Ano XXVI - 21 de novembro de 2024

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NOVAMENTE AS FRAUDES FINANCEIRAS NACIONAIS E INTERNACIONAIS



NOVAMENTE AS FRAUDES FINANCEIRAS NACIONAIS E INTERNACIONAIS

DESVENDADA A REDE CAPITALISTA QUE DOMINA O MUNDO

São Paulo, 18 de março de 2004 (Revisado em 14-03-2024)

Formação de Cartéis em Paraísos Fiscais.

A grande notícia do início deste mês de março de 2004 foi o acordo para a fusão ou a incorporação da maior cervejaria brasileira por uma belga, que tem ramificações em toda Europa e Ásia.

Na verdade, tal como tem acontecido na maior parte das fusões e incorporações que se tem notícia, a partir da sentida implantação da globalização neoliberal, não tem havido pagamentos em dinheiro nas modificações das participações de capital. Foi exatamente o que aconteceu na aliança das citadas cervejarias. Aconteceu apenas uma simples troca de ações entre os principais acionistas controladores das empresas envolvidas. Dessa forma, pode ser que as contabilidades das empresas envolvidas continuem independentes uma das outras.

Em razão desses acordos, grandiosos grupos empresariais surgiram, controlando largas faixas do mercado nacional em diversos países e também do mercado internacional. Estes acordos geralmente visam o que passou a ser chamado de “administração profissional”, ou seja, uma empresa que comprovadamente tem uma ótima estrutura organizacional e de controle passa a administrar outras menores, que são absorvidas, e os acionistas destas passam a ser novos acionistas da grandiosa.

Isto aconteceu também no sistema financeiro nacional e internacional. Muitos bancos se tornaram imensos e competitivos em razão da incorporação de outros ou da aliança ou fusão com outros. Foi assim que se tornaram fortes os três principais bancos privados brasileiros.

Mas, não são exatamente estas as questões que se pretende abordar.

A notícia da formação da maior cervejaria mundial surgiu com um pequeno detalhe, anunciado pelos participantes brasileiros do novo grupo formado. Para se tornar uma empresa com negócios em todo o mundo, o novo grupo cervejeiro adquiriu uma empresa canadense que distribui a bebida no Canadá, nos Estados Unidos e no México. E assim, segundo foi noticiado, além de estender seus tentáculos por todas as Américas, o grupo passou a ter quase 15% do mercado mundial.

O detalhe a que se quer chegar é o preço pelo qual foi comprada cervejaria canadense e compará-lo com os valores obtidos na venda de nossas empresas estatais privatizadas, dos ramos de telecomunicações e de distribuição de energia elétrica, principalmente.

Inicialmente precisamos fazer algumas considerações quanto aos tipos de mercados desses segmentos empresariais.

Note-se que os segmentos de energia elétrica e de telecomunicações são considerados como possuidores de mercados essenciais, estratégicos e cativos. Ninguém, hoje em dia consegue viver sem energia elétrica e são poucos os que conseguem viver sem as telecomunicações, que é o setor que atualmente mais cresce no Brasil. Nestes segmentos não há riscos de prejuízos e também não há concorrência (as empresas são monopolizadoras em suas regiões de atuação). E ainda foram instituídas agências reguladoras, que nitidamente defendem os interesses das empresas na formação dos preços a serem cobrados, quando deveriam defender os interesses dos consumidores.

Ao contrário, o mercado cervejeiro não é essencial e nem estratégico, embora possa ser considerado cativo tendo em vista que vicia o indivíduo, tal como o cigarro e como outras drogas que são proibidas e combatidas pelas forças policiais nacionais e estrangeiras.

”Proibidas”, é justamente a palavra chave para a questão que se quer demonstrar.

Diante de uma possível proibição do consumo de bebidas alcoólicas, através de uma “Lei Seca”, tal como já existiu nos Estados Unidos da América, torna-se uma temeridade o investimento em uma cervejaria ou mesmo numa fábrica de cigarros, pois, temos visto o esforço governamental para desestimular, por exemplo, o consumo de cigarros, enquanto que também assistimos constantemente organizações e profissionais da saúde alertando para o perigo do excessivo consumo de bebidas alcoólicas, inclusive sugerindo que estas sejam proibidas tal como as demais drogas consideradas ilegais e que também causam dependência. Umas das medidas que o poder legislativo já tomou, e que todas as propagandas de bebidas já veiculam, é que o consumo deve ser executado "com moderação".

Para enfrentar os problemas causados pelas bebidas alcoólicas e principalmente pela inocente cervejinha, o governo de São Paulo chegou a proibir a venda dessas bebidas nos estabelecimentos à beira das rodovias paulistas no sentido de evitar acidentes. Em algumas cidades, seguindo o exemplo estadual, a municipalidade decretou o fechamento de bares em determinados horários para evitar a criminalidade, com sensível sucesso. A maior parte das queixas nas delegacias da mulher é a de espancamento por maridos bêbados. E nos bares as brigas e as mortes são provocadas pelo excesso de bebida.

Diante desses fatos ficam ainda outras questões:

Por que existem tantas brigas entre as cervejarias para conquista de novas faixas do mercado?

Por que gastam tanto dinheiro com propaganda?

Aliás, essa briga é do maior interesse dos meios de comunicação e das empresas de propaganda, para contentamento dos profissionais da área. Parece óbvio que a lucratividade é muito alta, ou seja, bêbado dá muito lucro, além dos problemas causados à sociedade de modo geral. Mas, as empresas estatais privatizadas também dão muito lucro, simplesmente por são monopolizadoras e ainda, ao contrário das cervejarias, têm as agências reguladores estatais que defendem os seus interesses na formação dos preços.

A esta altura, o leitor perguntaria: Afinal, onde estão as fraudes financeiras nacionais e internacionais?

A resposta se dá com uma outra pergunta:

Diante do iminente perigo de proibição do consumo de bebidas alcoólicas e da visível perseguição a estas, por que uma simples cervejaria canadense custaria mais caro do que as estratégicas empresas estatais brasileiras privatizadas?

Onde está o erro? No preço de venda das estatais brasileiras ou no preço de compra da cervejaria canadense?

Do exposto, diante das manifestações dos contrários às privatizações e dos fatos posteriormente apurados, que concluíram que as privatizações foram mal feitas, parece óbvio que as empresas estatais brasileiras foram vendidas por preços bem inferiores aos que realmente valiam, quando comparados ao preço pago pela cervejaria.

Cadê a CPI para apurar tais irregularidades?







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