AS BOLSAS DE VALORES, O MERCADO DE BALCÃO E O RISCO BRASIL
O MERCADO DE CAPITAIS E OS CRIMES CONTRA INVESTIDORES
São Paulo, 13 de janeiro de 2005 (Revisado em 20-02-2024)
8. O FALSO RISCO BRASIL
SUMÁRIO
Veja também:
Por Américo G Parada Fº - Contador - Coordenador do COSIFE
Eis a última pergunta de usuários do COSIFE: O que é Risco Brasil?
Risco Brasil não envolve operações realizadas nos pregões das Bolsas de Valores. Envolve sim operações realizadas no Mercado de Balcão - aquele realizado através das mesas de operações das instituições financeiras e do mercado distribuidor de títulos e valores mobiliários, mediante contatos telefônicos.
Risco Brasil é um número índice que mede ou representa o nível de risco ou de desconfiança dos investidores internacionais que pretendem aplicar em títulos emitidos pelos chamados países emergentes, entre os quais está o Brasil.
Esse nível de risco é calculado de forma aleatória, baseados em argumentações discutíveis, pelo banco de investimentos norte-americano JP Morgan e abrange diversos países: México, Argentina, Nigéria, Venezuela, Colômbia, Rússia, Turquia, Ucrânia, Peru, Filipinas, Panamá, Polônia, Malásia, Coréia do Sul, Bulgária, Qatar, Equador, África do Sul, Marrocos e Egito e Brasil.
Durante o governo FHC, o Brasil sempre ocupou as últimas posições entre os citados países como de maior risco, posição desfavorável que felizmente o Brasil perdeu durante o governo Lula.
Alguns economistas durante o governo FHC chegam a dizer que o tal Risco Brasil é um índice de difamação, principalmente porque, dentre os mencionados países, o Brasil evidentemente é o que tem melhores condições para pagamento de sua dívida por ter uma economia mais sustentável, baseada em grandes recursos minerais e hídricos, grandes áreas de terras cultiváveis e ainda com grande biodiversidade inexplorada.
Veja maiores detalhes em Os Países e suas Reservas Estratégicas.
Ao contrário de alguns dos demais países citados, o Brasil está livre de graves intempéries como terremotos, maremotos, vulcões, furacões, tornados e sem a presença de desertos gelados ou secos. Dos citados, somente a Rússia e a África do Sul têm recursos minerais semelhantes aos do Brasil, que os demais países não possuem. E deles, somente a Rússia tem melhor tecnologia do que o Brasil e talvez ainda a Ucrânia e a Coréia do Sul.
No caso brasileiro, o índice tem como base um conjunto de títulos que circulam no mercado secundário da dívida externa brasileira, com destaque para os títulos governamentais conhecidos como "C-Bonds" ou “Bradies”.
Repetindo: Diz-se que a negociação de títulos é no Mercado Secundário quando os títulos são comprados ou vendidos por ocasião das operações subseqüentes a do seu lançamento no Mercado de Capitais. O lançamento do título é efetuado no chamado de Mercado Primário.
Ao estabelecer o nível de risco de um país, o “entendido” (“expert”) tenta estabelecer o que seria a opinião generalizada sobre a certeza ou incerteza, que ninguém sabe realmente, de que determinado país vá ou não honrar seus compromissos financeiros. Portanto, tal nível de risco é completamente aleatório (um chute calculado, que tanto pode ser baseado em estatísticas como em casuísmos). Num determinado momento, esse nível de risco pode variar sensivelmente, quando calculado por diversos outros “entendidos” de instituições financeiras diferentes.
Aquela instituição norte-americana estabeleceu que, quanto maior for número índice desse nível do risco, maior será a possibilidade do país emitente do título não o liquidar no seu vencimento ou de não pagar os juros periódicos. Isto acontece quando é declarada a moratória, o que também é chamado de “calote da dívida”. Ou seja, quanto mais alto for o número índice, maior será o risco de calote e maiores serão os juros cobrados pelo investidor. Isto também acontece com os bancos. Aqueles bancos que oferecem maiores taxas de juros a investidores, geralmente são os que quebram.
Como no final do governo FHC esse número índice chegou a 2436 pontos, o Brasil se tornou o segundo país mais arriscado do mundo, somente superado pela Argentina. Mas, esse número era simplesmente baseado em fatos políticos e não exatamente em fatos econômicos.
No caso brasileiro, o nível de risco era elevado porque podia ser eleito um presidente teoricamente socialista e também porque as reservas monetárias brasileiras durante o governo FHC sempre estiveram baixas. As reservas monetárias em dólares eram entregues aos especuladores, sonegadores e lavadores de dinheiro, como forma de manter a supervalorização da moeda brasileira em relação ao dólar.
Mas, a lógica fez com que o nível de risco baixasse, tendo em vista que no governo FHC o percentual da dívida externa brasileira em relação ao PIB era maior que a de 2004. E essa redução continuou nos anos seguintes. Isto é, o montante da dívida externa em relação ao PIB em 2009 é menor e isto implica naturalmente em menor risco de calote da dívida, tendo em vista também que agora as reservas monetárias são bem maiores.
Maiores detalhes veja em Balanço de Pagamentos.
Como referencial, para o estabelecimento do nível de risco de diversos países, são utilizados os títulos norte-americanos, embora aquele país seja o que tem a maior divida per capita do mundo (Veja mais detalhes em Risco Brasil x Risco USA).
Mas, apesar dessa significante adversidade norte-americana, os títulos daquele país gozam de reputação nos mercados financeiros, o que também é uma afirmação tendenciosa ou um chute. A verdade é que os Estados Unidos da América estão enfrentando graves problemas de administração de sua crescente dívida externa e têm dois terços do seu papel moeda circulando no exterior, por isso não têm como fazer controle monetário.
