Ano XXV - 29 de março de 2024

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A NOVA SÃO PAULO DOS BANDIDOS, MORCEGOS E FANTASMAS


A NOVA SÃO PAULO DOS BANDIDOS, MORCEGOS E FANTASMAS

TEXTO DE 1999 QUE PREDIZIA O QUE ACONTECEU EM 2013

São Paulo, 17/02/2014 (Revisado em 13-03-2024)

Referências: Desemprego Conjuntural e Estrutural, Industrialização versus Prestação de Serviços, Reforma da Conjuntura Produtiva, Contabilidade de Custos, Substituição do Trabalho Braçal pelas Máquinas, Informática e Robótica.

O FRACASSO DO CAPITALISMO NEOLIBERAL GLOBALIZADO

Por Américo G Parada Fº - Contador - Coordenador do COSIFE

O texto que está na segunda metade desta página, intitulado Bandidos, Morcegos e Fantasmas, foi escrito em 1999 pelo jornalista Gilberto Paim. Era parte de uma coletânea pessoal de artigos de jornais recortados e guardados pelo coordenador deste COSIFE. O referido só foi publicado em 2002 porque o site vinha sendo estruturado com base em fatos passados que poderiam influir significativamente no sistema econômico e contábil futuro, neste caso, especialmente na área da Contabilidade de Custos. O combate à elevação dos custos operacionais é uma das formas de se evitar uma real inflação.

De início, vamos a algumas considerações.

O Brasil vinha enfrentando inflação galopante, a cada ano maior. Então, com a implantação do Plano Real na década de 1990 a teoria econômica aconselhava que, para evitar a inflação, deveria ser provocada uma artificial recessão.

Alguns colegas de profissão da Presidenta Dilma, queriam que ela fizesse o mesmo. Porém, ela reagiu energicamente, inclusive em eventos internacionais, dizendo com outras palavras que era totalmente contrária a esse tipo de remédio amargo, que sempre é indicado ou receitado somente para o Povo.

Alguns teóricos ainda acreditam que esse remédio amargo da recessão é a solução, inclusive para a Crise Mundial de 2008. Estavam usando essa teoria recessiva nos Estados Unidos e na Europa, porém, manipulando os números do PIB - Produto Interno Bruto, dizem que aqueles países estão crescendo mais que o Brasil. A continuar desse jeito (com manipulações dos resultados), alguns progressistas dizem que haverá nova bancarrota nos países desenvolvidos em 2016.

Como é possível gerar essa artificial recessão?

Basta gerar desemprego, visto que a teoria econômica diz que a inflação acontece por excesso de consumo dos trabalhadores e não por falta de produção por parte dos patrões.

Os contadores preferem uma premissa inversa, a qual parece ser mais lógica. A inflação existe porque a produção não é suficiente para o atendimento da demanda. O excesso de procura, acirra a sanha de acumulação de capital, mediante a elevação dos preços e dos lucros, que é sempre pretendida e alimentada pelos especuladores, que alguém chamou de "liberais predadores".

Essa lógica progressista aqui defendida pelo coordenador do COSIFE, sempre nos foi mostrada pelo País símbolo do Capitalismo Empreendedor, que era os Estados Unidos da América. Agora é símbolo do Capitalismo Bandido dos Barões Ladrões.

Apesar de ter uma população altamente consumista, lá nos STATES não existe inflação porque é plenamente atendida a demanda mediante o aumento da produção e da produtividade.

A Produtividade, segundo a contabilidade de custos, reduz os custos de produção e consequentemente reduz os preços pagos pelo consumidor.

Isto acontece porque os custos fixos obviamente são invariáveis. Logo, se determinada fábrica produzia uma pequena quantidade e depois passou a produzir uma grande quantidade no mesmo espaço de tempo e com os mesmos trabalhadores, usando os mesmos equipamentos, o custo de cada unidade produzida será bem menor.

Mas, os gestores da nossa política econômica e monetária, preconceituosos, discriminadores e especialmente escravocratas (segregacionistas), ao contrário do que antigamente faziam os seus colegas norte-americanos, preferiam manter o Povo brasileiro na extrema pobreza. Por isso, desde 1964 no Brasil houve um grande crescimento das favelas, que tinham sido praticamente erradicadas por Getúlio Vargas.

Porém, antes da implantação do Plano Real, desde a década de 1970, o que realmente vinha causando o desemprego era a substituição dos trabalhadores de baixa qualificação pelas máquinas controladas pelos programas de computadores eletrônicos, alguns ainda de 2ª geração (transistorizados). Naquela ocasião já estava sendo desenvolvida alta tecnologia por meio da informática e da robótica.

Contudo, a introdução da automação não tinha o intento de reduzir custos operacionais. Pelo contrário, depois de implantada a automação, os preços pagos pelos consumidores aumentaram significativamente.

