Ano XXVI - 21 de novembro de 2024

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COMPLEXO DE INFERIORIDADE



COMPLEXO DE INFERIORIDADE

A política econômica dos últimos governos tem provocado no povo brasileiro, entre outras coisas, um grande complexo de inferioridade. Esse complexo tem tomado conta principalmente dos mais jovens e dos mais velhos. Os mais jovens chegam à maior idade sem ter conseguido o seu primeiro emprego. Os mais velhos perdem o emprego e apesar da comprovada experiência não conseguem outro.

Nas décadas de 1950 e 1960 os jovens com mais de 14 anos conseguiam facilmente seu primeiro emprego para ganhar um salário mínimo. Parece pouco, mas com um salário mínimo da época (cerca de US$ 180 por mês) alguns chefes de família sustentavam a esposa e quatro filhos, que ainda não haviam chegado à idade de trabalhar. Era difícil comprar um carro. O famoso “fusca” custava cerca de US$ 1500,00 (perto de dez salários mínimos), porém, pouquíssimas famílias moravam em favelas. Quando faltava o patriarca, o filho mais velho (arrimo de família) conseguia facilmente desempenhar o papel do pai e muitas vezes chegava a estudar em universidade estatal (80% das instituições de ensino eram estatais).

Naquela época os pequenos empresários conseguiam sustentar a família por décadas. Hoje em dia as pequenas empresas abrem e fecham em questão de poucos meses. Não porque sejam incompetentes, mas porque o panorama econômico instável e recessivo se mostra bastante adverso aos novatos. Com desemprego não há consumo, sem este não há produção e sem ambos não há empregados nem empregadores. É um círculo vicioso.

Apesar das incertezas reinantes, recentemente nossos governantes e o SEBRAE conseguiram iludir muitos trabalhadores, os quais optaram pelo trabalho autônomo ou pela condição de pequenos empresários. A maioria foi vítima de propaganda enganosa e perdeu tudo que tinha. Também acreditaram no engodo muitos funcionários públicos e de empresas estatais que preferiram ser indenizados pelos apregoados “planos de demissão voluntária”. Foi ainda propagada e estimulada criação de cooperativas de trabalho, onde os associados renunciavam aos direitos trabalhistas vigentes. Tudo foi feito para transferir o trabalhador para a informalidade. E a trama tinha como objetivo tira-los da previdência social oficial, com a finalidade de reduzir o déficit no orçamento da previdência oficial.

Em seguida, o governo vislumbrou a possibilidade de formular nova legislação, que chamaram de “Flexibilização da CLT”. E os fatos foram se desenrolando tal como aconteceu por ocasião da instituição do FGTS em 1967. Isso significa dizer que a partir da “flexibilização”, nenhuma empresa vai contratar empregados com direitos trabalhistas, assim como a partir de 1967 as empresas passaram a contratar empregados sem o direito à estabilidade no emprego após dez anos trabalhados, o que aumentou violentamente a rotatividade da mão-de-obra empregada, que passou a ser freqüentemente demitida para contratação de novos com salário menor.

Em razão da atual recessão implantada pela desastrosa política econômica do governo federal, houve grande crescimento do desemprego e a conseqüente oferta de mão-de-obra em excesso. Os grandes empresários, por sua vez,  aproveitando-se dessa situação conjuntural, passaram a oferecer salários menores e a contratar somente as pessoas com elevado grau de escolaridade. Isso provocou uma corrida dos jovens com algumas posses aos cursos médios, às universidades particulares, por saberem que as públicas (agora menos de 20% do total) não possuem vagas para todos. Também cresceu a procura pelos cursos de pós-graduação, mestrado e doutorado.

Como o número de formados passou a ser grande, principalmente daquelas entidades em que “Se pagou? Passou”, os empresários passaram a exigir outros requisitos e entre eles o fatídico e subjetivo conhecimento da língua inglesa.

Até os vestibulares e os concursos públicos passaram a exigir o idioma inglês como forma de filtrar o número de candidatos ou simplesmente reprovar aqueles que não têm possibilidades de pagar um cursinho ou fazer um estágio no exterior, o que se traduz numa espécie disfarçada de apartheid social e numa forma de incrementação da doutrinação estrangeira.

Diga-se, entretanto, que exigir o idioma inglês em concursos públicos é inconstitucional, porque o idioma oficial no Brasil é o português e todos os documentos escritos em outros idiomas devem ter tradução juramentada, ou seja, devem ser traduzidos em cartório por tradutor oficial (reconhecido pela justiça) para que sejam aceitos nas esferas administrativa pública e judicial.

É justamente esse tipo de apartheid social que tem provocado o complexo de inferioridade nos jovens brasileiros. Qualquer jovem de hoje se considera inferior porque não tem possibilidade de pagar um curso médio ou superior, nem tampouco de fazer um aperfeiçoamento do seu inglês escolar, cuja exigência curricular também é um absurdo. Se o inglês fosse tão importante como apregoam, a Microsoft e a Yahoo não teriam sítios [“sites”] no idioma português e, como elas, muitas outras empresas estrangeiras.

Além desses, ainda existem outros problemas. Um deles é o de saber que quase aos trinta anos de idade o jovem brasileiro do novo milênio nunca conseguiu um emprego formal e a experiência profissional tão exigida principalmente pelos grandes empresários. Outro é saber que seu pai, apesar da experiência que tem, não poderá conseguir a aposentadoria, após muitos anos de contribuição à previdência oficial, porque após os 50 anos de idade não mais consegue emprego formal ou informal. E justamente por esse motivo não consegue os recursos financeiros para continuar pagando a previdência social oficial ou privada e sustentar a família.

Como conseqüência de tudo isso estamos assistindo o empobrecimento rápido e progressivo da classe média brasileira e da classe mais pobre com o assustador aumento da miséria no Brasil, que é comparável a de alguns paupérrimos países africanos.

O mais grave é ver que alguns extremistas de direita estão querendo acabar com os ditos privilégios de alguns remediados para torna-los pobres ou miseráveis como os demais. É o contraditório nivelamento por baixo. Quanto mais pobreza e miséria houver, mais aparecerá a riqueza e a importância social dos megalomaníacos e dos preconceituosos.







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