O DESPERDÍCIO IMPEDINDO A PRODUTIVIDADE E A LUCRATIVIDADE
OS EXCESSIVOS GASTOS COM EMBALAGENS RECICLÁVEIS
São Paulo, 20 de março de 2006 (Revisada em 13/03/2024)
Lucratividade e Rentabilidade, Produtividade e Qualidade, A Importância da Contabilidade de Custos, o Lucro Presumido e a Dispensa da Escrituração Contábil, Privatização, Terceirização da Administração, da Produção e dos Serviços, Competitividade, Reciclagem.
1. A QUESTÃO
A Revista Veja de 07/12/2005 publicou reportagem como propaganda subliminar ou “merchandising” que se referia especialmente ao desperdício da produção brasileira de arroz, milho, soja, feijão, além de criticar a produção extensiva do gado bovino adotada pelos nossos pecuaristas.
Esse estudo sobre o desperdício de nossos produtos agropecuários foi efetuado por empresa estrangeira que quer vender seus serviços de consultoria em transporte e armazenamento aos empresários brasileiros exportadores de cargas a granel ou de produtos industrializadas.
2. DEFINIÇÕES
2.1. SUBLIMINAR é o estímulo que não é suficientemente intenso para que o indivíduo tome consciência dele, mas que, repetido, atua no sentido de alcançar um efeito desejado, como na utilização da propaganda subliminar (Dicionário Aurélio). Sublimares são quadros colocados em películas cinematográfica imperceptíveis ao olhar, mas que o celebro registra, induzindo a platéia a determinado comportamento como por exemplo comer chocolate, beber um refrigerante ou comer pipoca e por isso nos cinemas já existem as lojas com tais produtos.
2.2. MERCHANDISING na verdade pode ser considerado como propaganda subliminar porque esta é veiculada como notícia ou informação de interesse público. Muitas vezes esse tipo de propaganda pode apresentar apenas o logotipo de uma empresa ou de uma marca de produto, que estarão contidos de forma insuspeita não somente em programas de televisão como também em artigos de jornais e revistas, em novelas e filmes apresentados na televisão e em espetáculos onde as empresas aparecem como patrocinadoras. Também é a denominação dada à propaganda que é feita por pessoas que se encarregam da demonstração de produtos em supermercados ou na televisão.
2.3. PRODUTIVIDADE é a relação ou o índice obtido entre a quantidade ou valor produzido e a quantidade ou valor dos insumos aplicados à produção. O índice obtido significa o grau de eficiência produtiva. Na agricultura, o índice mostra o maior ou menor produção por hectare de lavoura plantado. Na indústria, o maior índice indica a maior produção com a utilização de menor número de trabalhadores - produtividade da mão-de-obra - e também representa a maior produção com menor desperdício de insumos.
2.4. QUALIDADE é a propriedade, atributo ou condição, que determinados produtos apresentam, capaz de distingui-los dos demais. Com base numa escala ou tabela de valores alimentares, por exemplo, os consumidores conseguem avaliar e determinar o grau de qualidade dos produtos e, conseqüentemente, por confiança no órgão avaliador, é possível aprovar, aceitar ou recusar, qualquer produto. É importante salientar que a qualidade de um produto não se mede apenas pela beleza de sua embalagem e nem sempre há relação entre o seu preço e a sua qualidade. Muitas vezes o preço de custo da embalagem é superior ao seu conteúdo, o que se caracteriza em elevado desperdício. Para evitar esse desperdício, muitas empresas passaram a vender seus produtos em "embalagem econômica".
2.5. LUCRATIVIDADE é o índice que determina o grau do lucro ou dinheiro ganho com a produção, estabelecido entre o valor máximo obtido nas vendas e o menor custo do produto vendido. Quanto maior for essa diferença, maior será a lucratividade.
2.6. RENTABILIDADE é o índice que determina o grau de rendimento do capital investido, que se obtém pela relação entre os rendimentos obtidos e o capital aplicado ou investido. Também pode ser definido como o grau de êxito econômico de um empreendimento, em relação ao capital nele aplicado (Dicionário Michaelis).
