CHIPRE - UM PARAÍSO FISCAL QUE VIROU PESADELO PARA A EUROPA
NA ISLÂNDIA OS BANCOS PRIVADOS FORAM CONDENADOS À FALÊNCIA
São Paulo, 13/01/2014 (Revisado em 18-03-2024)
A Lição Democrática da Islândia, Falência Econômica dos Países Desenvolvidos, Especulação dos Banqueiros no Mercado Financeiro e de Capitais, Manipulação das Demonstrações Contábeis e das Cotações no Sistema Financeiro Mundial, Globalização, Autorregulação dos Mercados Globalizados, Falência dos Pilantras Estabelecidos em Paraísos Fiscais.
UM PARAÍSO FISCAL QUE VIROU PESADELO PARA TODA A EUROPA
Por J. Carlos de Assis. Publicado por Carta Maior em 25/03/2013 - Copyleft. Com edição e comentários em azul por Américo G Parada Fº - Contador - Coordenador do COSIFe.
Em algum momento algo como a crise de Chipre teria de acontecer para expor ao mundo, de forma pedagógica, a monstruosidade que se tornou o sistema financeiro internacional.
Na verdade, a primeira crise que abalou parte significativa da Europa aconteceu em 2008 e repercutiu em 2009 em razão das severas alterações acontecidas no sistema financeiro da Islândia, que pretendia ser um paraíso fiscal especializado na captação do dinheiro de investidores (especuladores) ingleses e noruegueses.
Veja informações complementares em A Lição Democrática da Islândia, cuja população, em plebiscito, optou pela decretação da falência de todos os seus bancos privados porque seus credores eram estrangeiros.
Os fatos não foram mencionados por jornais brasileiros. As notícias aqui publicadas foram obtidas na Europa, especialmente no site SAPO de Portugal.
A Islândia é uma ilha com cerca de 300 mil habitantes situada no extremo norte do Oceano Atlântico, com parte de seu território situado no Oceano Glacial Ártico. Isto é, sobre seu território passa o virtual e geográfico Círculo Glacial Ártico.
Por sua vez, Chipre é uma ilha insignificante do Mediterrâneo com um PIB de pouco mais de 10 bilhões de euros. Em tese, nada que tenha acontecido ali deveria abalar o sistema bancário europeu, mesmo que o montante de seus ativos financeiros especulativos atinja cerca de 8 vezes o seu PIB - Produto Interno Bruto.
Contudo, a estupidez alemã transformou a crise nessa ilha de fantasia, nada mais que um paraíso fiscal para magnatas russos, num bumerangue com potencial de reverter sobre a Europa e o mundo.
Foram os alemães como mandantes nos bastidores da troika – Comissão Europeia, BCE e FMI – que tiveram a ideia fantástica de exigir como garantia de um empréstimo de 10 bilhões de euros para estabilizar o sistema bancário cipriota um imposto excepcional sobre depósitos em seus principais bancos.
O imposto deveria atingir inclusive a parte dos depósitos coberta por seguro (100 mil euros) o qual protege depósitos de todos os países que aderiram ao euro.
Considerado o tamanho econômico de Chipre, o efeito seria irrelevante. Porém, considerado o precedente [cobrança de tributo que seria pago pelos especuladores], é como uma pequena gravidez: a insegurança se instalou em toda a zona do euro, sobretudo no sul da Europa.
Na realidade a tributação era uma espécie de confisco que assustou a todos os investidores e especuladores nas suas relações com os bancos europeus também fragilizados pela crise financeira e fiscal.
Alguém poderia esfregar as mãos e dizer: ótimo, que os bancos de Chipre paguem pelos seus pecados, principalmente pelo pecado de lavar dinheiro ilegal russo.
O mais provável é que, além do dinheiro ilegal dos russos, os banqueiros de Chipre, tal como fizeram os banqueiros islandeses, tenham perdido o dinheiro de seus depositantes no Cassino Global que é o mercado de capitais. E, perderam quase todas as apostas que tinham feito, por isso quebraram.
A grande preocupação dos governantes da Zona do Europa deve ser porque lá em Chipre também estava grande parcela do dinheiro recebido como suborno (corrupção) por políticos e governantes europeus.
Então, aqueles corruptos, por meio do Banco Central Europeu, emprestaram dinheiro do povo para que banqueiros cipriotas pudessem resgatar o dinheiro depositado pelos citados corruptos da Europa e pelos seus asseclas.
Bem, tivemos algo similar com o Lehman Brothers: o secretário do Tesouro norte-americano decidiu fazer jogo duro em nome do liberalismo, e como resultado da ação governamental em proteção aos especuladores ainda hoje estamos pagando o pato sob a forma de cinco anos de virtual estagnação no mundo industrializado avançado e grande oscilação nos países em desenvolvimento.
O fato é que os alemães, como árbitros da troika, estão conduzindo a política europeia de repressão fiscal como um aspecto de seus preconceitos morais calvinistas, e não como uma questão financeira.
Fizeram assim na Grécia, na Irlanda, em Portugal, na Espanha e na Itália. A todos esses países impuseram políticas extremamente restritivas do ponto de vista fiscal impedindo qualquer possibilidade de retorno do crescimento. São cinco anos seguidos de crise. A esses países se somou a Inglaterra, que mesmo tendo moeda própria, filiou-se ao clube da repressão fiscal, para entrar, também ela, na fila da recessão permanente.