O preço dos carros, por exemplo, aumentou assustadoramente nas décadas de 1980 e 1990. Então, o Povo passou a comprar carros usados, que ficaram extremamente valorizados. O Brasil ainda é o país em que o Povão paga mais caro por um carro usado.

A verdadeira intenção do empresariado industrial (principalmente o multinacional) era a de tornar os sindicalistas desacreditados pelos trabalhadores.

Então, nas demissões em massa, os sindicalistas eram acusados como culpados da implantação da automação que gerou as demissões. E de fato foram, porque combatiam a exploração do Trabalho Escravo pelos industriais, pelos comerciantes e também pelos fazendeiros.

Diante desses fatos, quase no final do ano de 2004, neste COSIFE foi publicado o texto A Crise do Desemprego em que se versava sobre os conceitos de desemprego estrutural e conjuntural.

Assim sendo, a substituição da mão de obra humana pelas máquinas criou um Desemprego Estrutural. Ou seja, os desempregados foram obrigados a procurar outro tipo de emprego e, assim, muitos, sem opção de trabalho, guindaram para a economia informal do contrabando e da pirataria, que serviu de trampolim para uma criminalidade bem mais contundente, passando pelo narcotráfico.

Mais adiante está texto publicado em 1999, quando se destacou o alto índice de desemprego no Brasil, que passou a existir em razão das mudanças estruturais nas indústrias.

Como aquele tipo de conjuntura econômica, em que se baseou o Plano Real, era amplamente recessivo, o desemprego e os déficits públicos (interno e externo) continuaram a aumentar até 2002.

A partir de 2003 aquela suicida política econômica foi modificada, mediante a reativação de muitas empresas, com o consequente incremento das nossas exportações, inclusive na esfera dos negócios agropecuários. Assim, em 2013 o Brasil quase chegou ao pleno emprego.

A NOVA SÃO PAULO DOS BANDIDOS, MORCEGOS E FANTASMAS

Publicado no Jornal Folha de São Paulo, em 14/10/1999 - Autor: GILBERTO PAIM (*1920 - †2013) - jornalista. Foi professor da Escola Interamericana de Administração Pública, da Fundação Getúlio Vargas - Rio de Janeiro. Texto original editado com a colocação de anotações, complementos e comentários em azul por Américo G Parada Fº - Contador - Coordenador do COSIFE.

Gilberto Paim, embora fosse um liberal, querendo dizer a verdade e nada mais que a verdade, neste texto passou a combater o neoliberalismo. Vejamos.

Em 1999, durante o Governo FHC, o fenômeno do desemprego irredutível, provocado pelas novas tecnologias que multiplicam a produtividade na produção e na administração, ao mesmo tempo em que cortam empregos, encontrou São Paulo despreparada para enfrentar o problema em condições de manter a estabilidade social.

Todas as regiões metropolitanas brasileiras sofreram a incidência de altas taxas de desemprego, durante o Governo FHC. Mas o desemprego em São Paulo tinha características próprias, distinguindo-se do fenômeno que se observava, por exemplo, em Salvador (Bahia).

A notória evasão de empresas do ABCD [Região Metropolitana da cidade de São Paulo] tornou mais grave o problema, pelo desaparecimento de postos de trabalho [Desemprego Conjuntural], quando já era bem conhecido o agravamento do problema social decorrente do desemprego tecnológico [Desemprego Estrutural].

A diferença consistia no fato de que, enquanto a área de Salvador estava em processo de expansão industrial, São Paulo se desindustrializava.

Isto é, as indústrias fugiram de São Paulo para pagarem menores salários no Nordeste brasileiro, tal como fizeram as indústrias norte-americanas e europeias que foram explorar o trabalho em regime de semiescravidão na Ásia.

As taxas de desemprego eram maiores em Salvador do que em São Paulo, mas, se considerarmos o grau de violência verificado na região metropolitana paulista, a região da capital da Bahia era uma área pacífica, onde se vivia com tranquilidade.

Na Grande São Paulo, o esvaziamento industrial juntava-se aos cortes produzidos pelas novas tecnologias para tornar improvável a reocupação de postos de trabalho. Em grande parte esses postos deixaram de existir. Obviamente gerando o grande índice de desemprego verificado depois da implantação do Plano Real.

Numa região subdesenvolvida como era a do Nordeste, a população de baixa renda estava habituada a um estilo de vida que induz à acomodação com as tradicionais condições de existência, caracterizadas pela pobreza.

Na área industrialmente desenvolvida, a perda do emprego reduz o padrão de vida e inclina os desempregados ao inconformismo com a perda de renda e a desocupação involuntária.

A consequência mais imediata do desemprego [existente em 1999], numa área como a Grande São Paulo, foi a insegurança pública, que fez do medo a companhia inseparável dos cidadãos.

E parece ser esse medo a força motriz que tende a tornar São Paulo uma região economicamente debilitada, cujos habitantes de renda mais elevada só terão a certeza de preservar a vida se puderem escapar para outras regiões.

