Ano XXV - 18 de abril de 2024

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OS ANARQUISTAS


OS ANARQUISTAS

OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO E OS MERCENÁRIOS DA MÍDIA

São Paulo, 21 de maio de 2005 (Revisado em 18/12//2008)

Jornalistas, Conselho Federal de Jornalismo, Propaganda Enganosa: Entidades Privadas de Autorregulação, Ética Profissional: A Ética Relativista de Feras do Mercado, A Imprensa e o Vietnam - Antes do Iraque Já Era Assim, A Irrefreável Marcha Cívico-Escatológica

Por Américo G Parada Fº - Editor do Cosife

Em 19/08/2004 escrevi o texto denominado “As Eleições, os Jornalistas e seus Patrões” que, embora estivesse neste site, ninguém leu, porque o link estava errado e somente agora o consertei. Por isso aconselho que seja lido, tendo em vista que continua tão atual como antes.

Nele comento depoimento do jornalista Mino Carta, editor da Revista Carta Capital, quando entrevistado em 17/08/2004 pelo Jornal da Cultura da TV Cultura de São Paulo, que se coaduna com o que eu pretendia escrever sobre alguns inconsequentes profissionais e empresários dos meios de comunicação. Veja também o texto As Alianças Políticas e a Governabilidade onde se demonstra o trabalho antiético dos mercenários da mídia na manipulação da opinião pública.

O primeiro texto mencionado está acompanhado de outro, intitulado “Lei da Relatividade Aplicada”, de autoria do jornalista Mylton Severiano, que na Revista Caros Amigos também ratificou o que mencionei.

No texto daquela época eu dizia que os jornalistas que não querem a constituição de um Conselho Federal de Jornalismo são anarquistas, por esse motivo, este é o título desta matéria. Mas, obviamente, não podemos generalizar. É evidente que em toda regra há exceções. Assim como Mino Carta, os autores dos demais textos anexados demonstram que nos meios de comunicação também existem profissionais sérios. Por isso, nem todos os jornalistas são anarquistas, Mas, existem aqueles que fazem questão de demonstrar sua absoluta falta de ética. E, como não existe um Conselho Federal de Jornalismo ou de Jornalistas, eles podem continuar impunemente a desonrar a profissão.

Em 13/02/2005, o site português Resistir.Info publicou o texto "A imprensa e o Vietnam - Antes do Iraque já era assim", escrito por Bertrand Russell como capítulo do livro "Crimes de Guerra no Vietnam", mostrando que nos Estados Unidos a imprensa também é assim, ou seja, também publica os artigos e reportagens distorcendo ou procurando esconder a verdade dos fatos.

Em 06/05/2005 a estudante de jornalismo Maiana Diniz, também na Revista Caros Amigos, mais uma vez ratifica o que eu tinha escrito. Veja o texto a seguir.


A ética relativista de feras do mercado

Por Maiana Diniz (estudante de jornalismo) - Correio Eletrônico da Revista Caros Amigos - Edição 201 - 6/05/2005.

Eliane Cantanhêde, da Folha de S. Paulo, e Helena Chagas do jornal O Globo, apresentam para estudantes o que é permitido ou não no exercício do jornalismo.

Jornalismo é uma profissão que tem como base a confiança - entre jornalistas e fontes, editores e repórteres, escritores e leitores. A prática fundamenta-se na ética e é preciso estabelecer o que é válido ou não na busca e na divulgação de informações. Na noite de quarta-feira, 13 de abril (de 2005), o Instituto de Ensino Superior de Brasília promoveu para os alunos dos cursos de jornalismo uma mesa redonda com o tema “Ética na Reportagem”.

O debate contou com a presença dos jornalistas Carlos Chagas, Eliane Cantanhêde, Helena Chagas e Luiz Martins, que expuseram suas experiências e percepções - nem sempre comuns - acerca do tema.

Depois de o educador Carlos Chagas afirmar que não concorda com a existência de uma ética utilitarista - acredita em ética como algo universal, de todos os cidadãos e não de cada profissão -, Eliane Cantanhêde, colunista do jornal Folha de S. Paulo, começou o discurso com a declaração de que, para ela, a ética é relativa. Pelo fato de terem a função de descobrir e divulgar informações de interesse público, os jornalistas podem passar por cima de regras sociais, e até da lei, para conseguir o que querem. “É antiético usar do artifício de uma mentira para conseguir uma informação ou é errado roubar um documento para levar uma informação para uma empresa? Para mim, não.” Eliane afirmou que “o que vale é deixar que o público saiba o que é de seu interesse”.

