A ISLÂNDIA À BEIRA DA BANCARROTA
A TERRA DO GELO ENFRENTA CRISE MAIOR QUE A DOS IANQUES E DE DUBAI
São Paulo, 05/01/2010 (Revisado em 13-03-2024)
IDH - Índice de Desenvolvimento Humano, Crise Financeira Mundial ou Internacional, Especulação Imobiliária e nas Bolsas de Valores, Calote da Dívida Externa, Paraísos Fiscais, Ciranda Financeira, Falência do Capitalismo Privado, Privatização dos Lucros e Socialização dos Prejuízos, Comparações: Estados Unidos x Islândia - EUA x Dubai - USA x Suécia. Bancarrota - Risco Sistêmico - Falências Encadeadas. A Falsa Riqueza dos Países sem Reservas Minerais Exportáveis - Os Países e Suas Reservas Estratégicas. Balanço de Pagamentos - Contas Nacionais. Contabilidade de Custos. Precificação - Formação de Preços ou de Custos de Produção. O FMI e o Sistema Monetário Internacional. Os neoliberais e a autorregulação dos mercados. Contabilidade de Custos.
Por Américo G Parada Fº - Contador - Coordenador do COSIFE
1. A FALÊNCIA DA ISLÂNDIA (ICELAND = TERRA DO GELO)
Em 07/10/2008 o site Sapo de Portugal , escrito em português de Portugal, publicou texto mencionando que a Islândia (país ilhéu situado ao Norte do Oceano Atlântico, entre a Noruega e a Groenlândia, podia ser uma ilha (país) na bancarrota. A notícia baseou-se no alerta proferido pelo primeiro-ministro do governo de Reykjavik (capital da Islândia). Ele avisou aos islandeses para se prepararem para o pior, dizendo que muita gente ía perder dinheiro.
O site Sapo continuou afirmando que a Islândia enfrenta uma crise financeira maior do que a existente nos Estados Unidos, devido ao endividamento excessivo à banca (aos bancos = sistema financeiro) e ao crédito mal parado (crédito mal investido) de proporções gigantescas, que levaram o terceiro maior banco do país, o Glitnir, a ser nacionalizado (estatizado), depois de ter declarado falência técnica.
Apesar da garantia estatal sobre os depósitos (privatização dos lucros com a socialização dos prejuízos), instalou-se o pânico junto dos investidores e depositantes, que ameaça levar agora à falência os outros bancos, até ao momento em situação sólida.
Num discurso à nação,..., o primeiro-ministro islandês admitiu que toda a banca (sistema financeiro islandês) pode entrar em colapso e alertou a população para se preparar para o pior.
Geir Haarde (primeiro-ministro) frisou que o desmoronamento da banca (do sistema financeiro pela falta de liquidez) levaria ao colapso total da economia e à falência do próprio estado islandês (por falta de reservas monetárias), daí ter apelado à calma dos islandeses. Caso se mantenha o nervosismo, o país pode ser, dentro de alguns dias, uma ilha na bancarrota.
Numa tentativa de acalmar os islandeses, o governo e a oposição aprovaram um plano de emergência que suspende (a negociação de ações) dos bancos islandeses na bolsa de valores de Reykjavik, passando o Estado a controlar todas as decisões centrais do sector bancário.
Ou seja, mais uma vez, por má administração, por aventureirismo e especulação, os banqueiros faliram deixando o seu país na bancarrota (insolvência, falência, sem reservas monetárias e sem produção para saldar dívidas externas).
Na verdade os banqueiros islandeses fizeram o que também foi feito no Brasil, por exemplo, pelo banqueiro Salvatore Cacciola (Banco Marka). Ele captou dinheiro dos seus crédulos investidores e o aplicou na especulação financeira, que no Brasil era chamada de ciranda financeira. Quando a especulação deixou de ter resultados positivos, o banqueiro quebrou. Foi o que também aconteceu com o famoso mega-especulador Nagi Nahas e mais recentemente com o banqueiro Edmar Cid Ferreira do Banco Santos que prejudicou os participantes de pelo menos 18 fundos de pensão por ele administrados, respaldado por Agências Classificadoras de Riscos (Agências de Rating).