2.7. COMPETITIVIDADE é o índice ou grau de competição que as empresas conseguem no mercado nacional ou internacional ao oferecerem como vantagem ao comprador ou consumidor dos seus produtos menor preço e maior qualidade.
2.8. DESPERDÍCIO é o ato de desperdiçar, mal aproveitar, jogar no lixo o que pode ser aproveitado, deixar de aproveitar, esbanjar.
O interessante da questão é que nas últimas décadas muitos falaram da falta de produtividade e qualidade, mas não disseram realmente o porquê da existência desse problema no Brasil, que se inicia com o excesso de desperdício.
Na década de 1990, quando se tornaram moda os seminários e as palestras sobre produtividade e qualidade, o coordenador deste COSIFE participou de um desses eventos em meu ambiente de trabalho (no Banco Central do Brasil). Ele era apresentado por mestres de uma das fundações ou institutos de professores universitários, que, além de apresentarem as modernidades tecnológicas sobre o tema, buscavam explicações ou opiniões dos participantes sobre a problemática principal da falta de qualidade ou de apresentação dos produtos brasileiros, o que praticamente impedia o incremento das exportações brasileiras.
Com essa finalidade de aprovar projetos de industrialização de alimentos e de garantir a qualidade dos mesmos, no Brasil funciona o SIF - Serviço de Inspeção Federal, controlado pela Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Esse serviço de inspeção não começou agora. O SIF do DIPOA foi criado em 1915 pelo Decreto 11.462 como SIFPA - Serviço de Inspeção de Fábricas de Produtos Animais. Ainda na área do MAPA foi constituída a EMBRAPA, que tem diversos centros de pesquisa tecnológicas em agropecuária no sentido de melhorar a produtividade e a qualidade da produção brasileira. Na área de atuação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior foi criado o INMETRO, cuja finalidade é a de estabelecer normas e procedimentos, técnicos e administrativos, que promovam a melhoria e regulamentem a verificação da qualidade dos produtos industriais destinados à exportação, visto que a sua reputação e competitividade no mercado internacional dependerão, cada vez mais, da sua qualidade dimensional, material e funcional.
De fato antes da criação de tais órgãos oficiais existia crônica falta que qualidade na plantação, no fabrico, na apresentação em embalagem, no armazenamento, no transporte e na distribuição de produtos, o que de fato impedia a competitividade das empresas brasileiras no mercado internacional e no mercado nacional tendo como concorrentes os produtos estrangeiros.
Não havendo competitividade dos produtos brasileiros, os nossos exportadores só conseguiam vender produtos “in natura” (sem processamento industrial) que eram beneficiados no exterior por empresas que se preocupavam com a aparente qualidade dos produtos. Essa era uma das principais exigências dos consumidores nos países desenvolvidos, que foram doutrinados pela propaganda subliminar a exigir essas, muitas vezes, falsas qualidades por se tratarem apenas embelezando da embalagem do produto a ser exposto, de forma a atrair, iludir ou engabelar, o consumidor.
Hoje em dia as embalagens representam quase a metade do lixo doméstico. Umas das modernidades causadoras desse problema foi a substituição das garrafas de vidro retornáveis pelas de material descartável. E agora em todos os segmentos proliferam todos os tipos de descartáveis. Em razão da grande poluição ambiental por eles produzidas, várias organizações se interessaram no reaproveitamento desses descartáveis, que podem ser reciclados.
4. CRIAÇÃO DE EMPREGOS NO EXTERIOR
Em razão das matérias primas produzidas pelos países chamados de subdesenvolvidos serem exportadas a granel e sem industrialização aconteceram os seguintes fatos:
a) - os suíços passaram a ter o melhor chocolate do mundo sem produzir cacau;
b) - os alemães passaram a ser os maiores exportadores de café solúvel sem plantar café;
c) - os ingleses e japoneses passaram a ser os maiores exportadores de aço sem ter minério de ferro;
d) - os franceses passaram a ser os maiores produtores de móveis sem ter florestas para extrair a madeira; e
e) - os norte-americanos se transformaram em grandes produtores de pneus sem ter plantações de seringueiras.
