A INFLAÇÃO E A CONTABILIDADE DE CUSTOS
A INFLAÇÃO PROVOCADA PELA EXPECTATIVA E PELO ABUSO DO PODER ECONÔMICO
São Paulo, 22/03/2011 (Revisado em 21/03/2024)
Especulação, Inflação de expectativa, indústria enfrenta alta dos custos de produção e tem dificuldade em repassar para preços. Lei 4.137/1962 e Lei 8.884/1994 – Prevenção e Repressão ao Abuso do Poder Econômico. CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica. O Fantasma da Inflação Novamente. Crimes contra a economia popular, contra as relações de consumo e contra a ordem econômica e tributária.
Por Américo G Parada Fº - Contador - Coordenador do COSIFE
1. A INFLAÇÃO PROVOCADA PELA EXPECTATIVA E PELO ABUSO DO PODER ECONÔMICO
Esta primeira parte foi revista e atualizada para republicação em 10/10/2021 sob o título A Inflação Provocada pela Expectativa e pelo Abuso do Poder Econômico.
2. INDÚSTRIA ENFRENTA ALTA DE CUSTOS, MAS TEM DIFICULDADE EM REPASSAR PARA PREÇOS
Por Márcia De Chiara, para o Jornal "O Estado de S. Paulo". Texto publicado em 19/03/2011. Aqui com comentários e anotações esclarecedoras por Américo G Parada Fº - Contador - Coordenador do COSIFE.
Fabricantes de eletrodomésticos, eletroportáteis, veículos e máquinas chegam ao fim do primeiro trimestre do ano numa encruzilhada. De um lado, enfrentam fortes aumentos de custos, que vão do reajuste de salários acima da inflação à alta dos preços das matérias-primas de até 20%. De outro, continuam pressionados pela concorrência dos importados.
A alegação de que o reajuste dos salários é o principal causador da inflação é mera especulação preconceituosa contra os trabalhadores.
Os contabilistas especializados na CONTABILIDADE DE CUSTOS sabem muito bem que (em media, salvo nas empresas prestadoras de serviços) os gastos com empregados dificilmente ultrapassam a 3% do preço de venda dos produtos.
Todos aqueles profissionais especializados sabem ainda que os custos com salários nas indústrias dos países desenvolvidos são bem superiores aos das indústrias estabelecidas no Brasil. Justamente por esse motivo, dos custos serem mais baixos aqui, muitas empresas estrangeiras vêm produzir no Brasil ou procuram associações com empresas brasileiras para redução seus custos empresariais. Por isso, com base no capital investido, aqui no Brasil os lucros são em porcentual bem maiores que nos Países Desenvolvidos.
Mas, para que os lucros não sejam tributados aqui, as exportações são SUBFATURADAS; Assim, os lucros são contabilizados em paraísos fiscais.
Na Ásia, por exemplo, as multinacionais preferem produzir em países em que é livre a exploração do trabalhador em regime de semi-escravidão, prática esta defendida pelos economistas agraciados com o Prêmio Nobel de Economia em 2010.
Portanto, não são os salários os causadores da inflação, mesmo porque os salários sempre foram reajustados depois de acontecida a inflação.
A inflação verdadeiramente acontece em razão da ganância dos ganhos fáceis dos controladores das empresas e de seus executivos (capatazes). Os empresários varejistas são sempre as vítimas dos grandes empresários tal como são vítimas os empregados daqueles internacionais ou multinacionais.
O resultado desse jogo de forças é que as indústrias não conseguem repassar integralmente o aumento de custos para os preços ao consumidor.
[Claro, o salário médio do consumidor brasileiro é muito baixo quando comparado com o do consumidor nos países desenvolvidos. Assim sendo, se forem aumentados os preços ao consumidor no Brasil não haverá consumo].
Isso põe um pouco de água na fervura da inflação. Mas também reduz a competitividade e a rentabilidade da indústria. [Os patrões querem ganhar muito produzindo pouco].
“Desde 2008, antes da crise [provocada pela bancarrota dos Estados Unidos], não tínhamos tantos aumentos de custos simultaneamente” [manipulação dos preços de mercado; especulação], observa um empresário da indústria que não quer ser identificado.
