Ano XXV - 25 de abril de 2024

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A LIÇÃO DEMOCRÁTICA DA ISLÂNDIA

A LIÇÃO DEMOCRÁTICA DA ISLÂNDIA

A FALÊNCIA DOS BANQUEIROS IMPOSTA PELO POVO

São Paulo 17/05/2012 (Revisado em 20-02-2024)

Referências: Capitalismo Neoliberal Anarquista verssus Socialismo Democrático, IDH - Índice de Desenvolvimento Humano, Falência do Sistema Financeiro Privado na Islândia, Importações maiores que as Exportações, Déficit no Balanço de Pagamentos, Especulação Financeira e Imobiliária, Mercado de Balcão de Bancos e Pregão das Bolsas de Valores e de Mercadorias e Futuros - Cassino Global.

A LIÇÃO DEMOCRÁTICA DA ISLÂNDIA

  1. A REVOLUÇÃO ISLANDESA
  2. IMPEDINDO A SOCIALIZAÇÃO DOS PREJUÍZOS
  3. A ECONOMIA ISLANDESA
  4. O MUITO ELEVADO IDH - ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO ISLANDÊS
  5. A INFLUÊNCIA NEGATIVA DOS NEOLIBERAIS ANARQUISTAS
  6. NA ONDA DA CRISE MUNDIAL DE 2008 PROVOCADA PELOS NEOLIBERAIS
  7. A REAÇÃO DA POPULAÇÃO ISLANDESA
  8. O REFLEXO DAS ANARQUISTAS TEORIAS NEOLIBERAIS
  9. ESTATIZAÇÃO DE UM BANCO E A CONVERSÃO DA DÍVIDA DOS BANCOS PRIVADOS FALIDOS
  10. NÃO HOUVE CALOTE DA DÍVIDA ASSUMIDA PELO ESTADO ISLANDÊS

Texto da redação da Revista Por Sinal nº 37 de abril/2012, editada pelo SINAL - Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central. Com NOTAS e anotações pór Américo G Parada Fº - Contador - Coordenador do COSIFE

País buscou um caminho próprio, que deu certo, punindo os bancos responsáveis e não transferindo a conta para a população

1. A REVOLUÇÃO ISLANDESA

A Islândia desceu do céu ao inferno em apenas uma década, mas parece que vai sair do limbo antes de potências maiores. A revolução sem armas islandesa já derrubou o Parlamento, criou uma nova constituição e levou para trás das grades meia dúzia de banqueiros acusados de fraude. Como se tudo isso não bastasse, começa a dar os primeiros sinais de recuperação econômica.

2. IMPEDINDO A SOCIALIZAÇÃO DOS PREJUÍZOS

O segredo?

Não permitir que o governo estatizasse os prejuízos e transferisse a conta para a população.

A lição dada pela Islândia não aparece nas páginas dos jornais nem no noticiário das redes de televisão. Ganhou destaque na abertura do documentário "lnside Job", duas reportagens da revista Piauí, mas isso foi quase tudo. Os poucos veículos de comunicação que dedicaram algum espaço ao país se limitaram a registrar o processo de retomada do desenvolvimento com a ajuda de dinheiro do Fundo Monetário Internacional (FMI), sem entrar em detalhes sobre todas as mudanças políticas provocadas pela reação dos islandeses à crise.

"O curioso é que a solução islandesa foi colocada para escanteio aqui no Brasil" ... diz o professor Márcio Scalércio, do Instituto de Relações Internacionais da PUC - Rio. "É verdade que se trata de um pais pequeno, com menos habitantes talvez do que Copacabana, mas o caso lá foi de roubalheira pura"

3. A ECONOMIA ISLANDESA

A Islândia é uma pequena ilha, rodeada por ilhas e ilhotas ainda menores, localizada no norte [do Oceano Atlântico e a noroeste] da Europa [dentro do Circulo Polar Ártico]. O arquipélago atinge uma área de 103 mil km2 [pouco maior que o Estado de Santa Catarina que tem 95 mil km2]. A população é de 320 mil pessoas - pouco mais de duas vezes o número de moradores de Copacabana. A economia é baseada na indústria de pesca, responsável por 70% das receitas [de exportação] e pelo emprego de 7% da força de trabalho.

4. O MUITO ELEVADO IDH - ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO ISLANDÊS

A esperança de vida está entre as mais altas do mundo. A taxa de desemprego, até a explosão da crise, em 2008, não chegava a 2%. Em 2007, a Islândia ficou em primeiro lugar no índice de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), à frente de Estados Unidos, França e Reino Unido.

Dois anos depois, e apesar da crise, apareceu em terceiro lugar na relação da ONU dos países mais desenvolvidos [em IDH – Índice de Desenvolvimento Humano]. O PIB (Produto Interno Bruto) per capta estava entre os dez melhores.

Os indicadores foram garantidos pela política de bem-estar social do Estado, que manteve os cuidados de saúde universais e o ensino superior gratuito, apesar da onda liberal que tornou conta do país na década de 1980.

5. A INFLUÊNCIA NEGATIVA DOS NEOLIBERAIS ANARQUISTAS

Por conta dos reflexos da administração Margaret Thatcher, na Inglaterra, a pesca fora privatizada, os impostos reduzidos e os mercados, desregulamentados.