As empresas que abandonaram a região metropolitana paulista fugiram da violência e da insegurança, do sindicalismo radical, dos rigores do fisco [combate à sonegação fiscal] e da extorsão dos fiscais, numa área onde são alarmantes os índices de poluição atmosférica. O número de assaltos diários a bancos, a casas e a pessoas chega a extremos, enquanto empresários, vítimas preferenciais de sequestradores, procuram segurança em carros blindados e em edifícios que são verdadeiras prisões de luxo [com eram os castelos dos grandes senhores feudais na Idade Média].

A crise de hoje [14/10/1999] não tem afinidade com as crises econômicas periódicas do passado. Nas crises cíclicas anteriores predominava um estado de resignação das pessoas afetadas pelo desemprego. Era só esperar e deixar passar a onda.

Em 1999, a economia nacional e mundial achava-se em transição. Estava mudando de face e imprimirá na sociedade uma fisionomia tão diferente da de 14/10/1999 quanto foi diferente a sociedade agrária da sociedade industrial do Século XVIII e do Século XIX.

Caracteriza-se a transição por um incremento sensacional do volume de bens produzidos diante de um número crescente de trabalhadores desempregados. As fábricas automatizadas, principalmente as multinacionais, tornaram-se ilhas de prosperidade cercadas de favelas por todos os lados.

Grandes parcelas dos quase 2 milhões de desempregados da região metropolitana de São Paulo perderam seus empregos para sempre, por causa mecanização das indústrias e da busca de trabalhadores mais baratos e sem organização sindical, que foram encontrados no Nordeste e na Região Amazônica, principalmente em Manaus - Amazonas. Regiões estas, em que mais existe a exploração do Trabalho Escravo.

Como a situação demográfica apresentava desafios constantes, a saída de pessoas que acompanhassem as  fábricas transferidas ou fugissem do terror metropolitano não deixava vazios equivalentes.

O espaço dos que saíam seria ocupado pelos que passaram da adolescência à vida adulta para disputar um lugar no mercado de trabalho.

Foi assim que surgiu A Geração Perdida, de jovens que não conseguiam o seu primeiro emprego, razão pela qual, a partir de 2003 o Governo se preocupou em gerar empregos especialmente para os jovens.

Num quadro de desemprego crescente e constante, o aumento do contingente de pessoas desempregadas, naquela época em que foi implantado o Plano Real, criou condições favoráveis à organização de grupos de marginais predispostos à prática de atos de banditismo, agora equipados com armas modernas, cedidas quase gratuitamente pelos seus fabricantes para que depois pudessem vender idênticas armas para que as forças militares e paramilitares conseguissem combater os desempregados que foram transformados em criminosos pelos neoliberais predadores.

Costumava-se fazer a seguinte indagação: num contingente de 2 milhões de desempregados, concentrados numa região metropolitana, quantas pessoas poderiam ser desviadas para o crime? Obviamente com o indispensável incentivo dos fabricantes de armas.

Apenas 1% do total, dizia-se. No caso paulista, estaríamos tratando de verdadeiro exército de 20 mil homens e mulheres inclinados à prática de atos que envolviam audácia, disposição para matar ou morrer e capacidade de enfrentar militares não tão bem armados.

Se esse número passar ao dobro ou ao triplo, que significado terá isso para os paulistanos?

Seria um exército de 40 mil ou 60 mil homens e mulheres. Os Estados Unidos não levaram tanta gente para o Iraque ou para o Vietname, nem para a Coreia.

São Paulo preenchia já em 1999 várias condições que podiam transformar a grande região em área dominada por bandidos e habitada por morcegos e fantasmas.

Estados vizinhos e distantes de São Paulo descobriram que é realmente fácil atrair empresas da mais populosa região metropolitana do país.

Não são poucas as empresas paulistas que se refugiaram em pacatas cidades do sul de Minas ou saíram da região para cidades do Nordeste.

Diante do acontecido, já em 1999 a  insegurança estava apavorando empresários em cidades do interior do Estado, onde tinha ocorrido assaltos de suma gravidade ao patrimônio das empresas.

Diante desse panorama imensamente adverso gerado pelos gestores de nossa política econômica até 1999, somente um milagre salvará a Grande São Paulo do esvaziamento econômico seguido da desordem imposta pelos bandos de criminosos, criados pelo desemprego estrutural e conjuntural, em parte abocanhados e financiados pelo narcotráfico e por outras máfias.

São Paulo, que era considerada a locomotiva diesel-elétrica do Brasil, talvez esteja condenada a se transformar em maria-fumaça resfolegante e sem forças para cobrir grandes distâncias.

CONCLUSÃO

Este é um texto antigo, escrito por um LIBERAL, que predizia e mostrava as razões ou os motivos do "INCONFORMISMO" acontecido em 2013, não somente no Brasil como em todo o mundo.

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