DESPERDÍCIO: LUGAR DE COMIDA NÃO É NA LIXEIRA
A CRÔNICA DEFICIÊNCIA ADMINISTRATIVA E CULTURAL DO EMPRESARIADO
São Paulo, 28/10/2015 (Revisada em 13-03-2024)
Referências: Desperdício, Contabilidade de Custos, Incompetência Administrativa e Operacional do Empresariado com Baixo Nível Técnico, Educacional e Cultural, NBC - Normas de Contabilidade - Informações de Natureza Social e Ambiental, Trabalho Escravo, Direitos Sociais - Previdenciários e Trabalhistas, Logística em Estocagem, Armazenamento, Distribuição e Transportes.
Coletânea por Américo G Parada Fº - Contador Coordenador do COSIFE
1. A CRÔNICA INCOMPETÊNCIA DO EMPRESARIADO
Por Américo G Parada Fº - Contador Coordenador do COSIFE
1.1. OS NUTRICIONISTAS E A CONTABILIDADE DE CUSTOS
Observe no texto a seguir transcrito ("Lugar de Comida Não É na Lixeira" - "5 Atitudes para Não Esbanjar") que a nutricionista Aline Rissatto Teixeira entrevistada pela Revista E do SESC-SP destaca que os alimentos mais facilmente perecíveis devem ser alvo de melhores cuidados.
Ela chama a atenção especialmente para prazo de validade dos alimentos e assim deixou subliminarmente claro que deve ser dada maior importância para as condições de acondicionamento, armazenamento, transporte e conservação indicada pelos fabricantes e também pelos produtores rurais que contam com o Ministério da Agricultura, Pecuária, e Abastecimento, com endereçamentos na margem inferior da página de abertura para centrais de abastecimento e institutos de tecnologia como: CASEMG, CEAGESP, CEPLAC, INMET, CEASA/MG, CONAB e EMBRAPA.
1.2. O EMPRESARIADO E A CONTABILIDADE DE CUSTOS
Talvez o maior problema a ser enfrentado no combate ao desperdício esteja nas empresas intermediárias entre os fabricantes ou produtores e o consumidor final.
Infelizmente, os empresários intermediadores de produtos perecíveis não têm a mínima cultura que seria necessária ao entendimento do que está sendo aqui explicado. Isto já foi dito em outros textos desde COSIFE em que o tema principal é o desperdício.
Talvez sem tal intento, com outras palavras a mencionada nutricionista destacou as regras comumente praticadas pelos profissionais da contabilidade de custos no Controle dos Estoques de Produtos, principalmente na área da alimentação (onde estão os chamados de produtos perecíveis).
1.3. OS TRANSPORTES E A MÁXIMA ATENÇÃO PARA OS PRODUTOS PERECÍVEIS
Os leitores mais atentos devem ter lembrado que nas diversas formas de transporte (Terrestres, Marítimos e Aéreos), os produtos perecíveis devem teR preferência de locomoção em relação a quaisquer outros.
Poderíamos destacar o que principalmente é visto nas rodovias quando acontecem acidentes, enchentes ou deslizamento de encostas que interrompam o tráfego de caminhões. As cargas perecíveis são as primeiras a passar, antes mesmo das pessoas que estejam em meios de transporte coletivo, que têm preferência para trafegar em relação aos demais.
1.4. A ESPECIALIZAÇÃO NA CONTABILIDADE DE CUSTOS DE TRANSPORTES
Pois é, o contabilista especializado em Contabilidade de Transportes e em Contabilidade de Custos precisa saber pormenorizadamente todos esses detalhes.
Entretanto, os demais profissionais sempre dizem que não precisam entender de contabilidade, que é a mais exata das ciências se não for manipulada pelos sonegadores de tributos.
Embora, até os traficantes tenham sua contabilidade bem organizada, muitos empresários legalmente estabelecidos a desprezam. Por isso é tão comum o desperdício, destacado pela Revista E do SESC-SP.
Esse constante desperdício provoca o aumento dos custos operacionais e geralmente gera persistentes prejuízos anuais que vão se acumulando.