O sistema bancário não escapou. O Kaupthing, o Glitnir e o Ice-save começaram uma corrida desenfreada para expandir as atividades dentro e fora do pais e impulsionaram o endividamento. O governo incentivou uma política de casa própria garantida por empréstimos hipotecários de fácil acesso à população em que as taxas eram vinculadas à evolução dos preços, mas não aos salários. O consumo foi estimulado com empréstimos de curto prazo.

Para financiar todo esse festival creditício, os bancos foram adquirindo fundos do mercado mundial [empréstimos externos], especialmente na Grã-Bretanha e Holanda. Os islandeses trocaram o peixe pelo “money market” e se deixaram iludir pela sensação de que o sistema financeiro era mais sedutor do que o bacalhau [principal produto de exportação].

6. NA ONDA DA CRISE MUNDIAL DE 2008 PROVOCADA PELOS NEOLIBERAIS

Em 2008, quando o déficit comercial forçou à desvalorização da moeda nacional em 50%, a inflação disparou e as taxas hipotecárias e de crédito ficaram impagáveis. O estouro da bolha [especulativa e inflacionária] revelou uma conta ainda mais surpreendente: a dívida dos bancos superava em mais de dez vezes o PIB do país.

Resultado: ao quebrarem, os bancos carregavam US$ 75 bilhões [dívidas] nos seus balanços - US$ 250 mil para cada homem, mulher e criança da Islândia. Mais de um terço da população ficou superendividada. Treze mil casas foram confiscadas e dezenas de milhares de famílias entraram na pobreza.

7. A REAÇÃO DA POPULAÇÃO ISLANDESA

O governo tentou impor um plano de reestruturação da dívida, mas aí a população achou que era demais. O governo caiu, foram convocadas eleições para uma Assembleia Constituinte e consultas populares em que a população decidiu pagar a conta, mas não a ajuda do FMI.

8. O REFLEXO DAS ANARQUISTAS TEORIAS NEOLIBERAIS

Depois de quatro anos, os reflexos são flagrantes. O país empobreceu e tem hoje o mesmo tamanho que tinha em 2004.

Apanhadas no contrapé pela crise, boa parte das empresas islandesas foi encampada pelos credores. Hoje, 60% delas pertencem aos bancos. O desemprego subiu para 7,3% - ainda assim, metade do da Irlanda, um terço do da Espanha, dois países também em dificuldades. Projeções indicam um crescimento de 2,5 % em 2012, contra uma retração esperada para toda a Europa do euro.

9. ESTATIZAÇÃO DE UM BANCO E A CONVERSÃO DA DÍVIDA DOS BANCOS PRIVADOS FALIDOS

Dos três bancos nacionalizados, o Estado manteve o controle de apenas um, o Landsbanki (Banco Nacional). Numa clássica conversão de dívida em participação, os outros dois foram repassados a grandes credores internacionais, que preferiram vendê-los a hedge funds americanos, aceitando 2 ou 3 centavos pelo valor de face de 1 dólar.

10. NÃO HOUVE CALOTE DA DÍVIDA ASSUMIDA PELO ESTADO ISLANDÊS

A Islândia não deu um calote completo. As dívidas foram contraídas por entidades privadas, e quem emprestou assumiu o risco de fazer mau negócio. Os perdedores foram os bancos internacionais, a maioria deles europeus, dos quais metade alemães. Extintas as esperanças de reaver os empréstimos à trinca islandesa eles deram por perdidos US$ 63 bilhões.

NOTA DO COSIFE:

Isto significa que a Islândia não havia avalizado as dívidas assumidas pelos bancos privados, que agiam de forma totalmente independente, sem nenhum controle ou regras monetárias estatais. Isto é, os bancos islandeses agiam de conformidade com a teoria neoliberal da autorregulação dos mercados.

Assim, o governo não interferia nos negócios bancários, tal como acontece nos paraísos fiscais em que existem os bancos offshore, aquele que podem operar em qualquer parte do mundo, menos no país em que está teoricamente estabelecido.

Veja o texto A Irresponsável Atuação dos Bancos Offshore - Causadores do Fracasso da Globalização Neoliberal, datado de 03/12/2010.

"Para além do resultado final desse confronto, a Islândia mostra que é possível pensar em soluções alternativas, que não é necessário salvar os bancos como um passo para quaisquer outras medidas e que há outro caminho que envolve decisões não só econômicas, mas fundamentalmente políticas e democráticas", escreveu Eduardo Lucita, integrante do coletivo dos Economistas da Esquerda no "Diário Digital", do Chile.

"O exemplo da Islândia pode se propagar para outros países, mas de forma mais conturbada, porque, neste caso, tratava-se de um país pequeno e com uma população mais homogênea", diz o professor Márcia Scalércio. “A maior lição da solução islandesa é que a resposta dos países à crise tem de ser política, não tecnocrática".

NOTA DO COSIFE:

Isto significa que os novos governantes islandeses (socialistas) deixaram de lado as teorias econômicas ultrapassadas, tal como fez o Presidente Lula em 2009 quando conclamou o povo a consumir para que não ficasse desempregado.

Aliás, sobre tal fato o ex-ministro e economista Delfim Neto no Programa Canal Livre da TV Bandeirantes mencionou que o feito por Lula era uma heresia para os economistas, porém, deu certo.

Logo, disse Delfim Neto com outras palavras, precisamos rever (atualizar) as antigas teorias econômicas. O feito na Islândia é a segunda prova de que as teorias econômicas precisam ser revistas e atualizadas às realidades de agora.



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