2. ISLÂNDIA É UM DOS PAÍSES MAIS RICOS DO MUNDO???
O site Sapo de Portugal escreveu que a Islândia, com uma população de apenas 313 mil habitantes, é um dos países mais ricos do mundo, mas também se tem revelado muito vulnerável à crise global na medida em que o sector financeiro representa uma enorme fatia na economia islandesa.
IDH - ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO
Fonte: ONU - IDH-2008 - Mapa Mundi com distribuição do IDH por país, diferenciado por cores:
██ Desenvolvimento humano muito elevado (acima de 0,900)
██ Desenvolvimento humano elevado (de 0,800 a 0,899)
██ Desenvolvimento humano médio (de 0,500 a 0,799)
██ Desenvolvimento humano baixo (abaixo de 0,500)
Veja a relação dos países segundo seu IDH no site da Wikipédia.
Na realidade, conforme mostrou documentário feito pela TV RECORD exibido no Programa Domingo Espetacular, naquele país do sol da meia-noite a população tem um padrão vida de deixar com inveja o povo de qualquer outro país. Na pesquisa da ONU sobre IDH do ano de 2008, a Islândia era o 3º país com o mais alto índice de desenvolvimento humano. Semelhante padrão de vida têm as populações da Suécia (7º) e Dubai (Emirados Árabes Unidos = 35º), como foi mostrado em reportagens pela mesma emissora.
Entretanto, entre os 38 países com IDH "muito elevado" estão alguns dos mais endividados do mundo: Islândia, Estados Unidos, Irlanda, Espanha, Grécia, Portugal, Dubai, entre outros que também têm dificuldades em seus respectivos Balanços de Pagamentos porque suas importações estão acima de suas respectivas capacidades de exportar.
Mesmo que tenha esse "muito elevado" IDH, não podemos dizer que a Islândia seja um país rico, o que obviamente não é. Tanto a Islândia como Dubai elevaram o padrão de vida de seu povo com dinheiro alheio, obtido no exterior mediante empréstimo, e agora não têm condições de liquidar a dívida assumida porque nada têm para exportar. A impagável dívida externa islandesa nos mostra que se trata de propaganda enganosa dizer que aquele país é um dos mais ricos do mundo. O máximo que poderia ser dito é que a Islândia, em razão do alto padrão de vida de seu povo, tem "indicadores sociais de país rico".
Na verdade, proporcionalmente ao seu PIB - Produto Interno Bruto, a Islândia é o país com a maior dívida externa do mundo, que corresponde a 5 vezes o seu PIB. Em razão da especulação financeira e do falso crescimento do seu sistema financeiro, o PIB da Islândia estava inflado, não representando a real situação econômica daquele país. A divida estava subestimada porque alguns de seus banqueiros captaram no exterior, aplicando o dinheiro na especulação financeira dos Estados Unidos, sem que os recursos financeiros transitassem pela Islândia. Mas, uma parte desse dinheiro alicerçava o alto padrão de vida dos islandeses, mediante importações financiadas pelos banqueiros islandeses que operavam na Europa (na Holanda e na Inglaterra) aos quais investidores ofereciam altas taxas de juros, tal como acontecia no Brasil durante a dita ciranda financeira.
Segundo o governo islandês, os ganhos e as perdas islandesas foram virtuais. Os ganhos especulativos não foram realizados, isto é, os investimentos especulativos efetuados nos Estados Unidos não foram resgatados antes da bancarrota norte-americana. Assim, o prejuízo também foi virtual porque na realidade não havia um verdadeiro ganho financeiro; era apenas um ganho especulativo. O problema foi que os islandeses passaram a gastar por conta daquilo que não iriam receber em razão da quebra do sistema financeiro norte-americano. Ou seja, os islandeses captaram dinheiro no exterior para investir (especular) em títulos sem real valor e usaram esses títulos como lastro para comprar bens de consumo. Quando os títulos norte-americanos desvalorizaram em razão das falência de seus banqueiros, os islandeses ficaram sem ter como pagar a sua dívida assumida no exterior. O governo islandês agora explica que a bancarrota de seu país está diretamente ligada à teoria neoliberal da autorregulação dos mercados. Aconteceu a bancarrota porque o governo islandês deixou a sua economia ser gerenciada ao bel-prazer dos banqueiros e dos demais especuladores do mercado financeiro e de capitais. Então, para resolver em parte o problema, o governo islandês estatizou os bancos como forma de erradicar a ciranda financeira.