Então, para reposição do capital de giro perdido, são obtidos empréstimos bancários cujas taxas de juros são sempre aumentadas pelo COPOM. Dos citados prejuízos, das elevadas taxas de juros, do desemprego criado pela política monetária destruidora de Reservas Monetárias e da consequente recessão, resultam as falências. Assim acontece o caos econômico e social.
1.5. O ÓTIMO TRABALHO CONTRA O DESPERDÍCIO
Os redatores da Revista da E do SESC-SP fizeram um ótimo trabalho. Só esqueceram de dar maior destaque à falta de cultura do empresariado de modo geral, os quais são direta ou indiretamente (por contribuição obrigatória) associados ao SESC, ao SESI e às demais entidades do mesmo tipo.
Poucos empresários são contrários à contribuição obrigatória para idênticos tipos de escolas profissionalizantes e de entidades prestadoras de serviços sociais administrados pelos líderes das diversas classes empresariais.
Contudo, muitos empresários são contrários ao Imposto Sindical, que é pago pelos trabalhadores. Por quê?
Porque sem o Imposto Sindical grande parte dos sindicatos fecharia suas portas e assim, em tese, os trabalhadores seriam prejudicados pois não mais teriam defensores.
Os constituição de sindicatos foi regulamentada por decreto de Getúlio Vargas na década de 1930, justamente com o intuito de combater o trabalho escravo e a segregação social de brasileiros que eram chamados de vagabundos pelos estrangeiros.
1.6. A LOGÍSTICA NAS GUERRAS E A CONTABILIDADE DE CUSTOS
O maior problema enfrentado nas Guerras (desde a antiguidade) sempre foi a LOGÍSTICA de suprimentos da tropa na frente de batalha. Essa sempre foi a grande especialidade dos militares, embora pouco seja falado sobre essa árdua tarefa de não deixar a tropa morrer de fome.
Assim sendo, torna-se de suma importância o prefeito Controle dos Estoques aliado a uma perfeita Contabilidade de Custos de Transportes, Armazenamento e Distribuição. Por isso, o essencialmente necessário nunca pode faltar nos estoques. Nesse aspecto, a perfeita contabilidade é a maior aliada dos empresários que não a desprezam.
Em épocas de elevados índices de inflação, o mau controle dos estoques de produtos perecíveis era o erro mais cometido pelo empresariado. Não só faltavam os produtos de modo geral, como também os estocados eram escondidos para que os trabalhadores fossem obrigados a pagar ágios para aquisição daqueles mais necessários.
Tal prática, além de aumentar os custos de estocagem, principalmente das mercadorias que necessitavam, por exemplo, de refrigeração (aumento da conta de luz ou maior gasto com energia), todas as demais mercadorias ficavam sujeitas a perecimento, assim gerando perdas irrecuperáveis, com o consequente aumento dos custos operacionais.
Grande parcela do empresariado achava que ganharia mais escondendo produtos, mas na realidade tinham prejuízos em razão do aumento dos custos operacionais de seus estoques. O aumento da rotatividade nos estoques é um dos principais fatores de redução dos custos operacionais com o armazenamento.
1.7. FORMAS DE CUSTEAMENTO DOS ESTOQUES
Os Estoque nas empresas podem ser controlados de três formas básicas:
1.7.1. CUSTO MÉDIO
O sistema de CUSTO MÉDIO é o mais utilizado e permitido pela Legislação Tributária vigente, consolidada no RIR/1999 (artigos 292 a 296). A legislação destaca o Inventário Periódico cujo termo de apuração era lavrado no Livro de Inventário. Porém, com os avançados sistemas de processamento de dados, tornou-se possível a plena utilização do Inventário Perpétuo, com conferência periódica do contido na contabilidade.
Obviamente foi destacado o inventário periódico considerando-se também que as pequenas empresas não tinham recursos financeiros suficientes para investir em equipamentos avançados, porque eram muitos caros nas décadas de anteriores a de 1990. De outro lado, os legisladores também não tinham a obrigação de serem especialistas em Contabilidade de Custos. Como na época em que a legislação foi feita eram raros os contabilistas no serviço público e no Poder Legislativo, obviamente os legisladores não tiveram a que consultar. Esqueceram da existência do CFC - Conselho Federal de Contabilidade.