Não disse qual é o limite do jornalista. Se o argumento é a busca de um bem maior, será que vale tudo? Roubar documento público pode, ouvir atrás da porta e mentir também pode. Será que roubar um celular no qual você sabe que tem o telefone daquela fonte que seria fundamental na sua próxima grande reportagem pode? Será que pode botar fogo no Congresso para ver se os bombeiros chegam rápido? A colunista não explicou.

Quando um estudante questionou qual era esse limite, Eliane afirmou que a estudante estava levando sua fala “ao pé da letra”. Que tudo dependia do contexto, apesar de não ter falado em contexto: afirmou que o que interessava era o “povo” receber a notícia. E completou: “Se você acha que isso é antiético, uma boa ideia é que você seja publicitária”.

Nota do Cosife: Nesta última fala, a jornalista referiu-se veladamente à "PROPAGANDA ENGANOSA", tão comumente veiculada nos meios de comunicação (Mídia). Mas, para analisar esse tipo de crime contra o consumidor existe o CONAR, entidade privada de autorregulação, que na verdade pouco pode fazer se o criminoso e seus cúmplices nos meios de comunicação (os mercenários da mídia) não quiserem acatar as recomendações do órgão autorregulador.

Além de ser uma ofensa aos publicitários - como se estes não pudessem trabalhar pelo interesse público e com informações importantes e verdadeiras - a afirmação de Eliane leva a crer que não existe outra opção para quem quer trabalhar na imprensa brasileira. Para ter sucesso, é preciso mentir, roubar e sabe-se lá mais o que, “pois a informação não cai do céu”.

Como se não existissem outras maneiras de conseguir dados, de descobrir verdades. Essa, sim, é a função dos jornalistas. “Se virar” para conseguir a notícia. Mas o “se virar” não precisa incluir nada que vá contra princípios éticos e morais.

Por mais incrível que pareça, diante da resposta da jornalista, as palmas foram instantâneas. Estudantes e professores apoiaram a opinião da jornalista.

Luiz Martins da Silva, professor do Departamento de Jornalismo da Universidade de Brasília, contestou a ideia de Eliana Cantanhêde de que, “se o fim for válido” - obter informações -, vale mentir e roubar. O comentário de Luiz Martins foi: “Será que vale?” Segundo o professor, depende muito do contexto histórico e singular das situações para fazer o julgamento se faz sentido ou não, se é ou não legítimo agir de forma antiética em prol de um bem maior.

Roubar ou não roubar, mentir ou não mentir, é uma escolha moral de cada profissional. Ninguém deve ser forçado a agir contra o que acredita ser certo. Não é correto que a pressão do mercado, que supervaloriza furos e notícias exclusivas, guie o comportamento dos jornalistas. Sabe-se que por trás de comportamentos antiéticos nem sempre está a vontade de mostrar a verdade aos leitores. Geralmente estão associados ao interesse comercial - jornais ganham legitimidade ao apresentar notícias novas - e à vaidade do profissional que escreve. Não é novidade que jornalistas ganhem prestígio ao conseguir informações que mais ninguém tem. E como conseguiram, pelo visto, não interessa.

Eliane declarou: “Jornalismo também é empresa, também é negócio. Meu patrão também é empresário”. Ao que parece, a grande busca é dinheiro e sucesso, interesse público é só o caminho. Luiz deu uma boa contribuição para a discussão quando contestou a afirmação das jornalistas de que essas práticas eram explicadas pela busca do bem público. Há muita coisa que é de interesse público e não é publicado. “Por que o governo precisa gastar milhões com prevenção de doenças, por exemplo?”

A diretora da sucursal de Brasília do jornal O Globo, Helena Chagas, apoiou e defendeu a colega da Folha. “Eu também roubo documentos!”, afirmou. Disse que faz o que for preciso para obter informações que julga serem valorosas. “Se der bobeira, eu pego mesmo”, afirmou a jornalista. E mais. Acredita que a melhor maneira de proteger o jornalista é que essas situações sejam discutidas com os editores, na redação. É preciso ter o respaldo dos chefes. Praticamente, uma máfia!

Um estudante usou o discurso de Carlos Chagas para questionar a posição das jornalistas. Carlos disse, que para saber se algum comportamento é ético, basta pensar no que aconteceria se todos resolvessem agir daquela maneira. “O que aconteceria se todos os jornalistas assumissem o discurso de vocês, do roubo e da mentira? O que seria da prática?” Não houve resposta. Mas a pergunta existe. O que aconteceria? Coisa boa não seria...

É na faculdade que se deve aprender que, antes de ser profissionais de sucesso, é essencial buscar agir de forma justa e responsável. Que ninguém precisa aceitar passivamente os absurdos do mercado. Que ninguém é obrigado a se vender. Que é possível fazer notícias verdadeiras, de qualidade e que vendam. Que, com união, é possível construir uma imprensa mais isenta. Que a ética é fundamental.