Exercendo essas e outras atividades os empresários estrangeiros transformaram seus países em grandes potências mundiais sem que tivessem em seus territórios as matérias primas necessárias para o desenvolvimento e industrialização.
Veja texto intitulado Os Países e Suas Reservas Estratégicas, onde é mostrado que os países ditos subdesenvolvidos são os grandes possuidores das reservas de matérias primas das quais necessitam, e não têm, os chamados de desenvolvidos.
Isto significa dizer que os empresários brasileiros, geralmente de visão curta, mas, aventureira e oportunista, sempre se dedicaram ao extrativismo e ao colonialismo em terras devolutas, preferindo exportar matérias primas sem industrialização pois estes segmentos lhes davam rendimentos sem muito esforço e com menor investimento. Assim enriqueceram sem enriquecer o país e sem gerar os empregos necessários para evitar o alto grau de miserabilidade ora existente, o que aconteceu principalmente nas regiões norte e nordeste e está acontecendo nas regiões sul, sudeste e centro-oeste, motivado pelo grande êxodo rural.
5. PADRONIZAÇÃO DA QUALIDADE INTERNACIONAL
Tendo em vista a verdadeira adoção de elevado padrão de qualidade, foram criados organismos internacionais e também os brasileiros já citados, especializados na manutenção e controle das características básicas de insumos alimentares, os quais passaram a ditar normas essenciais para que a qualidade fosse efetivamente significativa e, não, somente na apresentação visual do produto. Por isso, muitas informações foram obrigatoriamente adicionadas nas embalagens, além de ser efetuado maior controle de qualidade nas linhas de produção. Isso não aconteceu exatamente em razão de exigências do consumidor brasileiro, mas, sim, por exigência dos estrangeiros. Os mais endinheirados empresários brasileiros não se importavam com a qualidade dos produtos de consumo popular vendidos no mercado interno porque só consumiam e ainda só consomem produtos importados.
Hoje podemos notar que essa preocupação governamental com a qualidade fez com que os empresários brasileiros conquistassem mercados no exterior, porém, a quantidade de produtos vendidos sem processamento industrial ainda é muito grande, o que explica o elevado índice de desemprego no Brasil.
6. O DESPERDÍCIO E A RECICLAGEM
O desperdício se verifica em todos os setores da economia brasileira e mais precisamente no da alimentação. Reportagens televisivas já mostraram o quanto é desperdiçado nas feiras livres espalhadas pelos bairros das cidades e também nas centrais de distribuição das metrópoles.
Dizem que as quantidades desperdiçadas no armazenamento e transporte da produção brasileira seriam suficientes para alimentar grande parte da horda de miseráveis espalhados pelas regiões metropolitanas.
Em tese, isto pode ser verdade, mas, na prática, se não houvesse o desperdício, os miseráveis jamais seriam alimentados com a utilização do economizado ou não desperdiçado. E isto pode ser observado com a melhoria da produtividade e da lucratividade conseguida pelas empresas, que só tem beneficiado seus proprietários e jamais os seus trabalhadores. Se a maior a produtividade e lucratividade existentes tivessem beneficiado as populações, provavelmente não mais existiriam os miseráveis no mundo.
Veja o texto A Máscara das Estatísticas onde é mostrado exemplo hipotético sobre a exploração dos catadores de recicláveis.
Não se quer com isso incentivar os trabalhadores a não colaborarem com o aumento da produtividade, com a diminuição do desperdício e com a melhoria na qualidade. Somente se pretende mostrar aos empresários que os trabalhadores também merecem uma recompensa pela sua contribuição para existência desses ganhos enriquecedores de seus patrões.
As principais deficiências que agravam o desperdício na produção agropecuária brasileira estão na rota desde a colheita até a chegada do produto ao consumidor. Essas deficiências estão indiscutivelmente na forma como é feita a colheita, o armazenamento, o transporte e o processamento manual ou industrial dos insumos.