Somente a partir da sanção da 11.638/2007, o seu artigo 5º acrescentou o artigo 10-A na Lei 6.385/1976, obrigando que os contabilistas sejam consultados pelas autarquias tidas como Agências Nacionais Reguladoras, entre elas o Banco Central, a CVM e a SUSEP. Veja comentários no texto: Falhas Graves na Lei 11.638/2007. Aliás, elas existem em quase todas as Leis.
1.7.2. PEPS - PRIMEIRO A ENTRAR É O PRIMEIRO A SAIR
O sistema PEPS, também aceito pela Legislação Tributária, justifica-se porque os custos operacionais inicialmente contabilizados serão menores que os apurados com base no Custo Médio.
Analisando-se esse sistema com vistas para o combate ao desperdício, as mercadorias com datas de validade mais próximas da data atual devem ser as primeiras a sair. Assim sendo, para melhor controle, cada nova mercadoria chegada ao estoque deve ter um código de barras diferente da existente e deve ser guardada em local próximo (diferente). Desse modo, primeiramente irão para as prateleiras dos supermercados, por exemplo, as mercadorias mais antigas.
1.7.3. UEPS - ÚLTIMO A ENTRAR É O PRIMEIRO A SAIR
O sistema UEPS não é admitido pela Legislação Tributária porque de imediato geraria custo operacional superior aos demais métodos acima explicado, assim gerando menor tributação.
Porém, tal regra acontece na prática principalmente nos dias de hoje quando anualmente são lançados novos produtos pretensamente mais modernos, muitos deles com falsa modernidade porque rapidamente se tornam obsoletos. De modo geral, nos dias de hoje os fabricantes não colocam toda a tecnologia existente para que possam sugar o dinheiro ganho pelos trabalhadores. Assim, a cada ano o indivíduo é obrigado a atualizar seu produto "obsoleto". Essa é a realidade.
Assim sendo, anualmente existem as tais Sextas-Feiras Positivas ("Black Friday" - em contabilidade "black" [preto] é positivo e "red" [vermelho] negativo).
Então, aqueles produtos mais antigos são transferidos para o Estoque de Produtos em Liquidação = Bota Fora = Promoção = Bazar.
Porém, esses básicos sistemas de controle dos estoques não resolvem o grave problema que deve ser enfrentado para redução do desperdício.
Veja informações complementares sobre os ESTOQUES no PADRON - Plano de Contas Padronizado.
1.8. A ATUAÇÃO DOS INTERMEDIÁRIOS ENTRE O PRODUTOR E O CONSUMIDOR
Então, no sentido de aprimorar esse combate ao desperdício e ao descaminho (furto de bens estocados, geralmente praticado por funcionários da própria empresa) é preciso que os intermediários (empresários) que atuam entre o produtor e o consumidor, especialmente os dos transportes, sejam educados para dar melhor tratamento às cargas embarcadas, transportadas e desembarcadas.
O grande problema é que esses empresários intermediários são justamente os menos aculturados. Por isso existe grande índice de perdas nas centrais de armazenamento e de distribuição. O manuseio das mercadorias facilmente perecíveis geralmente é praticado por peões ou estivadores que não são devidamente treinados porque seus padrões também têm baixíssimo índice educacional.
Os micros e pequenos empresários (varejistas) também precisam de melhores esclarecimentos, principalmente aqueles que atuam nas comunidades mais pobres. Nestas, as Associações e as Rádios Comunitárias poderiam executar um importante papel no esclarecimento de empresários e consumidores.
Contudo, em razão do alto índice de criminalidade, os profissionais de nível superior, especialmente os educadores e os da saúde pública, não querem trabalhar na periferia das grandes cidades, nem em cidades longínquas, razão pela qual o Governo Federal foi obrigado a apelar, por exemplo, para o "Mais Médicos".
1.9. CONTABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL E O TRABALHO ESCRAVO
As Informações de Natureza Social e Ambiental foram instituídas pelo CFC - Conselho Federal de Contabilidade, mas a prestação de tais informações não é obrigatória. Desse modo, são pouquíssimas as empresas que aderiram ao Projeto de Humanização instituído pelo CFC.
Contrariamente a iniciativas positivas como a do CFC, é comum aparecer nos meios de comunicação e principalmente na televisão alguns manipuladores da opinião pública dizendo que a tributação é o item que mais onera os empresários e que é preciso diminuir seus custos trabalhistas e previdenciários mediante a desoneração da folha de pagamentos. Querem transformar os trabalhadores em meros escravos.
