A ARGENTINA E O EFEITO ORLOFF INVERTIDO
No final de 2001 e início de 2002 aconteceu na Argentina o que não aconteceu no Brasil em 1990. Mas só no que concerne à reação do povo. O governo de lá (se é que aquilo pode ser chamado de governo) não soube usar os meios de comunicação como forma de doutrinação e convencimento, o que é feito no Brasil com especial maestria.
Tal como aqui, foi confiscado o dinheiro do povo e antes disso criou-se condições para que os mais ricos e as empresas pudessem remeter seus recursos para o exterior. Aqui criaram o mercado de taxas flutuantes, o tal “câmbio turismo”, que foi a oficialização do câmbio negro, conforme admite o Banco Central do Brasil em sua cartilha “O Sistema Cambial Brasileiro” de novembro de 1993. Lá, não se sabe o que fizeram, ninguém fala e os meios de comunicação não alardeiam.
A manutenção da paridade cambial entre o dólar e o peso, tal como aqui, subsidiou a importação dos produtos que só os mais ricos podiam comprar e quebrou as empresas exportadoras que davam emprego ao povo. E tudo isso foi feito sob os aplausos das elites burguesas, tanto lá como aqui.
Os panelaços ocorreram, conforme Chico Buarque cantou em versos e prosas.
Para contornar o problema do dinheiro confiscado, aqui o Banco Central criou um sistema de atendimento ao público em que as filas eram enormes (centenas de metros), porém os reclamantes eram atendidos em no máximo 30 minutos. Não tinham seu dinheiro de volta, mas eram persuadidos. Os funcionários públicos diziam: “o nosso dinheiro também ficou preso e até daqueles que receberam a antecipação por conta de férias”. Lá, não fizeram isso.
Aqui, o povo, ordeiro e submisso, enriquecendo os advogados, apelou para o poder judiciário e, meses depois, conseguiu parte de seu dinheiro de volta, já que os causídicos ficaram com a sua parte (os honorários advocatícios). Lá, o povo não acredita na justiça, o que, aliás, agora também vem ocorrendo por aqui.
E assim sendo, sem justiça, sem governo e com os congressistas legislando em proveito próprio, quem poderá nos salvar? Talvez o Chapolim Colorado, defensor dos povos das Repúblicas das Bananas.
Como diz a musiquinha da propaganda do PFL de Roseana Sarney, mostrando como exemplo o Maranhão (o Estado mais pobre da federação): “esse é o Brasil que a gente quer”. Mas, aquela não é a Argentina que aquele povo quer.
Dizem que sou pessimista, tal como aquele menino que ganhou uma linda bicicleta e achou o presente uma desgraça porque podia morrer atropelado. Talvez. Mas eles, os otimistas, são como aquele outro menino que ganhou uma lata com esterco de cavalo e saiu a procura do cavalo que pensava ter sido presenteado.