[Não quer ser identificado porque está com medo das represálias de seus mesquinhos pares, que ficam aumentando preços indiscriminadamente, sem razões lógicas, apenas especulativas, para ficarem mais ricos em menor espaço de tempo].
[Entre os vilões da inflação estavam] as resinas plásticas, usadas em eletrodomésticos e carros, cujos preços subiram 20% este mês [março de 2011].
A representante do jornal esqueceu de perguntar aos empresários que percentual do preço de venda ao consumidor é gasto em resinas plásticas e com os salários dos operários.
Se fossem honestos, os empresários diriam que esses gastos são menores que 5% do preço cobrado do consumidor final. O gasto com a resina plástica seria de no máximo 1% do preço pago pelo consumidor final do produto.
Logo, o acréscimo de 20% no custo da resina plástica, multiplicado pelo custo de 1% da matéria-prima colocada no produto final, será a 20% multiplicado por 1% que é igual a 0,2%. Quase nada.
Eles enganam (com FAKE NEWS) quem nada sabe sobre CONTABILIDADE DE CUSTOS e sobre outros temas somente conhecidos por profissionais especializados (Contadores, Auditores e Peritos Contábeis.
Obviamente a articulista esqueceu de buscar essas informações junto ao CONTADOR da empresa jornalística para a qual trabalha.
Na lista de aumentos de custos também [estariam naquela época] o aço e alumínio, com 10%; o cobre, que subiu 25% desde outubro de 2010; os pneus, que serão reajustados em 10% em abril [de 2011]; e as embalagens de papelão ondulado, com aumentos de preços entre 6% e 7% previstos para abril ou maio [de 2011].
Nada no mundo tem seus preços aumentados tão rapidamente, de um dia para outro.
Portanto, trata-se de pura especulação, porque os empresários esperam o aumento de consumo interno e externo e assim querem se aproveitar da maior procura, para ganhar mais e mais rapidamente. Trata-se de ganância.
Mesmo sem inflação, eles geralmente reajustam o preço dos seus estoque pela taxa de juros vigente. E essa taxa de juros no Brasil sempre foi altíssima. O cálculo é efetuado com base nas OPERAÇÕES COMPROMISSADAS (OVER NIGHT) no OPEN MARKET.
Os empresários perdem o sono com os reajustes [feitos pelos seus pares com maior poderio econômico] porque não têm como driblá-los. Exceto os salários dos trabalhadores [para que sejam equiparados com os salários dos norte-americanos, japoneses e europeus, a média salarial no Brasil deveria ser aumentada em pelo menos 3 vezes], os demais preços são formados no mercado externo [mas, lá no exterior, segundo dizem, não há a geração artificial de inflação]. E, para complicar, há matérias-primas concentradas em poucos fabricantes [oligopólio - abuso do poder econômico].
“A maioria das 11,7 mil empresas do setor de plásticos são pequenas e médias e têm dificuldade para repassar os aumentos de custo da resina”, diz o presidente da Abiplast, José Ricardo Roriz Coelho. Em contrapartida, o fornecedor da resina é um só.
Portanto, trata-se de monopólio ou OLIGOPÓLIO - situação de mercado em que um só vendedor [CARTEL de vendedores] controla toda a oferta de uma mercadoria ou de um serviço com o açambarcamento de um mercado, para obtenção de preços altos; controle exclusivo de uma atividade, atribuído a determinada empresa ou entidade - abuso do poder econômico.
As explicações em itálico foram obtidas no Dicionário Aurélio Eletrônico.
Rui Chammas, vice-presidente da Braskem, que comprou a Quattor e produz resinas plásticas, diz que elevou os preços, mas não confirma o porcentual. Segundo ele, a alta do petróleo pressionou a indústria química e de derivados. Mas pondera que, após o tremor no Japão, o cenário de preços é incerto.
Logo, de acordo com o explicado acima, o aumento de preço é meramente especulativo. Está aumentando o preço por conta de algo que pode acontecer ou não. Se não acontecer, transformasse em lucro certo.
Note o absurdo de poder econômico alegado pelo executivo à reportagem do "Estadão".
