O PARAÍSO DOS BANCOS É AQUI
Sistema financeiro não deixa Brasil [de FHC] entrar em moratória para não matar a 'galinha dos ovos de ouro'
Por Ricardo Rego Monteiro - Jornal do Brasil - 20/10/2002 (Revisado em 16/03/2024)
Consultores dizem que sistema financeiro não deixa Brasil entrar em moratória para não matar a 'galinha dos ovos de ouro'
Em plena crise mundial, com o Brasil na alça de mira de especuladores e agências de classificação de risco, o tão arriscado mercado financeiro brasileiro, quem diria, encerrará o ano como a verdadeira tábua de salvação de algumas das principais corporações financeiras estrangeiras.
Segundo levantamento da ABM Consulting, os 10 maiores bancos do país (chamado Brasil) encerrarão o ano com rentabilidade média de 24%, o dobro da média mundial (12%) e superior aos 22% de 2001. Mesmo um banco como o alemão Deutsche Bank, que mantém somente 0,35% de seus ativos totais no Brasil, vai obter, no país, um lucro superior a US$ 18 milhões, o equivalente a 11% dos ganhos mundiais da instituição.
Da lista analisada pela ABM Consulting, pelo critério dos ativos totais, fazem parte pelo menos quatro gigantes estrangeiros (BankBoston, Citibank, Santander e ABN Amro), que apresentarão um crescimento de 25% da taxa de lucratividade em 2002. Esses números, no entanto, poderão ser ainda maiores ao fim do ano, uma vez que o levantamento foi produzido quando a taxa de câmbio encontrava-se em um patamar de R$ 3,60 por dólar e a taxa básica de juros (Selic) a 18% ao ano - o dólar fechou a semana cotado a R$ 3,87 para venda e a Selic em 21% anuais.
O analista da ABM Consulting Fernando Coelho afirma que, no início do ano, a avaliação da consultoria era de que a manutenção do resultado do ano passado já seria muito boa para os bancos. A improvável melhoria desse desempenho, segundo ele, só ocorreria com um desempenho acima da média pelo mercado. E isso realmente vem ocorrendo neste ano.
Na avaliação de alguns dos mais importantes consultores do setor, tais resultados, com toda percepção de risco do país, tornam o mercado financeiro brasileiro a imagem e semelhança da galinha dos ovos de ouro da história infantil. Com tamanha exposição no país, especialistas chegam a descartar a tão temida e citada possibilidade de moratória (default) da dívida externa do Brasil, cujos vencimentos neste ano somam pouco mais de US$ 3 bilhões até dezembro.
- Não interessa a ninguém que o país decrete moratória. Por isso que a chance de isso ocorrer, no Brasil, é praticamente nula. Os bancos estrangeiros não vão abandonar o país de jeito nenhum - afirma Carlos Coradi, sócio da consultoria EFC Engenheiros Financeiros, ao lembrar alguns dos argumentos utilizados pela equipe econômica nos recentes encontros, no exterior, com a banca internacional.
Como exemplo da vitalidade dos ovos de ouro da galinha brasileira, a ABM Consulting cita, além do Deutsche Bank, que detém US$ 880 bilhões em ativos em todo o mundo - praticamente o equivalente ao Produto Interno Bruto brasileiro -, instituições com maior exposição no mercado brasileiro, como o holandês ABN Amro e o espanhol Santander. Ambos mantêm uma relação ainda mais favorável com o Brasil.
O primeiro, que detém US$ 528,6 bilhões em ativos globais, lucrou US$ 326,7 milhões em 2001 (13% do ganho mundial do grupo). Já o Santander, cujos ativos somam US$ 316,951 bilhões no mundo todo, amealhou no Brasil 24% do lucro consolidado da matriz espanhola (US$ 358 milhões).
A Austin Asis, consultoria especializada no setor bancário, adverte que o resultado dos bancos tende a ser ainda melhor este ano, principalmente por causa das recentes medidas anunciadas pelo Banco Central, como o aumento da Selic. Sócio-diretor da Austin Asis, Erivelto Rodrigues observa que, embora o impacto da alta dos juros só deva ser sentido nos balanços dos últimos três meses do ano, as contas do terceiro trimestre já deverão apresentar melhorias em razão da variação do dólar nos últimos dois meses.