Outro problema existente no Brasil, agora verificado na região sul, é que o agricultor ainda é dependente da existência de chuvas regulares porque não investe em sistemas de irrigação. O investimento na irrigação efetuado no nordeste brasileiro tem demonstrado como as terras podem ser produtivas mesmo sem a existência de chuva perene.
Nos chamados tempos áureos ou de grande esplendor da agricultura cafeeira, durante a colheita os grãos eram jogados no chão, quando eram contaminados por fungos e detritos (terra, pedrisco, graveto, esterco de aves, insetos). Em seguida eram utilizadas peneiras, ainda no meio das lavouras, numa tentativa de retirar os detritos indesejáveis adquiridos com o método não apropriado de colheita. As peneiras ainda são usadas para extrair eventuais folhas arrancadas do cafeeiro junto com os grãos, que caem sobre lonas que forram o chão. Atualmente no Brasil, em algumas fazendas, o café de qualidade (café robusta e não mais o tradicional arábica) é colhido de grão em grão e colocado em vasilhames. Assim não entra em contato com o chão, ficando livre das antigas impurezas.
Portanto, a qualidade atribuída no passado ao café solúvel e ao chocolate industrializados na Europa não era verdadeira, porque as matérias primas já saiam daqui contaminadas. Atualmente os países desenvolvidos não importam esses produtos somente do Brasil. Grande quantidade é produzida em países africanos, onde o nível de qualidade é inferior em razão dos problemas econômicos e sociais mais graves lá existentes e também em razão inexistência de órgãos reguladores oficiais.
E, tal como aconteceu com o café, diversos outros métodos de colheita foram aperfeiçoados para garantir a produtividade e a qualidade do produto final de origem agropecuária e também como forma de evitar o desperdício.
O armazenamento também foi beneficiado por novos investimentos, mas ainda existe muito a fazer no que se refere à redução do desperdício e à falta de industrialização.
O transporte de cargas talvez seja o maior dos problemas. Desde 1990 as rodovias foram abandonadas pelos governantes que se sucederam, para que o péssimo estado de conservação servisse de justificativa à privatização. Esta, depois de efetuada, com a cobrança de altos preços de pedágio encareceu demasiadamente o frete principalmente para o litoral, onde estão os portos. Ou seja, o pedágio encareceu o transporte de carga exatamente nos chamados "corredores de exportação", transferindo parte dos ganhos obtidos na agricultura e pecuária para grupos privilegiados que conseguiram as concessões das rodovias e estão enriquecendo sem tê-las construído.
Por sua vez, os caminhões, com o intuito de diminuir o custo médio por tonelada transportada, trafegam com excesso de peso, porque não existem postos de pesagem nas rodovias e muitos dos existentes estão desativados. Em razão dessa falta de controle de peso, as rodovias são danificadas mais rapidamente. As poucas rodovias privatizadas que foram ampliadas ou efetivamente melhoradas dependeram de empréstimos governamentais, quando, em tese, a intenção da privatização era a de que o pedágio e o investimento privado das concessionárias possibilitassem a aceleração do desenvolvimento.
Com o mesmo intento de justificar a privatização, as ferrovias também foram transformadas em sucata. Algumas foram imediatamente desativadas por seus compradores. Passados alguns anos, ainda são encontradas sobre os trilhos enferrujados, com dormentes apodrecidos, locomotivas e vagões que foram abandonados em pleno trajeto quando voltavam vazios às regiões produtoras. Este fato foi mostrado por várias emissoras de televisão.
Parece evidente que, no caso das ferrovias, existiam grandes interesses em jogo por parte das transportadoras por rodovia, dos fabricantes de caminhões e das concessionárias de rodovias. Agora o governo, gastando mais do que foi arrecadado com a privatização, quer recuperar as ferrovias para que possam transportar com menor custo as safras de grãos do interior para os portos.
