Ano XXV - 18 de abril de 2024

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REDE LAVA DINHEIRO NO INTERIOR


LAVAGEM DE DINHEIRO

Rede lava dinheiro no interior

por JANAÍNA LEITE E LEANDRO FORTES - Jornal do Brasil - 02/12/2001  

BC e Polícia Federal investigam 61 casos suspeitos de empréstimos internacionais e doações a projetos sociais municipais

BRASÍLIA - Prefeitos do interior do país têm recebido propostas tentadoras. Empréstimos a juros simbólicos ou até a doação de milhões de dólares para financiar obras e projetos sociais. As ofertas, vindas do exterior, têm uma embalagem politicamente correta. Quem assina são organizações não-governamentais (ONGs), entidades filantrópicas ou empresas interessadas em investimentos no Terceiro Mundo. Por trás de tanta generosidade, o governo brasileiro identificou uma rede de golpes e suspeita de um grande esquema internacional de lavagem de dinheiro.

Polícia Federal investiga 61 casos suspeitos. Há todo tipo de denúncia. Prefeitos são convencidos a abrir contas bancárias para movimentação dos supostos financiadores ou a retirar dos cofres municipais milhares de dólares para se filiar às organizações internacionais. Ainda é impossível saber o tamanho do prejuízo. Os números que chegaram aos órgãos governamentais responsáveis por combater a lavagem de dinheiro, entretanto, são de arrepiar os cabelos. Uma única empresa se diz preparada para trazer ao Brasil US$ 840 milhões.

Suspeita -A autora de tamanha generosidade é a canadense Country Squire International Corporation, ''uma companhia privada investidora de projetos humanitários e de infra-estrutura nos países em desenvolvimento''. A definição consta da página da empresa na internet, com versões em inglês, espanhol e russo. Lá, afirma-se que a Country Squire atua desde 1974 e concede financiamentos de, no mínimo, US$ 10 milhões. São listados 26 representantes em diversos países.

Credenciais tão pomposas fizeram o prefeito de Arapongas (PR), ..., ouvir a proposta da empresa. Ele confirma ter sido procurado por representantes da Country Squire, mas não revela seus nomes. O negócio da China consistia na doação US$ 137 milhões, mais de US$ 2 mil por habitante. O dinheiro supostamente seria usado para asfaltar ruas, construir postos de saúde e levantar casas populares.

Político experiente, ... tomou precauções. Aceitou o empréstimo mas, durante as negociações, recolheu documentos e encaminhou uma consulta sobre a legalidade da transação ao Banco Central (BC). ''Em uma situação como a atual, ninguém abre mão de dinheiro, ainda mais diante de condições tão favoráveis'', justifica ele. ''Só que, quando o favor é muito grande, é natural manter o pé atrás.''

Doação -Outro procurado pela Country Squire foi o reitor da Universidade ... A oferta de doação foi de US$ 130 milhões. ''Não sacamos nada até hoje'', apressa-se em explicar. Melhor assim. O governo brasileiro descobriu que a Country Squire, criada e extinta em 1993, jamais foi uma empresa ativa. A sede fica em imóvel vazio, situado num bairro residencial de Toronto. Os telefones, por sua vez, estão fora dos bancos de dados canadenses. Além disso, nos documentos - sem timbre algum - eram distribuídas informações falsas sobre o sistema financeiro do país.

As cartas mandadas aos interessados sustentam que as transações com a empresa canadense, por se tratarem de doações, dispensavam registro no BC. ''É mentira'', rebate a diretora de Fiscalização da instituição, Tereza Grossi. Segundo ela, quando algum prefeito ou entidade for procurado, deve consultar o BC o mais rápido possível. ''Existe a intenção clara de lavar dinheiro. Quanto mais alto o valor, maiores as chances de a origem estar no tráfico de drogas, de armas ou mesmo em atividades terroristas.''

Um dos aspectos que causou a desconfiança de Bisca foi a insistência da empresa em abrir uma conta corrente para concretizar a doação. Pelo acordo, ele seria responsável por trocar os dólares por reais e embolsaria uma comissão. ''Caso operações assim sejam concretizadas, fica caracterizado o uso de laranjas'', alerta a diretora do BC. ''O prefeito acabaria enquadrado na lei que coíbe a lavagem de dinheiro.'' Entre os representantes da Country Squire estão cinco brasileiros. Desses, um responde a processo por sonegação na Previdência e está sendo investigado pela PF.

Contos-do-vigário - Um golpe inédito, via internet

BRASÍLIA - Com a internet, as quadrilhas especializadas em lavagem de dinheiro atingiram grau inédito de sofisticação. Algumas são tão ousadas que - nas operações do gênero em que acabam lesados os interessados em ganhar dinheiro fácil - pedem os depósitos em grandes bancos internacionais e montam estratégias de convencimento parecidas com telemarketing. Estes modernos contos-do-vigário são colecionados por Eduardo Sampaio, presidente da Kroll Associates no Brasil.

Um bom exemplo disso, lembra, é o esquema mundialmente conhecido como ''Cartas Nigerianas''. O golpe consiste no envio de cartas ou e-mails assinados, supostamente, por órgãos governamentais de países geralmente africanos. No texto, o representante da falsa autarquia explica que fechou acordo com um organismo de crédito. O problema, diz o falsário, é que o financiamento será recebido em dólares e, por conta de restrições locais no mercado de câmbio, é impossível trocá-los naquele país. Assim, é ofertada aos empresários a chance de receber uma gorda comissão para abrir uma conta bancária, na qual será depositado o empréstimo. O dinheiro pago a título de taxas administrativas, contudo, é desviado e desaparece.

Para Sampaio, no entanto, o golpe das prefeituras é novidade: ''Ainda não investigamos nenhum caso desses''.







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