São Paulo, 20 de maio de 2004 (Revisado em 14-03-2024)
A propaganda política nem oficialmente começou e já está pegando fogo. No seu horário gratuito, em 13/05/2004, o PSDB bateu forte no PT e especialmente em Lula.
É interessante notar que, até o citado programa, havia a preocupação do PSDB em bater no partido PT e não exatamente nos seus filiados ou nas suas principais figuras. O PFL assim também faz, mesmo sendo o partido em que seus filiados mais foram alvo de acusações de desmandos e até de criminalidade. Essa era a mesma tática de Paulo Maluf do PP (ex-PDS e ex-PPB), que agora está até certo ponto quieto, diante de mais uma daquelas freqüentes acusações de desvio de verbas públicas. O PMDB, apesar de ter alguns acusados de desmandos, está quieto porque agora ocupa boa posição como aliado do PT, o que também fez o PTB, depois de ter incorporado alguns partidos. O PRONA, de Enéas, fazendo agora o papel de “partido de aluguel”, aliou-se ao PFL, o que também fez o PDT de Leonel Brizola, seguindo a mesma tendência do PT e PL, onde se alinharam trabalhadores e patrões.
E assim ficou o confuso cenário político nacional que deu relativa maioria ao governo Lula no Congresso Nacional. Maioria esta não tão forte e absoluta como a que FHC sempre teve durante seu governo, sem precisar fazer acordos com antigos opositores, mas sim com amigos, sempre sedentos de verbas públicas.
Diante da atual situação das alianças político partidárias podemos concluir que de fato o PT é um partido perigoso. Por isso é assim tão veementemente perseguido e combatido pelos principais representantes do poderio econômico. E, tal como os outros, também pode ter ervas daninhas infiltradas em seu plantel. O PT é extremamente perigoso, porque foi o que mais cresceu nos últimos 20 anos e essa tendência de crescimento tem que ser impedida de qualquer forma. Disto depende a vida dos demais partidos e principalmente a de seus ferrenhos opositores. Continuando essa tendência de crescimento do PT, muitos partidos vão ter que trocar suas legendas, tal como fez várias vezes Paulo Maluf, que sempre “compra” alguns dos chamados de “partidos de aluguel”, como forma de conseguir maior espaço no horário gratuito de propaganda eleitoral. Depois das eleições, aqueles partidos comprados ressurgem com novas legendas e as mesmas quantidades políticos eleitos, demonstrando que de fato a fidelidade partidária existe. Ela é apenas rompida momentaneamente por interesses meramente financeiros.
O PT, por sua vez, aprendeu a lição ministrada durante longos anos por seus opositores e faz a mesma política de esmolas à população aprendida com os famosos coronéis, os antigos donos de terras e poderosos políticos no interior brasileiro. Estes incrementavam a pobreza e nas vésperas das eleições davam as esmolas e, para isso, até conseguiram o voto do analfabeto na Constituição Federal de 1988. Esta faceta, agora também utilizada pelo PT, tem deixado a oposição irritada. A irritação será maior se, nas vésperas da próxima eleição presidencial, Lula, como candidato à reeleição, dobrar o valor do salário mínimo, tal como fez João Goulart, quando ministro de Getúlio Vargas, em 1953. Lula pode ainda aumentar abrupta e significativamente os salários dos funcionários públicos, tal como fez Sarney em final de mandato. Assim, se perder a eleição, Lula terá deixado um enorme pepino para as contas públicas, tal como fez FHC com a dívida interna e externa. Ou seja, ninguém está interessado exatamente em resolver os problemas da nação e, sim, em deixar um abacaxi para seu sucessor.
O mesmo acontece nas eleições estaduais e municipais.
Identicamente ao que fez Paulo Maluf quando foi prefeito da cidade de São Paulo, Marta Suplicy deixou as obras públicas para serem incrementadas e inauguradas nas vésperas das eleições municipais, quando também será candidata à reeleição. Porém, a Prefeita Marta, tal como Lula, recebeu uma dívida impagável, neste caso, deixada por Maluf e Pitta. Mas, tal como Luiza Erundina, antecessora de Maluf, conseguiu saneá-la. A herança maldita de Erundina tinha sido deixada por Jânio Quadros. Resta saber se Marta também vai deixar a cidade propositalmente falida, o que Erundina não fez.
Alguns segmentos sindicais também fazem coro com a extrema direita, dizendo que estão decepcionados com Lula porque ele não vem cumprindo o que prometeu aos trabalhadores. Os sindicalistas, ou melhor, os políticos infiltrados nos sindicatos, nada fizeram durante o governo de FHC para melhorar o nível salarial de seus representados e agora querem a reposição salarial de uma só vez. Sabem que isto é impossível, mas assim fazem para conseguir votos para si e para seus pares nas próximas eleições. Devem estar rolando muitas promessas aos dirigentes sindicais, que se curvam ao poderio econômico.
A bem da verdade, durante o governo FHC os sindicalistas até tentaram fazer alguma coisa. Contudo, os meios de comunicação deixaram de divulgar a verdade, procurando ridicularizar os trabalhadores e principalmente os funcionários públicos e agora fazem ao contrário como forma de desmoralizar Lula.