No citado seminário, do qual participei na década de 1990, mostrando um exemplo, participante do evento citou o desperdício observado na construção civil, dizendo que 30% dos materiais utilizados eram perdidos como entulho, enquanto que nos países desenvolvidos essa perda não chegava a 10%. E hoje em dia isto ainda acontece, porém, somente nas pequenas construções.
Atualmente, para barateamento dos custos, nas grandes construções as etapas são totalmente planejadas e os materiais utilizados são quase sempre pré-moldados ou pré-fabricados em escala industrial. Portanto, ao chegarem à obra, são apenas montados.
7. A TERCEIRIZAÇÃO E A PRIVATIZAÇÃO
A privatização de empresas estatais e da exploração de rodovias por grupos privados previamente escolhidos também foi uma forma de terceirização da administração de bens governamentais, que na realidade pertencem à população do país. Ou seja, os bens que deveriam ser administrados e explorados em proveito da coletividade (da nação), agora são explorados no interesse de enriquecimento de determinados grupos empresariais, que já eram suficientemente ricos. Mesmo assim, esses empresários não colocam um tostão do seu dinheiro nos bens públicos que administram, pois só investem recursos financeiros fornecidos como empréstimo pelo próprio governo.
Dessa forma as privatizações se tornaram um negócio sem risco para os empresários contemplados (premiados), que são partidários da seguinte premissa: se o negócio der certo, os lucros obtidos serão nossos; se der errado, devolvemos os bens ao governo (o povo), que assumirá os prejuízos sofridos.
Este tipo de operação já foi chamado de “privatização dos lucros e socialização dos prejuízos”, que Joelmir Beting não se cansava de repetir em seus comentários.
Ou seja, houve grande desperdício de recursos governamentais, que foram perdidos com as privatizações, tendo em vista que os valores recebidos em pagamento pelas estatais não foram suficientes para saldar as dívidas governamentais assumidas justamente para implantar tais empresas.
8. LUCRATIVIDADE E RENTABILIDADE
Mesmo com os problemas expostos, podemos observar que no Brasil a lucratividade dos empresários e a rentabilidade do capital investido são enormemente satisfatórias.
Em razão da insignificância do salário médio pago ao trabalhador brasileiro, quando comparado com a média recebida pelos assalariados dos países desenvolvidos, podemos observar que a distância existente entre os menores e os maiores salários aqui no Brasil é muito maior do que a existente naqueles países, o que resulta na crônica má distribuição da renda brasileira.
Não se pretende com esse comentário incentivar a redução dos honorários ou proventos da classe média brasileira, que já foi excessivamente prejudicada durante o governo FHC, que começou quando ainda era ministro de Itamar Franco. Na realidade o intuito é o de sensibilizar e incentivar o empresariado brasileiro a aumentar a remuneração dos trabalhadores das classes sociais inferiores como forma de reduzir a miséria reinante e como forma de incrementar o consumo interno.
O exemplo máximo dessa discrepância na distribuição da renda pode ser observado na resposta à seguinte pergunta:
- Sendo o Brasil um país que não está entre as dez potências mundiais e que tem um terço de sua população na categoria de miserável, como pode ter a segunda maior esquadrilha de aviação privada do mundo?
Esta é a maior evidência da excessiva concentração da renda nacional nas mãos de um grupo de pessoas, que normalmente vive da exploração da mão-de-obra barata, semi-escrava, razão pela qual existe o desperdício, a miséria e a criminalidade.
Por que, mesmo com todo esse desperdício, os empresários brasileiros continuam enriquecendo?
A resposta é praticamente a mesma: o baixo custo da mão-de-obra usada na produção compensa a eventual perda com o desperdício. E este é ainda agravado pela falta de cultura e de ensino profissionalizante dos trabalhadores que se sujeitam a trabalhar mediante o recebimento de baixos salários.