Com Chipre, porque parece suficientemente pequeno para não poder esboçar qualquer reação, a troika a serviço de Merkel [a toda-poderosa ministra alemã] deu um passo avante, no sentido de sinalizar a todos os depositantes em bancos na Europa que, na medida do avanço da crise, parte dos seus investimentos poderão ser confiscados. É claro que, diante da tributação, os investidores em bancos cipriotas resgatarão suas poupanças em bancos de países com economias mais vulneráveis para depositá-las em bancos alemães e, em último caso, norte-americanos.
Na verdade, o dinheiro resgatado na Europa veio para o Brasil, o que a presidente Dilma denominou como "tsuname financeiro" provocado pelas medidas impostas pelo governo alemão.
O prejuízo brasileiro foi que a grande entrada de capital estrangeiro (europeu) provocou a diminuição da cotação do dólar em reais. Isto reduziu drasticamente as nossas exportações e incentivou a importação de produtos que poderiam ser fabricados no Brasil.
Porém, os nossos irresponsáveis empresários do setor industrial preferiram importar porque tais produtos ficaram mais baratos no exterior. Desse modo, aumentou a nossa dívida externa e diminuiu o saldo da nossa Balança Comercial.
Assim, aceleram-se os chamados déficits em Conta Corrente, visto que as importações passaram a ser maiores que as exportações. Foi essa constante equação com resultado negativo que provocou a bancarrota dos países desenvolvidos.
Assim, com a falência dos bancos privados cipriotas, teríamos muito provavelmente uma reedição em menor escala do acontecido com o Lehman Brothers.
Na verdade o Lehman Brothers mostrou para o Mundo que o RISCO USA (o risco de investir nos Estados Unidos) é muitíssimo maior que o RISCO BRASIL.
A crise enfrentada pelos Estados Unidos, deixou completamente nua (aberta ao mundo) a máxima fragilidade do sistema financeiro norte-americano. Mostrou para o mundo como é extremamente perigoso investir ou participar de quaisquer negociações feitas em Wall Street desde muito antes da Crise de 1929.
Assim sendo, se de fato os bancos cipriotas quebrarem, tal como aconteceu na Islândia e em países ainda incógnitos, foram os corruptos europeus e dos demais países os que mais perderam. Isto significa que eles podem ficar tão pobres como a população por eles explorada.
Não importa que hoje ou amanhã a decisão da troika seja revertida ou transformada em algo mais palatável. O mal está feito. É que, num determinado momento, as maiores autoridades financeiras e econômicas da Europa concordaram com a medida antes impensável de tributar depósitos bancários, especialmente os efetuados em paraísos fiscais. Não só concordaram, mas a impuseram.
Portanto, em situações similares no futuro, em qualquer país cujos bancos estiverem em grande dificuldade, os governantes poderão voltar a exigir a mesma medida. Se isso não for um expediente caviloso para liquidar com os bancos do sul da Europa e alimentar os gatos gordos do norte é difícil ver outro propósito.
Talvez no fim disso tudo haja um lado bom: a progressiva liquidação de bancos de paraísos fiscais como Chipre, tal como aconteceu na Islândia, na medida em que os aplicadores tomem consciência dos riscos de colocarem seu dinheiro em instituições que não passam de bases especulativas para lavagem de dinheiro.
Sobre o mencionado risco enfrentado pelos incautos investidores, neste COSIFe foi publicado o texto A Responsabilidade Social dos Bancos Offshore.
No referido texto discorre-se especialmente sobre a falta de fiscalização governamental sobre esses bancos virtuais, visto que tais países (paraísos fiscais cartoriais) apenas se apresentam como meros cartórios de registro civil de pessoas jurídicas, as quais têm suas sedes virtuais instaladas em Caixas Postais da Agência de Correio local.
Nenhum dos governantes (senhores feudais) daquelas ilhas do inconfessável sabe exatamente em que localidade tais bancos virtuais estão realmente operando. Ninguém sabe onde se escondem os seus fictícios dirigentes (testas de ferro ou laranjas).
Logo depois do início da crise, em 2008, França e Alemanha se alinharam no sentido de acabar com os paraísos fiscais. Depois não mais se ouviu falar nisso, mesmo porque os norte-americanos não se moveram. Com algumas quebras nos paraísos a partir de Chipre e da Islândia, talvez o melhor aconteça.
O mesma quebradeira aconteceu com os Fundos Offshore (Fundos de Investimentos administrados por Bancos Offshore).
A falência dos Fundos de Hedge, administrados ninguém sabe por quem, geraram significativas perdas aos contribuintes de Fundos de Pensão europeus. E a função básica dos Fundo de Hedge seria a de proteger os investimentos dos contribuintes, que são os futuros beneficiários dos fundos de pensão.
Veja ainda o texto Desvios ou Desfalques nos Fundos de Pensão em que se discorre sobre a insolvência fundos de pensão estaduais que foram criados para pagamentos de aposentadorias de servidores públicos da metade dos quase 50 estados norte-americanos.
Para combate aos paraísos fiscais, de modo que seja automaticamente gerada a extinção destes, basta que os países confisquem todos os investimentos efetuados por seus compatriotas em paraísos fiscais e ainda confisquem todos os investimentos originários de paraísos fiscais, ou intermediados por estes, que foram efetuados em empresas estabelecidas em seus respectivos territórios.
Porém, isto jamais acontecerá porque os governantes desses países prejudicados pelos paraísos fiscais, e seus correligionários, são os principais credores daquelas ilhas do inconfessável.
Veja também: Nova Ofensiva dos Pilantras Escondidos em Paraísos Fiscais