No início da mesma semana do horário gratuito do PSDB, Abílio Diniz (do grupo Pão de Açúcar / Extra) foi ao Jornal da Cultura, da TV Cultura de São Paulo, retransmitido por quase todas as emissoras educativas do país, pretensamente para falar do lançamento de seu livro. Porém, respondendo a uma pergunta estrategicamente inserida no contexto, disse que o governo Lula está no caminho certo. O grande empresário Antonio Ermírio de Morais (do grupo Votorantin) no ano passado referiu-se ao governo Lula dizendo que estava melhor do que o esperado. O agente do FMI em visita ao Brasil em maio/2004 disse que tudo estava indo muito bem, ao contrário do que esperavam os oposicionistas e os repórteres dos meios de comunicação.
É estranho que Lula esteja agradando aos empresários e ao FMI e desagradando os trabalhadores, que sempre defendeu como sindicalista. E esta pode ser a razão do apoio que recebeu de importantes figuras do cenário empresarial e de seus opositores no Congresso Nacional na votação de medidas prejudiciais aos trabalhadores. Segundo dizem, Lula trocou de time. Agora joga com os empresários, por isso o PT aliou-se ao PL.
O vice-presidente da república, do PL, continua criticando a alta taxa dos juros pagos pelo governo, fazendo coro com os demais empresários como ele e com os oposicionistas, que querem ver o circo pegar fogo, para assim conseguirem voltar ao poder. Entretanto, a principal briga do vice é contra o banqueiro que está na presidência do Banco Central, o qual sugeriu ser “o maior sabotador do país”. No governo FHC, aos dirigentes do Banco Central, também cabia tal afirmação.
Ainda em maio, o ministro Palocci, da Fazenda, faz pronunciamento dizendo que a razão de nossa alta dívida é culpa do Plano REAL e não deixa de ter razão. Durante os oito anos de governo de FHC o Brasil pagou altas taxas de juros, bem maiores do que as praticadas agora, embora ainda estejam altas. Mais altas do que as da Argentina, que há pouco tempo chegou à moratória (devo, não nego, pagarei quando puder). Essas taxas de juros estão entre as principais razões do enorme crescimento de nossa dívida interna e externa, sem que nada de palpável tenha sido construído na última década. Aliás, um dos principais erros do governo FHC foi a manutenção da paridade cambial do dólar com o real, o que exauriu nossas reservas monetárias em razão da venda indiscriminada de moeda estrangeira para especuladores e lavadores de dinheiro, sob o pretexto de que estava sendo combatida a inflação e a especulação.
As acusações são feitas por todas as partes envolvidas no processo eleitoral, estão equilibradas e são até certo ponto verdadeiras. O PT não deixa de ter razão quando diz que recebeu um país falido e com dívida impagável. Mas, os opositores também têm razão quando dizem que o presidente não está cumprindo o que prometeu. Mas, se tivesse feito, não teria o apoio do congresso e do empresariado nacional e multinacional. Isto é, não teria oportunidade para governar.
E qual dos seus antecessores cumpriu o prometido? Se sabiam o que devia ser feito, por que não fizeram quando no governo?
Afinal, o governo Lula está fazendo exatamente o que fez FHC, exceto no que se refere às taxas de juros, que vêm sendo reduzidas timidamente, e à manutenção do preço artificial do dólar, que, agora sim, é de fato flutuante.
É claro que o baixo crescimento do PIB brasileiro no ano de 2003, além de outros fatores, também está ligado à desvalorização cambial ocorrida no final de 2002. Se o preço do dólar continuasse mantido artificialmente por volta de R$ 2,00, o Brasil teria crescido, porém, sem aumento das exportações, sem lucro para os produtores agrícolas e sem reservas monetárias. E todo contador ou economista sabe que esta afirmação é verdadeira.
Na realidade, tudo isto está parecendo mais um jogo sujo, onde somente são privilegiados os interesses particulares e a mesquinha cede de poder de algumas figuras da elite política e empresarial brasileira. Esta elite preconceituosamente não admite que um “pobre coitado”, “semi-analfabeto”, tenha chegado à presidência da república.
De outro lado, nesse mesmo jogo sujo está o corporativismo inconseqüente que alguns sindicalistas e funcionários públicos, por acharem que tudo podia ser facilmente conseguido para eles com a eleição de um sindicalista. Porém, mesmo assim pensando, muitos não votaram no sindicalista.
A propaganda política por sua vez está provando ser a grande líder de audiência na televisão brasileira, provando mais uma vez que a programação das emissoras anda bem ruim. No dia seguinte todos comentam o que viram e ouviram no programa eleitoral, para desespero dos apresentadores formadores de opinião, que reclamam da perda de parte de seu horário e que não conseguem convencer a mais ninguém.
É pena que o tempo do programa partidário não seja igual para todos os partidos. Pois assim todos teriam a mesma oportunidade de apresentar suas convicções.