Poderíamos comparar a situação da Islândia com a daquele indivíduo com alto padrão de vida que mora num apartamento de cobertura com vista panorâmica para o mar e do outro lado para a montanha, mas que há cinco anos não tem pago o condomínio, nem o IPTU e nem o Laudêmio, teve os seus três carros importados reavidos pela empresa de arrendamento mercantil, foi preso por falta de pagamento da pensão alimentícia da ex-esposa e dos filhos, está com apartamento e outros bens penhorados a empréstimos diversos, razão pela qual o imóvel será leiloado para abatimento de parte da exorbitante dívida assumida, que não tem condição econômico-financeira para liquidar.
Veja o vídeo produzido em francês, publicado com legenda em português. Veja ainda, o texto publicado no COSIFE intitulado A Lição Democrática da Islândia.
3. BRASIL VERSUS ISLÂNDIA E DUBAI
Na mesma lista publicada pela ONU - Organização das Nações Unidas, com IDH considerado elevado, em 75º lugar está o Brasil que de fato pode ser chamado de país rico porque tem grandes reservas minerais exportáveis e ainda possui grandes áreas cultiváveis, grande biodiversidade, grande potencial para gerar energia limpa (hidrelétrica). Além desses fatores positivos, o Brasil tem vasto litoral em que pode ser explorada a energia eólica e o turismo que também pode ser explorado no interior. No Brasil não há terremotos significativos, nem vulcões, nem outros tipos de catástrofes sísmicas. O grande problema brasileiro é mentalidade tacanha de sua "sociedade civil", aquela que tem dinheiro para importar o que bem quiser, para sejam criados empregos no exterior e nunca em nosso território. Para evitar que sejam criados empregos no Brasil, os empresários brasileiros desde os tempos da escravidão preferem exportar matérias primas (produtos "in natura", sem beneficiamento industrial) para que não sejam gerados empregos no Brasil. Essa mesma "sociedade civil" paga baixos salários aos seus empregados para impedir que tenham pelo menos o IDH "médio". Em razão dessa falta de emprego, ainda há grande quantidade de miseráveis e favelados no Brasil que geralmente sobrevivem da economia informal. Para conseguir algum dinheiro, muitos brasileiros guindaram para a criminalidade do narcotráfico que é sustentado pelos filhos dos endinheirados ("os riquinhos", como dizia o jornalista e apresentador Marcelo Rezende no Jornal da RedeTV).
Segundo dados publicados pelo IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada neste início de 2010, o povo brasileiro poderia ter semelhante indicador social de país rico em 2016, obviamente se os sucessores de Lula mantiverem o mesmo objetivo econômico-social, que é o de dar condições à população brasileira de consumir, além de serem melhorados os sistemas de saúde, educação e saneamento básico. Infelizmente o maior problema brasileiro está nos Estados do norte e nordeste, o que tem motivado o constante êxodo para a região sudeste onde o retirante só consegue alojar-se em favelas em razão do seu elevado desnível sociocultural causado principalmente pela falta de escolaridade.
4. É PRECISO EXPORTAR PARA QUE SE POSSA IMPORTAR
A regra básica para que um país seja próspero e verdadeiramente rico é mediante a manutenção de equilíbrio em seu Balanço de Pagamentos. Se o país tiver déficits constantes e crescentes, obrigando-o a contrair empréstimos externos, como acontece com os Estados Unidos e com a Islândia, com o passar do tempo o país se tornará inviável, principalmente se não tiver produtos exportáveis como reservas minerais, produção agrícola e bens de consumo industrializados. Os Estados Unidos tem condições de ser país viável porque pode aumentar as suas exportações e diminuir as suas importações. A Islândia não tem.