É até engraçado que, em uma palestra dentro do ambiente acadêmico, a ética não seja tratada com a devida importância. Uma vergonha!


A imprensa e o Vietnam - Antes do Iraque já era assim

Por Bertrand Russell - Capítulo do livro "Crimes de Guerra no Vietnam".

Este artigo escrito em português de Portugal encontra-se em http://resistir.info/asia/imprensa_vietnam.html

O papel da imprensa ocidental na controvérsia em torno do Vietnam tem sido importante e revelador. Foi a partir dos jornais do Ocidente que eu deduzi, pela primeira vez, a responsabilidade dos Estados Unidos e foi também através das mesmas reportagens que comecei a aperceber-me do caráter bárbaro dessa guerra.

A 21 de Outubro de 1962, por exemplo, o New York Times declarava:

"Americanos e vietnamitas caminham lado a lado, lutam lado a lado e morrem lado a lado. É difícil ir muito mais longe".

Anteriormente, Momer Bigart, destacado correspondente do New York Times, referira-se à "cega brutalidade" da guerra. Num artigo publicado em 25 de Julho de 1962, Bigart afirmava:

Os conselheiros americanos assistiram à execução sumária de prisioneiros do Viet Cong. Encontraram corpos carbonizados de mulheres e crianças em aldeias destruídas por bombas de napalm".

Na verdade, o emprego de produtos químicos na guerra do Vietnam já havia sido relatado pelo New York Times, no dia 1 de Janeiro de 1962. A 26 do mesmo mês e ano, o mesmo jornal foi ao ponto de classificar de "programas de destruição das culturas" o emprego de produtos químicos nos campos de mandioca e de arroz do Vietnam do Sul.

Apesar de muitos destes artigos altamente reveladores aparecerem enterrados nas páginas interiores dos jornais, uma leitura mais cuidadosa e diária da imprensa ocidental tornou possível determinar o caráter desta guerra, com base em testemunhos e documentação que não poderiam ser facilmente desmentidos. O método que adotei ao aceitar tal material foi o conhecido processo de "a prova contra o interesse". Parti do princípio de que o New York Times, nada ganhando com tais artigos, certamente tinha por único motivo o desejo de publicar um relato verdadeiro. Dificilmente alguém se porá a forjar testemunhos e provas contrários aos seus interesses.

Em breve descobri, porém, que alguns jornais, mesmo publicando fragmentos de informação repletos de horrores, não tinham qualquer intenção de elaborar uma visão coerente da guerra com base nesses artigos, mas possuíam realmente a intenção de impedir os outros de fazê-lo. A imprensa bem informada sabia que algo de seriamente mau se passava com aquela guerra, contudo limitava-se a comentários anônimos e a uma crítica superficial. Este procedimento preservou a sua posição "respeitável" mas preparou o terreno para um posterior volte face, quando a primitiva atitude ficou largamente desacreditada. (Quem considerar isto uma descrição forçada do modo como a imprensa exerce o seu ofício, faria bem se recordasse a atitude da imprensa para com os opositores noutros campos -- por exemplo, para com os primeiros discordantes do relatório da Comissão Warren).

Repetidas vezes, a imprensa adota um tal comportamento vergonhoso em consequência da passividade do público. A maior parte das pessoas não têm acesso aos fatos em assuntos que lhe despertam suspeitas nem, tampouco, dispõem de fontes que lhe permitam reunir informações de maneira independente. Mesmo conseguindo vencer estes obstáculos consideráveis, continua a não ter meios de comunicar ao público as suas descobertas. Procurei superar tais dificuldades por três modos: em primeiro lugar, através de um estudo completo da guerra tal como ela é relatada em publicações ocidentais, vietnamitas e de outra proveniência; em segundo lugar, enviando regularmente observadores, por intermédio da Fundação Bertrand Russell para a Paz (Bertrand Russell Peace Foundation), a fim de fazerem grandes percursos pela Indochina e regressarem com relatos em primeira mão; e em terceiro lugar, erguendo a minha voz sempre que possível.

Entretanto, aprendi certas regras que devem ser respeitadas a ler-se os jornais:

1. Ler nas entrelinhas.

2. Não subestimar nunca o mal de que são capazes os homens do poder.

3. Identificar o calão "terroristas" em oposição a "acções de polícia" e fazer a respectiva tradução, sempre que seja necessário.

Os leitores já experimentados na leitura dos jornais podem dar-se ao trabalho de compilar os seus próprios glossários de termos usados pelo "nosso" lado e pelo lado "deles".

Veja também o texto A IRREFREÁVEL MARCHA CÍVICO-ESCATOLÓGICA.







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