo saliente, como as potências marítimas da nossa época são fortemente dependentes das regiões produtoras de matérias-primas cujo transporte tem de ser feito por via marítima.
NOTAS DO COSIFE:
CEE é a Comunidade Econômica Europeia (é a atual Zona do Euro) e o COMECON, a Comunidade formada pelos países socialistas liderados pela Rússia.
Note que os países do COMECON são em média menos dependentes dos minérios mais importantes do que os Estados Unidos, o Japão e os países europeus.
Este pode ser considerado o mais importante quadro estatístico dos até aqui apresentados. Por quê?
Porque da década de 1980 para cá diversas novas jazidas minerais foram encontradas na América do Sul e na África. O mesmo não aconteceu no Hemisfério Norte. Assim sendo, a lista de países produtores de minérios pode ter mudado significativamente.
Porém, as necessidades dos países desenvolvidos não diminuíram, pelo contrário, aumentaram. Por isso vêm enfrentando dificuldades financeiras graves principalmente a partir de 2008.
Da análise dos valores dos quadros apresentados é notavelmente saliente a importância dos países que limitam o Oceano Índico como fornecedores de matérias-primas e produtos energéticos. A Arábia, o Irã e o Iraque para o petróleo; a África Oriental e Austral para inúmeros minérios, mais o carvão (hulha) e o urânio; a Tailândia, a Malásia e a Indonésia para o estanho; a Índia para o manganês; a Austrália para o molibdênio, o chumbo, o zinco e o urânio.
2.7. OS MINÉRIOS PASSEANDO DE NAVIO PELO MUNDO AFORA
O aprovisionamento em recursos minerais energéticos e não energéticos dos países da Europa (CEE e outros da Europa Central), bem como da América Atlântica é feito pela rota chave da circulação mundial da energia e de boa parte das matérias-primas - a rota do Cabo - África do Sul. A terceira potência marítima em questão - o Japão - usa largamente a rota que cruza o estreito de Malaca (entre a Indonésia [Sumatra]e a Malásia). Se atentarmos na Fig. 1 teremos uma imagem bastante aproximada da circulação no Índico com as duas rotas divergentes: a do cabo que bifurca para a Europa e para as Américas atlânticas e a de Malaca-Japão que abastece este país altamente industrializado.
Mostra ainda a mesma figura como é relativamente discreta a circulação de produtos energéticos pelo Pacífico.
A maior parte do petróleo vindo do oriente médio vai para a Europa, para o Japão e os Estados Unidos.
O petróleo da Rússia vai preferencialmente para a Europa, enquanto que os fornecedores dos norte-americanos estão espalhados pelo mundo: o oriente médio, a Venezuela, o Alaska, a Indonésia e os países africanos.
A análise em pormenor do circuito mundial da energia e das matérias-primas, bem como dos produtos alimentares, mostra à sociedade a atual importância dos estrangulamentos do Índico e do Atlântico, todos eles com passado português importante, o que mostra a constância da sua relevância estratégica nos últimos 500 anos.
É o caso dos estreitos de Ormuz e de Bad-el-Mandeb, sempre em foco já que estão em jogo os riquíssimos jazigos petrolíferos da Arábia Saudita e do Irã e Iraque. A Malásia, Tailândia e Indonésia asseguram cerca de metade da produção mundial de estanho. Quanto ao manganês, fora da URSS e do Gabão, os principais produtores são a Índia, a Austrália e a RAS. O seu escoamento para as potências atlânticas (europeia e americana) e para o Japão segue a rota do petróleo. O carvão (hulha) e o urânio, bem como metais raros e estratégicos, seguem os mesmos percursos.
Resulta do exposto que o denominado mundo marítimo (Europa da CEE, Américas - USA e Brasil - e Japão) dependem fortemente do Sudoeste Asiático e da África Austral (englobando a RAS, o Zaire, a Zâmbia, o Zimbabué, Angola e a Namíbia).
Desde os longínquos tempos em que os navegadores lusos exploravam as rotas do Índico em busca das especiarias, da pedraria, da seda e do ouro e os carreavam pela rota do Cabo para a Europa, se tornaram cabeças da estratégia geopolítica, aproveitadas pelas potências marítimas, as fortalezas (feitorias) com que os portugueses polvilhavam os litorais que tocaram. Hoje em dia, o mar continua a ser via privilegiada, a mais econômica para comerciar. É por mar que se faz cerca de 75% do comércio mundial.
As especiarias e outras riquezas da época dos descobrimentos são hoje substituídas pelos hidrocarbonetos do Sudoeste Asiático e pelos minerais estratégicos da África Austral, já que o interesse na pedraria e no ouro é constante ao longo da História.
NOTA DO COSIFE:
Devemos notar dois fatos interessantes:
1) - que os países produtores de matérias-primas continuam pobres, significando que os produtos vendidos por eles não estão sendo suficientemente remunerados;
2) - que o ouro e as pedrarias são símbolos de riqueza e não servem praticamente para nada. São como colecionar caixas de fósforos de diversas procedências, selos filatélicos não utilizáveis, canetas que não mais escrevem ou carros antigos que não mais conseguem trafegar pelas cidades ou rodovias.
Os citados minerais de valor simbólico não mais podem ser utilizados como ornamentos e assim poderiam ser facilmente descartados, se considerarmos o perigo de sua utilização diante da onda de assaltos por parte dos miseráveis em todo mundo, que se tornam criminosos diante da ilusão de obtenção da falsa riqueza espelhada por esses símbolos praticamente inúteis.