A causa dos déficits crônicos, tanto de Dubai como da Islândia e dos Estados Unidos, é o de não conseguir exportar o suficiente para superar as importações que são as mantenedoras do alto padrão de vida de seus respectivos povos. Ou seja, esses citados países, ao contrário da Suécia, não recebem rendas externas em montante suficiente para manter saldo positivo em seu Balanço de Pagamentos (saldo positivo entre exportações e importações, entre outros itens). Tais países, ao importarem mais do que exportam são obrigados a captar empréstimos externos para equilibrar os seus Balanços de Pagamentos, razão pela qual os Estados Unidos quebrou, assim como a Islândia e Dubai.
Qual a diferença básica entre os Estados Unidos e a Suécia?
Nos Estados Unidos prolifera o capitalismo neoliberal (aquele que não tem pátria). Com base nessa premissa os capitalistas norte-americanos internacionalizaram seu capital, transferindo-o para paraísos fiscais, deixando esse país símbolo do capitalismo anárquico (“selvagem”) sem investimentos no exterior. Logo, os Estados Unidos não mais recebem rendas de investimentos no exterior, o que gerou o seu crescente déficit interno e externo (dívidas constantes).
Veja o texto intitulado Os Estados Unidos e a Conversão de sua Dívida.
Por sua vez, a monarquia hereditária sueca (como um feudo, à semelhança de Dubai) implantou um sistema capitalista estatal (na verdade socialista) em que o país é o investidor e controlador das empresas suecas que estão produzindo no exterior. Logo, mesmo tendo suas empresas estabelecidas longe do seu território, o país continua recebendo lucros e dividendos suficientes para manter o alto padrão de vida de seu povo. E as principais indústrias suecas estão estabelecidas no Brasil. Logo, a produção do povo brasileiro indiretamente sustenta o alto padrão de vida do povo sueco, assim como também sustenta o poderio econômico de várias multinacionais, algumas delas falidas fora do Brasil.
Sobre esse tema, em 17/05/2011, o MSN-Estadão-Últimas Notícias publicou notícia sobre a visita oficial do primeiro-ministro sueco Fredrik Reinfeldt ao Brasil. Em parte do texto, sobre os investimentos suecos no Brasil, o Estadão ressalta que:
Após lembrar que a Suécia é um país tradicional e importante investidor no Brasil, onde existem mais de 200 empresas suecas que geram mais de 50 mil empregos, com faturamento de US$ 23 bilhões, [a presidente] Dilma [Rousseff] citou que o comércio entre os países triplicou entre 2003-2008, apesar da crise. A presidente disse que as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e de infraestrutura para a Copa do Mundo e a Olimpíada podem receber investimentos da Suécia.
A presidente comentou também que, na área tecnológica, ela e Reinfeldt concordam que a cooperação já começa a produzir resultados concretos, como o projeto conjunto da Vale e da Scania, para a adaptação no Brasil de motores de grande porte. Dilma falou ainda da importância do centro de pesquisa e inovação sueco-brasileiro em São José dos Campos (SP), que contribuirá para o desenvolvimento do setor aeroespacial dos dois países, e dos projetos de biocombustíveis desenvolvidos pelos parceiros. A presidente citou as vagas em universidades suecas dadas a estudantes brasileiros e disse que deseja 'dar início, em breve, ao projeto piloto de produção de etanol na Tanzânia'.
Reinfeldt, por sua vez, observou que os dois países vão crescer a níveis semelhantes este ano - 4,5% a Suécia e 5% o Brasil. Isso, segundo ele, servirá para incrementar os negócios entre os dois países. O primeiro-ministro disse ainda que São Paulo já é considerado o segundo parque industrial da Suécia. Ao falar do aprofundamento das parcerias, ele destacou a área de biocombustíveis, lembrando que a Suécia é o maior importador de etanol do Brasil na União Europeia.