O executivo não sabe que o Japão não é produtor de matérias-primas. Não sabe que o Japão é mero vendedor de mão-de-obra para uso na industrialização de matérias-primas importadas.
O Japão, assim como os Estados Unidos e os países CEE – Comunidade Econômica Europeia importam matérias-primas para transformá-las em produtos acabados tal como a empresa que ele “administra”. Isto assim acontece desde a Revolução Industrial Inglesa.
Nitidamente o citado executivo nada sabe ou cinicamente enganou a articulista do ESTADÃO.
Portanto, o terremoto e o maremoto sofridos pelo Japão nada têm a ver com o aumento de preços das matérias-primas. Todos sabem que o Japão é grande importador de matérias-primas. Dessa forma, o aumento de preços é pura especulação de mal intencionados.
Grande parte das matérias-primas compradas por aqueles mencionados países saem do Brasil e de outros países distantes (países do Terceiro Mundo), razão pela qual chegam ao seu destino muitas vezes pelo dobro de seu preço FOB, porque o preço do frete é pago pelo importador.
Como a empresa dele está no Brasil, está perto da região produtora das matérias-primas, logo o seu custo de produção é menor. O preço da matéria prima que chegou no Japão (saindo do Brasil) só será maior no Japão em razão de ter viajado por volta de 40 mil quilômetros até chegar lá.
Assim sendo, as empresas estrangeiras sofrerão mais, o que aumentará o preço dos importados pelo Brasil e assim facilitará a competitividade das empresas brasileiras no mercado exterior. O Brasil paga o preço de ida e volta pelo transporte. Os empresários brasileiros que exportarem o produzido aqui com a mesma matéria prima só terão contra si o preço do frete pela ida.
O grande problema é que os executivos preconceituosos e discriminadores querem sempre cobrar mais dos brasileiros, que têm em média baixos salários em comparação com os pagos nos países desenvolvidos.
Isto é um sinal de que continuamos como vítimas do NEOCOLONIALISMO imposto pelos ingleses desde o nosso falso Grito de Independência que dizem ter acontecido em 1822..
O movimento de alta se repete no aço. “As siderúrgicas começaram a retirar os descontos na faixa de 10% por causa da entrada do aço importado”, diz o ex-presidente do Inda, que reúne os distribuidores de aço, Christiano da Cunha Freire. A Usiminas, por exemplo, reajustou entre 5% a 10% os preços este mês.[março de 2011]
Quanto foi promovida e efetuada a privatização das empresas estatais brasileiras, os gestores de nossa política econômica diziam que o capital privado aceleraria o desenvolvimento brasileiro mediante a expansão do nosso parque industrial. Na prática, aconteceu o contrário.
Com esse falso intuito de acelerar o nosso desenvolvimento, foram privatizadas a Vale do Rio Doce, Usiminas,CSN, Cosipa e Usiba.
Porém, o Brasil continua importando aço mesmo sabendo-se de tem a 2ª maior reserva de ferro do mundo, além de ter em grande quantidade todos demais minérios usados na siderurgia, exceto o carvão que é altamente poluente. No Brasil as siderúrgicas usam eucalipto de reflorestamento.
Mas, o carvão mineral usado na Europa e, principalmente, na Ásia, no Brasil pode ser plenamente substituído pelo bagaço de cana-de-açúcar e pelo carvão vegetal de árvores cultivadas, cuja queima é bem menos poluentes.
Então, se o capital privado era tão importante para o progresso nacional brasileiro, por que continuamos a importar aço?
No exterior, em qualquer país, as siderúrgicas precisam do minério de ferro do Brasil, da Rússia ou da Austrália. Nenhum outro país tem tanto minério de Ferro como esses três.
Os fabricantes de veículos dizem que têm contratos de longo prazo com as siderúrgicas. Mas acabam tendo de aceitar indiretamente aumentos quando compram as autopeças, que adquirem aço dos distribuidores.
Observe o que foi mencionado em negrito.
Nitidamente há uma campanha dos grandes produtores contra os pequenos empresários, que só conseguem comprar matérias-primas através de intermediários. É como o trabalhador que só consegue empregos através de empresas terceirizadas (A Ubererização das Relações de Trabalho). Estão sendo explorados, escravizados.