Na tentativa de conter o Trabalho Escravo, Fiscais do Ministério do Trabalho e do Emprego foram mortos em Unaí-MG por empresários inescrupulosos.
Veja no texto intitulado Morte aos Fiscais do Trabalho.
Veja também Desmatamento e Trabalho Escravo em Tailândia e Mentiras mais Contadas sobre o Trabalho Escravo.
Então, torna-se importante acrescentar que desde 1996 os empresários não são tributados sobre os lucros distribuídos pelas suas empresas, assim como não são tributados os demais investidores em ações ou cotas de capital. Logo, quem de fato paga o tributo é o consumidor final, em suma, os trabalhadores.
1.10. A MANIPULAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA PELOS MERCENÁRIOS DA MÍDIA
Políticos enganadores ligados à associações de classes empresariais vem fazendo propaganda na televisão em prol do "Diga não à CPMF" que em valor absoluto pouco incide sobre os proventos dos trabalhadores e incide muito sobre a imensa dinheirama movimentada nos bancos pelos 10% mais ricos entes da população.
Mas, esses enganadores (os mercenários da mídia) não dizem que a maior parcela da população não pagará a CPMF, porque nem possui conta bancária. E, quando possui, é conta de poupança não movimentada por cheque, nem por intermédio da Internet (Home Banking)
Entretanto, de outro lado, os lobistas dos mais ricos, tal como aconteceu durante o Governo FHC, corrompem legisladores no sentido de isentar de tributação muitos desses mais ricos capitalistas, entre eles os que movimentavam seu abundante dinheiro por meio da especulação financeira nas Bolsas de Valores e na agiotagem promovida pelas altas taxas de juros decretadas pelo COPOM.
É certo que esse 1% mais ricos deveria ser o mais tributado. Isto vem dizendo Paul Krugman desde que recebeu o Prêmio Nobel de Economia em 2008.
Na verdade, o que mais desejam os defensores dos empresários inescrupulosos é a liberação do trabalho escravo e a isenção de tributos somente para mais ricos. Isto, eles indiretamente já conseguem fazer porque movimentam seu dinheiro escuso ("sujo", oriundo da sonegação fiscal), por intermédio de paraísos fiscais (movimentação de contas bancárias mantidas no exterior, só para sonegadores estrangeiros = "offshore").
Por isso, neste COSIFE tem sido escrito que os governantes de todo o mundo deveriam confiscar para seus respectivos países todos os investimentos vindos de (ou idos para) paraísos fiscais.
Porém, têm-se dito também que isto nunca ocorrerá porque aqueles governantes estariam confiscando seu próprio dinheiro sujo e o dinheiro ilegalmente ganho pelos empresários inescrupulosos que financiam suas campanhas eleitoreiras. Entre estes inescrupulosos empresários, estão todos aqueles que fraudam Licitações Públicas e subornam executivos e lobistas igualmente criminosos.
Por isso a miséria grassa e a impunidade também.
Os juízes têm poderes de estabelecer multas a serem pagas por tais criminosos. E as multas bem que poderiam ser a encampação de suas empresas, mediante a transferência das participações em ações para o Tesouro Nacional que tem sido diuturnamente desfalcado por tais pilantras.
Sem empresas privadas não haveriam corruptores nem corruptos.
2. LUGAR DE COMIDA NÃO É NA LIXEIRA
Texto da Redação da Revista E do SESC-SP, publicado na edição 232 de OUT/2015
2.1. REDUÇÃO DO DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS É UM DOS GRANDES DESAFIOS SOCIAIS E AMBIENTAIS PARA O FUTURO
A cada ano, um terço dos alimentos produzidos no mundo vai parar no lixo.
Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), isso significa que 30% das terras agrícolas disponíveis são usadas para produzir alimentos que nunca serão consumidos.
Esses desperdícios e perdas ocorrem ao longo de toda a cadeia produtiva, desde a lavoura até as residências, e causam sérias consequências sociais, econômicas e ambientais.
2.2. A ATUAÇÃO DA FAO - ORGANIZAÇÃO DE COMBATE À FOME
Para o representante da FAO no Brasil, Alan Bojanic, há em primeiro lugar uma questão ética.