Veja o texto integral de Tênia Monteiro, publicado pelo MSN-Estadão-Últimas Notícias, em 17/05/2011.
Com base nesse exemplo sueco, a saída para os Estados Unidos seria a de estatizar as empresas norte-americanas que estão produzindo no exterior, para que possa receber os lucros e dividendos vindos do exterior, os quais estão sendo escondidos em paraísos fiscais.
Ao contrário de Dubai e da Islândia, a Suécia consegue manter o alto padrão de vida de seu povo sem dívida externa porque possui terras férteis (tendo como principais atividades o plantio de trigo, batata, beterraba açucareira, entre outros, explorando também a pecuária bovina) e indústrias metalúrgicas (utilidades domésticas, ônibus, automóveis, caminhões, armamentos e aeronaves civis e militares) e de papel com base em florestas cultivadas (reflorestamento).
6. A ISLÂNDIA BUSCANDO TURISTAS PARA AUMENTAR SUA RENDA
Voltando aos comentários sobre a Islândia faz-se necessário chamar a atenção do leitor para o Vídeo da TV Record que foi exibido em agosto de 2008 em três fins de semana. Portanto, os vídeos foram exibidos antes de deflagrada a Crise Mundial provocada pelos Estados Unidos.
Esse fato demonstra que a Islândia, ao receber equipes de reportagem de vários países, tinha a necessidade de efetuar propaganda pelo mundo afora para aumentar sua renda atraindo turistas para verem as maravilhas daquele país gelado ("a ilha encantada"), que tem lagos de águas quentes oriundas de erupções vulcânicas, como as famosas águas quentes de Caldas Novas, em Goiás, no Brasil.
A diferença básica entre o Brasil e a Islândia é que as águas quentes da Islândia são cercadas por neves eternas (gelo) e as do Brasil cercadas por áreas verdes com temperatura tropical. No verão islandês, em que existe claridade solar 24 horas por dia durante um mês e meio (45 dias), a temperatura máxima dificilmente ultrapassa a marca dos 10ºC na parte sul da ilha. Na parte norte a temperatura dificilmente é superior a 0ºC, mesmo no verão.
Exatamente por suas características inóspitas, a ilha foi abandonada pelos seus primeiros colonizadores (os "vikings" = viquingues). Inóspito é lugar que não é apto para hospedar; que não tem condições para agasalhar; em que não se pode viver; em que não há condições normais de sobrevivência.
Ainda segundo o site Sapo de Portugal, em publicação de 20/11/2008, o FMI - Fundo Monetário Internacional aprovou a concessão de empréstimo escalonado, se o país cumprir as metas estabelecidas, analisadas trimestralmente.
Como comparação, podemos dizer que o procedimento adotado pelo FMI na Islândia é semelhante ao estabelecido para o Brasil durante o Governo FHC.
Veja o texto sobre Balanço de Pagamentos.
Naquela mesma ocasião do empréstimo aprovado pelo FMI, o governo islandês tinha congelado as contas de investidores britânicos e holandeses num banco islandês.
8. O FRACASSO DA DIREITA E A ASCENSÃO DA ESQUERDA
Em 27 de abril de 2009 o site Sapo de Portugal esclareceu que, na tentativa de por fim ao desgoverno de outrora, os islandeses viraram à esquerda para virar a página da crise. Os sociais democratas (esquerdistas) e os seus parceiros de coligação, os Verdes, conseguiram eleger uma maioria parlamentar nas eleições legislativas antecipadas e infligiram na direita conservadora do país uma derrota histórica.
Johanna Sigurdardottir, líder dos sociais democratas (de esquerda - socialistas), primeira-ministra interina desde que o Governo conservador (de direita - capitalistas) se demitiu na sequência da crise, deve manter-se no cargo e bater-se por uma integração rápida do país no euro e na União Europeia. Algo que terá de negociar com os seus parceiros de coligação, mais eurocépticos, mais receosos (das verdadeiras intenções dos europeus) por causa da indústria pesqueira islandesa (que é responsável por 80% das exportações e que poderá ser desnacionalizada, ficando sob o domínio dos credores europeus).