Aliás, a excessiva quantidade de pessoas nessa condição de assalariado desprestigiado é o principal motivo do sucesso brasileiro na reciclagem de lixo. Ao contrário do que ocorre nos países desenvolvidos, aqui há grande quantidade de miseráveis que se sujeitam a trabalhar para ganhar salário irrisório, que não é suficiente para lhes tirar da miserabilidade. Nas ruas de São Paulo, diante de mansões e de edifícios suntuosos e monumentais comumente vemos diversos carroceiros descalços, sujos, mal alimentados e muitas vezes bêbados catando lixo para ser reciclado. Esses carroceiros são considerados "párias indesejáveis" principalmente pelos motoristas de automóveis que são obrigados a sair do seu trajeto para não atropelarem os carroceiros.
O baixo salário é o principal motivo que leva alguns brasileiros a procurarem trabalho nos países desenvolvidos, porque lá os serviços insalubres e perigosos são melhor remunerados. Os imigrantes naqueles países, ao contrário do que acontece no Brasil, são considerados "párias indispensáveis" porque o povo nativo não se sujeita a tais serviços. Em razão do maior salário oferecido, a reciclagem de lixo por lá não é tão compensadora.
Assim sendo, podemos dizer mais uma vez que os empresários brasileiros continuam enriquecendo porque o menor dispêndio com a mão-de-obra, além de cobrir os prejuízos com o desperdício, ainda lhes proporciona grandes lucros.
Vejamos, mediante outras perguntas, os problemas trazidos pelos baixos salários:
- Como pode um funcionário de empresa terceirizada prestar bons serviços se o salário que ganharia na empresa contratante foi dividido com seu atual patrão e por isso só lhe é possível morar na periferia?
- Como pode o funcionário de restaurante ou empresa produtora de alimentos zelar pela higiene em seu ambiente de trabalho, se seu salário não lhe permite sair da favela, onde vive em condições insalubres?
- Como pode o policial prestar bons serviços à coletividade, se os narcotraficantes escondidos na favela próxima à sua residência têm imóveis que seu salário não lhe permite ter ou alugar?
- Como pode o político e o sindicalista exercer sua função no interesse dos trabalhadores e desempregados, se o seu salário é menor do que o do lobista representante dos empresários e por isso é obrigado a se submeter aos caprichos destes para que consiga aparente melhor padrão de vida?
9. NECESSIDADE DA CONTABILIDADE DE CUSTOS
Para que o empresário tenha perfeito conhecimento da lucratividade de suas operações, incluindo a produtividade, é indispensável que introduza em sua empresa a contabilidade de custos. Ela possibilita que as receitas, os custos e as despesas sejam distribuídos ou apropriados por unidade produtora, por departamento, por seção e por produto. E assim o empresário poderá saber exatamente quais são os resultados obtidos em cada segmento operacional de sua empresa e que produtos estão a causar prejuízos para que possa tomar as medidas no sentido de reduzir custos e despesas ou, nessa impossibilidade, reajustar preços.
A contabilidade de custos também possibilita saber que produtos estão a oferecer maior lucro, para que seu preço ao consumidor possa ser reduzido como forma de conseguir maior competitividade.
Então, torna-se importante a seguinte pergunta:
- Como implantar a contabilidade de custos, se grande parte dos empresários brasileiros não sabe e nada quer saber sobre a importância da contabilidade?
A própria legislação do imposto de renda estimula a não utilização da contabilidade ao mencionar que as empresas, ao optarem pelo sistema de tributação com base no lucro presumido, não precisam tê-la, bastando que escriturem o Livro Caixa onde também conste a movimentação bancária.
Veja o texto intitulado A Dispensa da Escrituração Contábil. Veja também as medidas adotadas recentemente como Incentivos Fiscais à Contabilização.
Assim fica difícil mudar a mentalidade tacanha dos microempresários e dos pequenos e médios empresários. Muitos deles, mesmo tendo curso superior, só procuram os contabilistas para que sejam ajudados a diminuir a carga tributária, que seria muito maior se fossem assalariados.
Por isso podemos dizer que todos os empreendimentos teriam maior sucesso se os empresários fossem contabilistas ou dessem o devido valor a estes.
Veja o texto O Que os Empresários Precisam e Devem Saber.