“Não é possível ter no mundo 800 milhões de pessoas passando fome e outra parte da população jogando fora os alimentos”, afirma ele, que também chama a atenção para as implicações ambientais. “Além dos gases de efeito estufa gerados pelos alimentos que são descartados, existe uma quantidade de hectares, fertilizantes, maquinário e mão de obra que poderíamos poupar se fôssemos mais eficientes nessa cadeia”.
Anualmente, no mundo, 1,3 bilhão de toneladas de alimentos (o equivalente a oito torres Eiffel) é desperdiçado, incluindo cerca de 45% de todas as frutas e legumes, 35% dos peixes e frutos do mar, 30% dos cereais, 20% dos produtos lácteos e 20% da carne (Fonte: FAO).
Alan [Bojanic] faz questão de ressaltar a diferença entre perda e desperdício: enquanto as perdas ocorrem no âmbito produtivo, durante a colheita, armazenagem e transporte, o desperdício se dá pelo consumidor, na feira livre, em domicílios e estabelecimentos comerciais.
“O Brasil tem muita perda porque muitos processos produtivos e logísticos ainda não são eficientes. Quanto ao desperdício no consumo, falta disciplina na hora de comprar, por exemplo”, analisa.
2.3. DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS É QUESTÃO DE CULTURA EMPRESARIAL
O desperdício de alimentos é uma questão cultural, observa a nutricionista e gastróloga Aline Rissatto Teixeira.
“O Brasil é a terra da abundância, onde tudo que se planta vinga. Nessa lógica, o sentido de economizar comida se perde. Nós compramos um vegetal, mas só consumimos sua polpa. Tiramos toda a casca da batata antes de preparar um purê, sem sequer experimentar a preparação utilizando o alimento em sua totalidade”, exemplifica. Para ela, a educação é o caminho para modificar essas práticas.
“Não basta informar ao indivíduo que o desperdício de alimentos existe. Ele deve ser educado, entender seu papel e se tornar ativo quanto ao uso de partes não convencionais dos alimentos”.
No Brasil os desperdícios e perdas estão presentes em toda a cadeia, sendo 10% no campo, 50% no manuseio e transporte, 30% na comercialização e nas centrais de abastecimento e 10% no varejo e consumidor final (Fonte: Embrapa).
Aproveitar tudo o que o alimento pode oferecer como fonte de nutrientes é uma das práticas da cozinha sustentável, explica Aline.
“Por desinformação, esse conceito é subestimado e frequentemente associado ao preconceito”, aponta. “Muitas pessoas pensam que o uso de ossos, peles, cascas, talos e sementes para cozinhar deve ser restrito aos mais pobres. Precisamos incentivar a todos, pois esta é uma prática de responsabilidade compartilhada. O desperdício de alimentos gerado por você afeta não só a vida de uma pessoa, mas a de milhões que vivem no mundo em situação de fome e insegurança alimentar”.
2.4. CINCO ATITUDES PARA NÃO ESBANJAR
Fonte: Aline Rissatto Teixeira - nutricionista e gastróloga - Revista E do SESC-SP
2.5. OUTRAS OPINIÕES SOBRE O DESPERDÍCIO
Na opinião do ex-presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) e pesquisador do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) Francisco Menezes, é possível mudar essa cultura do desperdício.
“Seja de forma individual, em escolas ou através de campanhas que reforcem que o alimento é um bem essencial, ao qual todos têm direito”, afirma [Francisco Menezes].
“A educação alimentar é fundamental para vencermos o desperdício, considerando aqui que ela não se resume a ensinar o indivíduo a se alimentar bem, mas também a dar esse sentido coletivo ao alimento, informar que o alimento é um direito de todos, previsto na Constituição”.
2.6. OS ALIMENTOS APODRECIDOS E OS CRÉDITOS DE CARBONO
O desperdício de alimentos é o terceiro maior responsável pela emissão de CO2 no mundo(Fonte: FAO).
Com a grande quantidade CO2 gerada pelos alimentos apodrecidos, os intermediários na venda de Créditos de Carbono podem ganhar muito dinheiro. Provavelmente são favoráveis ao desperdício.