Segundo o Dicionário Aurélio, céptico é aquele que duvida de tudo; descrente. Cepticismo é o estado [psicológico] de quem duvida de tudo; descrente. Portanto, eurocéptico seria o descrente das boas intenções dos países da União Europeia que são credores da Islândia.
Além da exportação dos produtos oriundos da pesca oceânica, a Islândia tem como fonte de divisas o turismo em seus gêiseres. Devido à característica gelada do país, excetuando-se o pescado, grande parte dos demais produtos de consumo da população vem do exterior, o que causou a elevada e impagável dívida externa.
Como disse a repórter da TV Record no documentário exibido pelo Programa Domingo Espetacular, a Islândia quase nada produz, tudo vem do exterior.
Gêiser é fonte de águas ferventes provenientes de erupções vulcânicas periódicas que forma lago natural com águas mornas. Essas águas de erupções vulcânicas normalmente têm muitos sais em dissolução, segundo explicações obtidas no Dicionário Aurélio.
Mas, a renda islandesa obtida por esses dois principais produtos de exportação (pescado e turismo) é muito pequena para manutenção do padrão de vida da população. Esse elevado padrão de vida é conseguido mediante a importação de bens de consumo, que são financiados mediante empréstimos externos, como também vem acontecendo nos Estados Unidos e em Dubai.
O problema islandês é mais grave que o norte-americano e que o de Dubai porque a dívida externa da Islândia chega a 5 vezes o valor do seu PIB - Produto Interno Bruto. Mesmo assim, os Estados Unidos, tal como a Islândia não têm condições de liquidar a dívida sem a redução do padrão de vida de suas respectivas populações. Sob esse aspecto, Dubai tem melhores condições de saldar sua dívida externa, porque o xeique de Dubai, tal como fazem os incorporadores imobiliários no Brasil, pretende vender para estrangeiros os imóveis construídos em seu território. O problema do xeique provavelmente será o de não conseguir vender os imóveis por preço superior ao de sua construção, razão pela qual restou a dívida externa (déficit no Balanço de Pagamentos).
Tomando-se por base teórica a Contabilidade de Custos, os valores megalomaníacos gastos com os prédios monumentais construídos em Dubai e os custos de manutenção após o término das construções, foi e sempre será muito elevado, impossibilitando que os investimentos efetuados sejam rentáveis diante da concorrência com outras cidades pelo mundo, que também pretendem implantar ou já implantaram centros internacionais financeiros e comerciais.
10. ISLÂNDIA TERÁ REFERENDO SOBRE CALOTE DA DÍVIDA
BANDNEWS - 05/01/2010
O presidente da Islândia se recusou a assinar uma lei, que prevê um reembolso de US$ 5 bilhões a investidores da Grã-Bretanha e Holanda. O texto será submetido a um plebiscito.
Pressionado pela oposição e pela opinião pública, o presidente Ólafur Grímsson deixou a decisão para a população.
O Parlamento islandês aprovou o projeto de lei, que prevê o pagamento de investidores do banco Icesave. A instituição faliu em 2008, com o estouro da crise econômica global (provocada pelos Estados Unidos) e acabou sendo nacionalizada (Estatizada pelo governo islandês).
Mais de 400 mil pessoas perderam os investimentos que tinham no banco. Se aprovada, a lei poderia abrir caminho para o ingresso da Islândia na União Europeia.
Mas a oposição ao projeto foi grande. Ativistas entregaram petição contra o ressarcimento externo (favorável ao Calote da Dívida), assinada por 60 mil pessoas, quase um quarto da população (eleitora) islandesa.
O povo é favorável ao Calote da Dívida dos bancos privados porque o seu pagamento pelo governo significa a privatização dos lucros com a socialização dos prejuízos. Ou seja, cada cidadão islandês pagará a dívida com seu esforço pessoal (trabalho forçado), enquanto os verdadeiros devedores (os banqueiros islandeses) ficam eximidos de saldá-la. Na realidade os banqueiros quebraram porque investiram o dinheiro captado no exterior na melhoria do padrão de vida do povo islandês, financiando a importação de bens supérfluos, quando deveriam investir ou financiar a produção interna para exportação e para substituir as importações.