Isto também acontece no comércio varejista de alimentos, tendo como grande exemplo os bares e restaurantes de pequeno porte, que não conseguem comprar diretamente do produtor. Principalmente os bares, quase todos, fecharam suas portas.
Outro detalhe: Por que as montadoras de veículos não produzem suas próprias peças?
Simples de responder. Porque estão explorando as pequenas indústrias de autopeças, razão pela qual estas pagam salários inferiores.
É o que sempre acontece com as empresas terceirizadas em quaisquer de seus ramos de atividade. São exploradas pelos grandes empresários, assim como o trabalhador subcontratado também é escravizado.
Rinaldo Siqueira Campos, presidente da associação que reúne importadores de produtos para veículos, diz que está difícil segurar a alta de preços dos pneus. O motivo é que, em seis meses, o preço da borracha dobrou.
Vergonha Nacional que merece uma vigorosa intervenção do governo federal.
A seringueira é originária do Brasil e hoje nós importamos borracha natural simplesmente porque nossos empresários escravagistas e extrativistas nunca se propuseram a plantar seringueiras na Região Norte do Brasil.
Por incrível que pareça, atualmente o Estado de São Paulo é o maior produtor de borracha natural de seringueiras cultivadas cujas mudas provavelmente vieram do exterior.
O mesmo vem acontecendo com as “madeiras-de-lei”.
Por causa da competição entre montadoras, a Anfavea informa que as pressões de custos não têm sido repassadas aos carros, cujos preços recuaram 1,2% em 12 meses entre 2010 e 2011.
“Está muito difícil repassar os aumentos de custos”, diz Paulo Coli, vice-presidente da Latina, que produz lavadoras. No seu caso, o maior obstáculo é a formação de grandes conglomerados [empresariais = cartéis, oligopólios], após as recentes fusões no varejo de eletrodomésticos.
Em vez de combater aqueles que estão especulando, ao aumentarem o preço de seus produtos, alguns empresários (aproveitadores) também estão querendo aumentar seus preços. Como esses aumentos resultam em maior valor do faturamento, os executivos comissionados passam a ganhar mais. Por isso eles fazem o possível e o impossível para enganar os incautos.
Ou será que esta publicação feita pelo Jornal "Estadão" é uma forma de reclamar e de buscar providências governamentais no combate direto aos especuladores?
Os empresários que estão praticando o monopólio ou o oligopólio no mercado produtor, atacadista ou consumidor podem ser combatidos e penalizados pelo CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica.
Como medida drástica, o governo federal até 2018 podia intervir nas empresas especuladoras, de conformidade com Lei Delegada 4/1962 do Governo João Goulart. Porém, isto não é mais possível porque o Presidente Jair Bolsonaro a REVOGOU. Ela dispunha sobre a intervenção no domínio econômico para assegurar a livre distribuição de produtos necessários ao consumo popular.
Com semelhante finalidade de intervenção em empresas, durante o Governo Sarney foi firmado o Decreto-Lei 2.321/1987 que instituiu, em defesa das finanças públicas, o regime de administração especial temporária, nas instituições financeiras privadas e públicas não federais.
Também poderia ser utilizada a Lei 1.521/1951, que versa sobre os Crimes contra a Economia Popular, sancionada no Governo Getúlio Vargas. Trata-se de Legislação Correlata ao previsto no Código de Defesa do Consumidor - ver na Lei 8.078/1990.
Veja ainda o Capítulo II - Dos Crimes contra a Ordem Econômica e contra as Relações de Consumo da Lei 8.137/1990.
É importante verificar também, que apesar de ter sido destituído da Presidência da República, importantes leis em defesa do consumidor foram sancionadas no Governo Collor de Melo. Seria esse o verdadeiro motivo de sua destituição?
Como dizia Leonel Brizola: São as forças ocultas, ou seja, é o poder econômico dos patrões dos lobistas corruptores de políticos a causa a desgraça do povo brasileiro.
E tudo isto se repete dez anos depois, em 2021, durante o Governo Bolsonaro.