O papel dos bancos de alimentos – que armazenam e redistribuem comida que seria desperdiçada – é fundamental nesse processo [de contenção desse desperdício], observa o representante da FAO [para infelicidade dos profissionais especializados na venda de Créditos de Carbono].
“Deveria ser parte da normativa do funcionamento de qualquer central de abastecimento ter um banco de alimentos eficiente para evitar jogar fora o que não foi consumido na feira”, propõe Alan, e lembra que a meta da FAO para a América Latina é reduzir o desperdício a menos de 10% até 2025.
“Nunca vamos ter desperdício ou perda zero. Esse é um ideal, mas o importante é reduzir substancialmente, para que se atinja um nível mais aceitável de eficiência no uso dos recursos”.
O Brasil é um dos dez países que mais desperdiçam alimentos. Cerca de 30% da sua produção é jogada fora na fase chamada de pós-colheita, ou seja, após o processamento ou até o alimento ser consumido (Fonte: FAO).
2.7. PRONTO PARA CONSUMO - MESA BRASIL DO SESC SÃO PAULO
Em 2015, o programa Mesa Brasil Sesc São Paulo completa 21 anos. A data marca mais um passo importante em sua trajetória: a criação do Centro de Captação e Armazenagem Mesa Brasil (CECAM). Com 1600 metros quadrados, capacidade para até 400 toneladas e uma frota de quatro caminhões, o espaço destina-se a captar e armazenar grandes volumes de doações de alimentos. Com o novo local o programa passa a atender mais pessoas e com maior qualidade, reforçando o compromisso de recolher alimentos próprios para consumo que seriam descartados, triá-los e distribuí-los a instituições sociais.
Criado para melhorar a logística do Mesa Brasil no estado de São Paulo, o CECAM serve de ponto de apoio para as 13 unidades do programa e tem função estratégica para distribuir alimentos entre interior, litoral e capital. A previsão é não apenas aumentar o volume de doações, mas também ampliar a gama de alimentos captados.
“Hoje coletamos e distribuímos grandes volumes de doações com maior agilidade e, assim, os alimentos chegam a mais pessoas. Uma doação de melão, por exemplo, que atenderia somente as instituições sociais da capital, hoje chega ao interior e ao litoral. Essa dinâmica fideliza as empresas parceiras”, explica a coordenadora do CECAM, Karen Leal.
“Contamos com uma equipe de captação dedicada a buscar novos doadores, para que em breve outras entidades sejam cadastradas e todas recebam alimentos variados e de qualidade”.
Com o início das operações em junho [de 2015], o Centro de Captação recebeu 512 toneladas de alimentos nos três primeiros meses, como suco de frutas (156 toneladas), leite (95 mil litros), frutas (80 toneladas), arroz (25 toneladas), cereal matinal (10 toneladas), chocolates (32 toneladas) e chá pronto (72 toneladas). A quantidade de arroz recebida, por exemplo, é suficiente para preparar 167 mil porções, e a quantidade de leite equivale a 317 mil copos. Esses alimentos, assim como as demais doações que chegam diariamente ao CECAM, são distribuídos entre as 13 unidades do Mesa até chegar a quase 800 instituições cadastradas, atendendo a mais de 140 mil pessoas.
2.8. O PROGRAMA DO MESA BRASIL DO SESC SÃO PAULO
Exemplo de organização e logística de distribuição de alimentos no país, o Mesa Brasil foi iniciado pelo Sesc SP em 1994 e, desde 2003, foi replicado nacionalmente.
O programa é uma ponte que busca onde sobra e entrega onde falta. Alimentos in natura ou industrializados, que perderam seu valor comercial mas encontram-se em condições próprias para consumo, são recolhidos em empresas, centrais de distribuição, supermercados, padarias, sacolões, indústrias e feiras. Depois, são encaminhados a instituições como creches, abrigos, albergues, asilos e casas de convivência.
Além de coletar e entregar doações, o Mesa Brasil Sesc São Paulo também desenvolve ações educativas, como palestras, cursos e oficinas culinárias, ministradas por nutricionistas, culinaristas e outros profissionais que orientam as instituições atendidas e seus públicos sobre como montar cardápios saudáveis e evitar o desperdício, manter a higiene no manuseio dos alimentos e armazená-los de maneira correta.