De repente todo esse dinheiro pode ser gasto dentro do seu território, o que, segundo a teoria econômica, vai causar uma grande inflação. Por isso, eles precisam aumentar a taxa de juros, para evitar que esse dinheiro seja gasto. E aumentando a taxa de juros, obviamente vai acontecer o mesmo que está acontecendo no Brasil. O orçamento vai passar a ser mais dedicado ao pagamento de juros que às necessidades da nação.
8.2. C-BONDS, BRADY OU BRADIES
C-BOND é um dos títulos da dívida externa do governo brasileiro, com vencimento em 2014.
Os C-Bonds são geralmente chamados de "Bradies" ou "Brady". Estes Bradies foram emitidos a partir de 1994 por países emergentes na renegociação de suas respectivas dívidas externas. A denominação "Brady" vem de Nicholas Brady, secretário do Tesouro norte-americano e idealizador desse processo de renegociação das dívidas.
Quanto ao cálculo do valor a ser aplicado em C-Bonds ou Bradies (títulos brasileiros), levando em consideração o índice denominado Risco Brasil (explicado no tópico anterior), vejamos um exemplo com dados obtidos na internet:
Supondo-se que o número índice do Risco Brasil seja 1770, isto significa na prática, que os investidores internacionais só aplicariam em títulos brasileiros se negociados a uma taxa de 17,7 pontos acima da do título do tesouro americano.
Supondo-se, outrossim, que o título americano vença em 30 anos (T-Bonds) e que esteja pagando juros de 5,3% ao ano, o equivalente título brasileiro deve pagar em dólares no mínimo 23% (5,3 + 17,7) ao ano.
Supondo-se, agora, que um C-Bond tem valor de resgate de US$ 1 milhão, vencimento em 15 anos e taxa de juros de 13% ao ano e que a taxa de mercado estipulada com base no Risco Brasil seja de 23% ao ano, podemos calcular o valor a pagar na compra do citado título.
Para fazer o cálculo é necessária uma máquina de calcular HP 12-C e a utilização da função “PRICE”.
A QUESTÃO
São Paulo, 11 de dezembro de 2005
Usuário do COSIFE escreveu: Gostaria de saber precisamente como se calcula o risco país. Tivemos uma aula na FGV sobre isto, porém foram 2 semanas que estive afastado por motivo de doença.
Resposta do COSIFE:
8.3.1. CLASSIFICAÇÃO DE RISCO PODE SER UM CHUTE
Os fatos aqui narrados, aconteceram numa palestra acontecida há alguns anos, patrocinada pelo IBMEC - Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais, proferida por um estrangeiro no auditório do jornal Gazeta Mercantil, em São Amaro - São Paulo - SP, da qual o coordenador do COSIFE participou como ouvinte.
Segundo as manifestações dos presentes, parece que a conclusão unânime foi a de que a coisa (o cálculo do risco) é praticamente um chute.
Baseando-se no que foi demonstrado pelo palestrante, se várias pessoas tentarem fazer os mesmos cálculos podem chegar a resultados totalmente diferentes.
A essa mesma conclusão chegaram os ouvintes de outra palestra, realizada no auditório do Banco Central do Brasil, em São Paulo, por outro palestrante de uma instituição do Sistema Financeiro Brasileiro.
8.3.2. A MANIPULAÇÃO DAS COTAÇÕES
A verdade é que as flutuações das cotações pouco têm a ver com a real situação econômica e financeira das empresas ou dos países. Por isso, os defensores da política econômica do Governo FHC diziam que o índice negativo do Risco Brasil naquela época era difamatório e obviamente, segundo os mesmos, passou a ser um piada durante o Governo Lula. Por quê?
Porque durante o Governo Lula, principalmente a partir de 2005, o Risco Brasil passou a ser quase nulo e depois de 2011 passou a ser menor que o risco de investir nos Estados Unidos da América e nos países da Europa, segundo as Agências de Rating internacionais (Agências de Classificação de Riscos).
8.3.3. OS PAÍSES E SEUS PROBLEMAS ECONÔMICOS
Países com grandes adversidades econômicas, climáticas e também sem grandes reservas minerais são desenvolvidos, enquanto que outros, não desenvolvidos, têm tudo aquilo que os desenvolvidos precisam. Parece ser mais importante a tecnologia e o poder bélico suficiente para colonizar outros países economicamente (neocolonialismo).
8.3.4. NOVAMENTE A MANIPULAÇÃO DOS MERCADOS
Empresas falidas podem ter alta cotação em suas ações, como aconteceu com algumas empresas norte-americanas nos últimos anos, enquanto que outras, como as antigas estatais brasileiras privatizadas, tinham cotação baixa e são empresas sem risco, com receita certa e cativa, sabendo-se ainda que são monopolizadoras e que não há a possibilidade da instalação de concorrentes a elas.
Dizem que as empresas estatais brasileiras eram falidas. De fato eram deficitárias porque não podiam aumentar os preços de seus serviços prestados, o que foi liberado após a privatização.
8.3.5. AGÊNCIAS DE RATING ACUSADAS DE FRAUDES NAS COTAÇÕES
O descrito sobre as Agências de Rating pode ser observado no texto A Megalomania e a Irresponsabilidade das Agências de Rating.
Nele podemos ver que as citadas agências classificadoras de risco erraram feio na classificação do Banco Santos como um dos seis mais importantes bancos existentes no Brasil. O mesmo estava falido e por isso teve a sua liquidação decretada pelo Banco Central do Brasil.
Isto significa dizer que não se pode confiar plenamente nessas agências de classificação de riscos. Veja ainda o texto intitulado Agências de Rating Novamente Acusadas.
PRÓXIMO TEXTO: CONCLUSÃO