A recusa do presidente em ratificar o projeto causou protestos, dentro e fora da ilha (obviamente pelos direitistas internos e pelos credores externos).
A primeira-ministra islandesa disse que a decisão (pelo não pagamento da dívida) pode afundar o país em um ambiente de incertezas.
Já o ministro das Finanças da Holanda, disse que a possibilidade da Islândia não ressarcir os investidores britânicos e holandeses é "desapontadora" e "inaceitável".
Pergunta-se: Pagar como, se divida externa da Islândia é no valor de 5 vezes o seu PIB?
Britânicos e Holandeses serão prejudicados exatamente em razão da incapacidade de analisar as possibilidades de pagamento da Islândia, um país inóspito, quase desértico, que não produz em seu território o suficiente para manutenção de sua população. Por esse motivo, 80% do valor de suas exportações (pescado) são extraídas do mar.
Aliás, alguns bancos brasileiros, em tempos idos agiam da mesma forma: também não faziam a verdadeira e necessária análise dos balanços das empresas tomadoras de empréstimos. Certa vez, quando ministrava um curso sobre Contabilidade Bancária, cinco funcionárias de um importante banco explicaram que "iam desistir do curso porque nada entendiam de contabilidade. Apenas faziam análises de balanços".
Pergunta-se: Como é possível fazer Análise de Balanços sem estar habilitado em Contabilidade?
Na verdade as funcionárias só calculavam os índices, que os demais funcionários do banco também não sabiam analisar. É o que deve estar acontecendo com britânicos e holandeses.
Quando ingressei no Banco Central em 1976, vários servidores da autarquia (analistas de balanços) calculavam índices com base nas demonstrações contábeis remetidas mensalmente pelas instituições do sistema financeiro. Porém, tais servidores nada sabiam sobre a verdadeira análise de balanços. O leitor que também não souber como deve ser feita a verdadeira análise de balanços, poderá orientar-se mediante o roteiro de pesquisa e estudo do site do Cosife intitulado Análise de Balanço.
11. CONCLUSÃO
Estados Unidos, Islândia e Dubai não terão condições de manter o alto padrão de vida de suas respectivas populações porque precisam reduzir drasticamente as suas importações de bens de consumo. E, para que consigam pagar as suas respectivas dívidas externas devem aumentar também drasticamente as suas exportações.
O maior problema de Dubai e da Islândia é o de não ter o que exportar. A única forma de pagamento da dívida seria mediante a venda do patrimônio nacional, que sem sucesso foi feita no Brasil durante o governo FHC.
Por sua vez, a solução para os Estados Unidos seria a de repatriar (mediante a estatização) os capitalistas que fugiram para paraísos fiscais. Outra solução seria a de vender o patrimônio nacional que ainda não se tornou obsoleto. Isto é, a solução seria a de urgentemente vender para os países credores as empresas e a tecnologia que não produzem em grande escala os GEE - Gazes do Efeito Estufa.
Diante do exposto podemos afirmar que o Sistema Monetário Internacional capitaneado pelo FMI - Fundo Monetário Internacional só funcionará perfeitamente se as principais empresas exportadoras e importadoras de cada país forem controladas pelo governo. Isto impediria a fuga de capitais para paraísos fiscais (internacionalização do capital) tão louvada pelos neoliberais anarquistas.
Aliás, torna-se importante lembrar que o FMI foi instituído exatamente com essa finalidade de impedir a bancarrota dos países-membros, mediante monitoramento e socorro financeiro. Porém, diante da crise mundial provocada pelos Estados Unidos da América, o FMI ficou sem fundos para cumprir sua função.
À semelhança da bancarrota norte-americana podemos citar o Caso Nahas que no Brasil quebrou a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. Veja comentário em A Derrocada Financeira Norte-Americana.
Veja ainda os textos sobre Créditos de Carbonos e Aquecimento Global