INCENTIVO ÀS EXPORTAÇÕES
Dizem alguns candidatos a cargos eletivos em 2002 que deve haver incentivo às exportações com a isenção de impostos incidentes sobre elas. Segundo eles, essa seria a única forma de dar emprego ao trabalhador brasileiro.
O que pretendem esses políticos?
Primeiro: Pretendem que o povo brasileiro (mais pobre) pague impostos sobre a produção e o consumo, enquanto que os estrangeiros (mais ricos) ficam isentos desses mesmos impostos.
Segundo: Pretendem que sejam criados empregos, mas não dizem a que salários, o que pode transformar o Brasil em uma nova Tawian ou Cingapura, onde a maioria da população trabalha até 16 horas diárias para ganhar US$ 50,00 por mês (praticamente um salário-mínimo brasileiro).
Aliás, os dois últimos ex-prefeitos da cidade de São Paulo, filiados ao PPB (de extrema direita), já vinham tentando implantar algo parecido com o que é feito em Cingapura para os trabalhadores de baixa renda: verdadeiro gueto de semi-escravos e de implantação oficial de um vexaminoso apartheid social.
As exportações tal como são promovidas em Taiwan, em Cingapura e em outros dos chamados tigres asiáticos só interessa ao minoritário grupo da elite econômica desses países. A elite e seus asseclas vivem muito bem e a maior parte da população vive muito mal, tal como no Brasil. Se os trabalhadores do setor de exportações ganharem mal, quebrarão todos os pequenos e médios empresários que vendem apenas para o mercado interno. Sobrarão apenas alguns grandes empreendimentos monopolizadores que poderão facilmente manipular preços e promover a carestia para lucrar mais.
Na verdade, o trabalhador brasileiro não precisa somente de emprego. Necessita também de salário digno para que possa engajar-se no rol dos consumidores em potencial. Não há consumo sem salário digno e sem ele também não existe poupança (investimento). Sem salário justo não há crescimento econômico, nem desenvolvimento tecnológico, porque sem salário digno não há como consumir. Segundo Peter Drucker, a Europa só se desenvolveu depois que aumentou o nível de renda de sua população. O mesmo aconteceu nos Estados Unidos e no Japão.
Ninguém se candidatará a um emprego formal sabendo que pode ganhar mais na informalidade ou na contravenção, no banditismo, no latrocínio, no narcotráfico e ainda com grande possibilidade de ficar impune por saber que não há efetivos policiais e militares suficientes para manutenção da ordem pública e social.
E esses problemas vem acontecendo não só em razão do desemprego, mas também e principalmente pelo abandono promovido por nossos governantes elitistas às periferias das grandes cidades, onde se esconde a mão-de-obra barata e semi-escrava. Porém, o tiro tem saído pela culatra. Os bandos que se formaram estão saindo de seus guetos para atacar os mais ricos e os remediados, invadindo também penitenciárias, delegacias de polícia e até unidades das forças armadas. Definitivamente virou uma guerra civil não declarada, à qual o banditismo está vencendo.
E o que deveria ser feito?
No lugar de aumentar as exportações, o que será muito difícil a não ser que se faça às custas do sacrifício salarial do povo brasileiro, deveriam ser reduzidas as importações principalmente de produtos supérfluos consumidos pelos mais ricos. Para isso basta que se cobre elevados impostos de importação e que o preço do dólar seja alto, o que beneficiará os exportadores. Procurar substituir as importações de produtos que obviamente podem ser fabricados aqui. Deixar de exportar produtos in natura para exporta-los somente na forma manufaturada ou industrializada.
É um absurdo que o melhor chocolate seja o suíço feito com o cacau plantado no Brasil. Também é absurdo que o melhor café solúvel seja o alemão, onde não é plantado nem um único pé de café.
Por que importar navios e plataformas de petróleo que podem ser produzidos aqui? O mesmo raciocínio vale para as turbinas das hidrelétricas e para muitos outros produtos, tais como as locomotivas e os vagões ferroviários, automóveis, brinquedos, incluindo principalmente as bugigangas.
O Japão é grande produtor de aço e não possui em seu território ferro, manganês e carvão. O Brasil tem todos esses minérios e ainda grande potencial para produzir carvão vegetal que é menos poluente. Por que exportar minério de ferro e manganês se o aço pode ser produzido aqui? Por que exportar soja em grão, se podemos exportar os produtos industrializados a partir da soja?
Do exposto podemos ver como é fácil criar empregos no Brasil. Só não cria quem não quer. Só não cria a elite econômica e política brasileira que quer se aproveitar da miserabilidade do povo. Não que ache isso o ideal, mas sim, em razão do mais puro preconceito social.